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Mar 15

Na base da saída de pessoas das zonas interiores, estiveram, essencialmente, motivos económicos, daí resultando uma emigração maciça, descontrolada e clandestina, bem como um êxodo rural para o litoral, que originou um rápido e acentuado crescimento das principais cidades portuguesas, Lisboa e Porto. Actualmente a Área Metropolitana de Lisboa tem cerca de 2,8 milhões de habitantes, o que representa 27% da população portuguesa, enquanto a Área Metropolitana do Porto tem cerca de 18% da população total. Ou seja, as duas metrópoles juntas têm praticamente metade de toda a população residente em Portugal. Estes números demonstram sem margem para dúvidas, que temos um país desequilibrado e litoralizado.

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 As causas aliadas à crescente litoralização do país estão relacionadas com a busca de empregos com melhores níveis de salário, melhor qualidade a nível de escolas, universidades, e melhores infra-estruturas e serviços (hospitais, transportes, educação). Também a sua situação geográfica condiciona a maior instalação e o desenvolvimento das actividades económicas, como é o caso de maior diversificação de indústrias e serviços.

Ora, isto acarreta diversas consequências tanto para as áreas de chegada, como nas áreas de partida. Em relação ao aumento da população no litoral, isto leva a problemas de cariz social, uma vez que as cidades vêem chegar grandes aglomerados de pessoas, não estando apetrechadas dos recursos indispensáveis para dar resposta às necessidades de toda a população.

Os empregos tornam-se insuficientes e precários, levando assim a situações de desemprego, e com isto, ao crescente aumento da pobreza e da marginalidade. A litoralização faz com que haja cada vez menos qualidade de vida no litoral, diminuindo a qualidade dos serviços prestados, aumentando a poluição e a pressão demográfica, com todos os problemas que lhe estão associados.

Os problemas das zonas rurais em consequência do êxodo populacional são, entre outros: desertificação de aldeias, envelhecimento da população e decréscimo da natalidade. Com a diminuição da população decresce a arrecadação de impostos, diminui o turismo nestas zonas, perda de costumes e práticas locais, impedindo o aproveitamento de todas as potencialidades dos territórios afectados (recursos naturais, aptidão para a agricultura e agro-indústria, posicionamento estratégico, etc.)

A combinação destes dois fenómenos aumenta os custos para o país, pois os serviços no interior acabam por ser encerrados, com graves prejuízos para os  utentes locais e os serviços no litoral têm de ser continuamente melhorados para dar resposta à população crescente.

O abandono agrícola e a desertificação do interior é, actualmente, uma das principais causas de alteração da paisagem em Portugal e na Europa. Após séculos de uso humano da paisagem, áreas de agricultura marginal estão a ser abandonadas devido à migração para zonas urbanas ou ao envelhecimento das populações.

Se, por um lado, estas alterações limitam a manutenção das práticas de agricultura tradicional de subsistência e a persistência dos mosaicos de paisagem compostos por áreas de agricultura tradicional, matos e pequenos bosques, por outro lado, abrem uma janela de oportunidade para a regeneração natural da floresta nativa que em Portugal sofreu uma regressão intensa após séculos de desflorestação e degradação.

A par com a oportunidade de restaurar a floresta nativa, o abandono de campos agrícolas acarreta também um aumento do risco de incêndio devido à acumulação de biomassa nas áreas abandonadas, o que pode comprometer a regeneração natural da floresta.

Assim, é fundamental descobrir e implementar novas formas de gestão destes espaços rurais, onde a mudança e a transformação são das tónicas mais acentuadas. O abandono da actividade agrícola e o despovoamento são elementos que unem os municípios do interior do País.

Contudo, assiste-se hoje em dia a um ligeiro, mas progressivo, retorno de pessoas às áreas rurais, e estas são designadas “neo-rurais” ou “novos rurais”. Eles constituem um novo capital humano, que procura uma melhor qualidade de vida, mas igualmente querem contribuir para o desenvolvimento destas áreas. Dedicam-se a várias actividades, muitas delas ligadas à agricultura, sobretudo à biológica, mas também ao turismo em espaço rural. Têm sido, sem dúvida, elementos dinamizadores, que devem ser incentivados pelo poder local e instituições governamentais.

Nenhum país não mede o seu grau de desenvolvimento pelo elevado número de pessoas sediadas nas grandes cidades, mas sim, pela sua capacidade produtiva, pelos seus níveis de riqueza.

Por isso, é tempo de mudar mentalidades e apostar noutras áreas, como o Alto-Minho, que possui os diversos recursos indispensáveis ao desenvolvimento de um ambicioso projecto regional. Basta porem os olhos na Galiza!

publicado por Brito Ribeiro às 11:39
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