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Vila Praia de Âncora não dispunha de um porto de abrigo condigno para as frageis embarcações de pesca poderem demandar terra firme sem terem de as deixar fundeadas fora da "pancada do mar", num fundeadouro conhecido pelo "Sabugo", como sucedeu no dia 20 de Maio de 1964, cerca das 6,00 horas, quando o barco a motor "Rio Âncora" Um "truque" como por aqui lhes chamavam, governado pelo arrais Guilhermino Ribeiro, depois de uma noite de labuta intensa como tantas outras, após amarrado o barco, saltou com os três homens da tripulação para a gamela que os deveria conduzir a terra firme, juntamente com o pescado que haviam capturado.

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Inesperadamente, sem que contassem, foram surpreendidos por uma vaga traiçoeira, logo seguida de outra, que atirou a gamela e o pescado ao fundo e deixou todos os que em terra presenciaram o acidente, na incerteza quanto ao destino daquelas quatro vidas vidas.

No pequeno portinho viveram-se momentos de sobressalto e soaram gritos de angustia e desespero. Invocou-se a protecção da Nossa Senhora da Bonança e, para alívio de todos, o milagre deu-se.

Uma outra embarcação a motor, o "Maria Bina" governada pelo seu dono, o marítimo António de Castro Verde, o "Laró", apesar do risco ser grande, afoitou-se e conseguiu salvar três camaradas de profissão. O quarto elemento da tripulação foi salvo pela boia esférica dos Socorros a Náufragos que foi lançada por alguém de terra.

O cronista do "Aurora do Lima", Alfredo Mourão, natural e residente em Vila Praia de Âncora, que entrevistou o mestre do barco salvador, António de Castro Verde, de 38 anos, dos quais 26 na profissão e 18 campanhas ao bacalhau, exortava as forças vivas da terra para reivindicarem a necessidade urgente da construção de um porto de mar que protegesse os pescadores deste calvário de sofrimento contínuo. Sugeria que se formasse uma comissão representativa que expusesse à autarquia caminhense e ao governador civil, as preocupações e a necessidade urgente de dotar V. P. de Âncora de um porto de abrigo e em conjunto fossem aos ministérios, ao Terreiro do Paço, expôr e pedir uma solução para este problema que todos os anos vitima gente.

Texto do Comandante Manuel de Oliveira Martins, publicado no seu livro "Naufrágios no Mar de Viana". Procedi a algumas pequenas alterações que penso não terem desvirtuado a prosa.

publicado por Brito Ribeiro às 15:18
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