Porém, a vida continuava, o trabalho no mar era arriscado e as condições do portinho eram más em matéria de segurança. Os acidentes ocorriam e as doenças não perdoavam. A situação mais complexa ocorria quando o falecido ou falecida deixavam filhos pequenos, filhos para “criar”.
Era normal distribuírem as crianças por outros familiares, a começar por aqueles que melhores condições tivessem para assumir o encargo de mais uma boca a alimentar.
A mulher viúva, que já tinha uma vida atarefada, quer na praia, quer em casa, tem de redobrar os esforços para conseguir pôr na mesa o sustento dos filhos que ficaram com ela. A comunidade procura ajudar, ser solidária, mas o esforço maior é dela e dos filhos que lhe devem ajuda; na ribeira mariscando ou pescando, no monte apanhando lenha, desempenhando pequenas tarefas que lhes permitisse ganhar alguma moeda ou uma simples merenda.
No caso de ser o homem viúvo, passado um período razoável de luto, é bem aceite a busca de uma nova companheira viúva ou solteira.
Desde o início do século XIX, até meados do século XX, os recasamentos de viúvos eram proporcionalmente tão numerosos quanto o são hoje em dia os casamentos de divorciados. A maior parte destes recasamentos envolvia crianças de um casamento anterior, pressupondo a existência de um padrasto, de uma madrasta ou de ambos na nova configuração familiar.
Quando era conhecida a intenção de um viúvo ou viúva casarem de novo, havia que “tocar o corno”, uma tradição muito antiga, que ocorria à noite, quando um grupo de rapazes, munidos de um corno de boi, fazia uma bela “serenata” perto da casa do visado. Se este ou esta surgiam ameaçadores, fugiam, para logo recomeçarem noutro lado. Esta actividade repetia-se diariamente até que o alvo dos jovens se dispusesse a pagar uma merenda, ficando assim “sanado” o acontecimento. Esta velha tradição ainda hoje é praticada, principalmente nas aldeias.