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08
Nov 14

É com preocupação que vejo as bacias hidrográficas dos principais cursos de água do Alto Minho estarem bastante desflorestadas, originando perda de biodiversidade, erosão do solo e alteração dos ciclos da água, do oxigénio e do carbono. Uma bacia hidrográfica é definida em função de um curso de água e constitui a área em que as águas precipitadas são conduzidas para uma rede hidrográfica, ou seja, é a área total drenada por um rio e seus afluentes.

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 A desflorestação no norte de Portugal é causada quase exclusivamente pelo efeito dos incêndios florestais e com o fim do verão estes saíram da agenda política, para poderem ressurgir na próxima primavera, com declarações solenes da parte do poder, com recriminações da parte dos bombeiros, dança de cadeiras e outras negociatas, que pela frequência dos últimos anos, nem sequer chegam para nos espantar. Retemos fugazmente o horror das imagens, a memória dos dramas humanos e os testemunhos emotivos de quem sentiu as labaredas por perto. No próximo ano haverá mais.

Há muito que sabemos que a produção florestal em Portugal está seriamente condicionada pela ocorrência de incêndios e pela inércia das políticas que surgem frouxas, tarde e a más horas, deixando frequentemente tudo na mesma, com o Estado a dar o pior exemplo em termos de prevenção e regeneração das áreas ardidas.

A perda de biodiversidade, a erosão dos solos e a colonização por infestantes é notória no Alto Minho e o Estado ainda veio recentemente agravar a situação com a publicação do decreto-lei 96/2013, que na prática simplifica a plantação de eucaliptos, dificultando a plantação de espécies florestais autóctones como sobreiros, castanheiros ou carvalhos.

Na Serra D’Arga, por exemplo, aumentam descontroladamente as áreas infestadas de Haquea Cericea, um arbusto espinhoso que tem a particularidade de ser extraordinariamente resistente ao vento, à seca e ao fogo, criando densidades elevadas em grandes extensões. Forma bosquetes densos e impenetráveis impedindo o desenvolvimento da vegetação nativa, afectando a vida selvagem, reduzindo a quantidade de água disponível e aumentando a probabilidade de ocorrência de fogo.

 A erosão é a destruição do solo e das rochas e consequentemente o seu transporte, em geral feito pela água da chuva e pelo vento, destruindo as estruturas que compõem o solo: areias, argilas, óxidos e húmus. Estas estruturas são transportadas para as partes mais baixas das bacias hidrográficas e vão assorear alguns cursos de água.

A erosão destrói, não apenas os solos, mas também as águas subterrâneas e tem-se tornado num problema muito sério, tornando-se necessário que se adaptem determinadas práticas de conservação dos solos. Porquê?

Porque quando os solos são cobertos de floresta a erosão é muito pequena e quase inexistente, além de promover a retenção e infiltração de água no solo. O problema ocorre quando o homem destrói as florestas ou estas são destruídas por factores externos como os incêndios, deixando o solo exposto, tornando-se a erosão severa, que pode levar a alterações climáticas e à desertificação em casos extremos.

Provavelmente muitos dos nossos autarcas tem um sentimento de preocupação acerca da desflorestação e do problema ambiental que ocorre em boa parte dos seus territórios, mas ainda não tem consciência da gravidade da situação, nem a fizeram reflectir na organização regional que agrega os diversos municípios, a Comunidade Intermunicipal do Alto Minho (CIM Alto Minho).

Tem esta organização a competência (e o desafio) não só de estudar e propor soluções para este problema regional, mas também a possibilidade de obter financiamento comunitário para uma grande acção de regeneração ambiental, devolvendo à floresta a capacidade de criar emprego, gerar riqueza e contribuir positivamente para uma melhoria ambiental e da qualidade de vida no Alto-Minho.

 

 

publicado por Brito Ribeiro às 10:58
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