A concessão da prospecção e exploração de lítio, um mineral de importância estratégica para incorporar em baterias de alto rendimento, tem dividido opiniões, tanto mais que uma das zonas em causa é na Serra D’Arga.
A fazer fé nas declarações do Ministro da Economia, Pedro Cisa Vieira, o Governo prepara-se para lançar oito novos concursos até ao final do ano, para exploração de lítio.
Os interesses são imensos e envolvem as maiores empresas de extracção mineira nível mundial. Em Portugal existem minas de extracção de lítio para a indústria cerâmica, mas nenhuma extrai o óxido do mesmo mineral para as baterias dos carros eléctricos, que é o ponto de viragem que tem revolucionado o sector. Espera-se que em 2025 a procura de lítio em todo o mundo esteja nas 300.000 toneladas anuais, necessárias para satisfazer a crescente reconversão da indústria automóvel, na migração entre o motor de combustão e o motor eléctrico. Isso implicará o aumento em dez vezes a necessidade do lítio em relação à procura actual.
É o cenário ideal para a especulação e as grandes empresas mineiras encaram a posse de concessões, como activos seguros de um mineral que já se valorizou 200% nos últimos três anos.
No caso concreto da Serra d’Arga, soube-se que a empresa concessionária terá desistido da prospecção, mas não é seguro que outra empresa não tome o lugar da primeira.
Por outro lado, no Fojo (concelhos de Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez), estão referenciados mais de 70 Km2 de área de prospecção e pesquisa de minerais, designadamente de lítio. Esta área inclui a zona da nascente do rio Vez e a aldeia de Sistelo, altamente valorizada nos roteiros de turismo de natureza.
Seja na Serra D’Arga ou no Fojo, com a exploração mineral de lítio, fica em risco de colapso toda a promoção e valorização territorial, baseado na qualidade do ar, da água, da paisagem e da vida rural, aquilo que alguns gostam de designar como “mosaico de paisagens”.
A importância do lítio não deve ser posta em causa, mas não se pode pôr em risco o potencial turístico da região, nem da qualidade de vida das populações, que veriam o seu cotidiano sofrer brutais alterações e não são as meras promessas de estudos de impacto ambiental que sossegam os corações e as mentes sobressaltadas. Todos nós sabemos o que representam os estudos de impacto ambiental perante os interesses económicos.
É fundamental que os nossos autarcas se posicionem inequivocamente na salvaguarda dos interesses das populações, do património natural e da coesão territorial, sem ceder às pressões políticas e económicas vindas de onde vierem.