Com a chegada da primavera, inicia-se pelo país inteiro um frenesim de festas até às primeiras evidências do outono. As aldeias celebram o seu patrono na igreja e na praça em redor, em alternativa, um santo titular de uma capela secundária na periferia do povoado ou mesmo numa ermida rural, distante e alcandorada em encosta ingreme.
As cidades e vilas mais importantes desdobram as festas, que culminam com a festa municipal ou festa do Concelho, durante vários dias com ajuntamento de forasteiros e emigrantes, para assistirem aos desfiles, eventos musicais e cerimónias religiosas. Para alguns santuários converge parte significativa da população da região, de automóvel, autocarro ou comboio e, muitas vezes, grupos de caminhantes ao som de música popular.
As mulheres decoram os altares, colocam as melhores colchas nas janelas ou à varanda ao passar da procissão, recebem alegremente os familiares de longe e preparam os melhores pitéus para que nada falte à mesa nesses dias. Os homens vestem o melhor fato, assistem à missa, carregam os pesados andores, lançam os foguetes anunciando o festim e, para acompanhar a boa comida, escolhem sempre o melhor vinho, reservado antecipadamente para o efeito.
Nos últimos anos, os guias turísticos focam com particular enfase este aspeto festivo da vida social portuguesa, tornando atraente e simpática aquela “terra” aos olhos dos turistas estrangeiros, exaltando os esplendores da festa, a mais bela da região.
O emigrante, novo ou velho, residente em França ou em Lisboa, tem sempre a intenção de ir à terra por ocasião da próxima festa, mesmo que há vários anos não ponha os pés na sua aldeia.
Como as festas decorrem em volta e em homenagem a um santo, há lugar a promessas que são pagas durante o período festivo, seja em peregrinação, esmola em dinheiro ou em cera.
Mas a romaria não se faz apenas de crentes dedicados a atividades religiosas. A festa tem um lado profano, tem o seu arraial vivido por todos, nas suas múltiplas manifestações musicais, de dança, de barracas de comes e bebes, de tendas com as últimas novidades de vestuário, calçado, brinquedos, ferramentas e, não poderia faltar o fogo-de-artifício e o foguetório a anunciar os momentos mais importantes e mais solenes.
Na espontaneidade da consciência popular, no seu coletivo, a romaria assume um todo, vivo e necessariamente imbricado. Isolar alguns elementos que a compõe, é uma problemática desagregadora, e é aqui que frequentemente surge a tensão entre os organizadores e representantes populares, com a ideologia do clero. Da mesma forma que se visita a capela ou santuário, se paga a promessa e se acompanha a procissão, também se canta, dança, come, luta, se processam encontros de raiz erótica, se instala provisoriamente a vida, se cozinha e se dorme.
A romaria ou a festa da aldeia, tem inculcada uma função económica. Para o comércio local, para os negociantes, para os feirantes e para a igreja. Todavia, no plano familiar e mesmo para a população local, a festa constitui uma realidade disfuncional, pois grande parte é financiada com os seus contributos, sendo os proveitos arrecadados pelos terceiros acima referidos.
A festa do povo é, em suma, um momento de reencontro e de apaziguamento de uma identidade cultural e matricial de uma determinada sociedade. Para nós, portugueses e alto-minhotos, não há festa como a nossa!