Ciclicamente, despontavam surtos de doença que provocavam picos de mortalidade na região. Quando atingia o estatuto de epidemia, afectava principalmente os grupos populacionais mais frágeis e desfavorecidos, como o da Lagarteira, que trabalhavam e viviam em condições de segurança e de higiene mais precárias.
No século XIV a peste negra que varreu a Europa dizimando cerca de 30% da população talvez tenha sido a epidemia mais mortífera, mas outras se seguiram quer no século XVII com diversos surtos de tifo, quer no século XIX com os surtos de cólera que começaram por 1833 e se prolongaram até 1852, resultaram em falta de mão-de-obra, levando à escassez de cereais e ao aumento exponencial do preço destes, decorrendo situações de fome e pobreza, agravando as precárias condições de higiene e subnutrição.
Em 1895 uma epidemia de varíola varre Gontinhães, sendo 60,9% dos óbitos registados na zona litoral da freguesia. Especialmente nos meses mais quentes, as epidemias de varíola e tifo ou difteria, atribuídas aos “maus cheiros” dos estrumes do patêlo, que por ali se costumava empregar como estrume, pelo que as autoridades administrativas ordenaram que este estrume depois de colhido no mar seja imediatamente enterrado a um palmo de profundidade (Rego, 2012).
O correspondente local de “O Jornal da Manhã” refere na sua crónica sobre Gontinhães:
“nesta freguesia há muito a fazer, particularmente no porto de pesca, e nas casas de alguns lavradores que, nada cuidadosos da sua saúde, têm as cortes dos gados vacum e suíno juntas ou por baixo dos aposentos em que habitam e dormem”
Como os cadáveres eram inumados no átrio da Igreja e este já estivesse sobrelotado, o Governo Civil de Viana do Castelo exige à Administração da Câmara de Caminha que proceda de imediato à aquisição dos terrenos necessários à construção do cemitério. Esta delibera rapidamente e por unanimidade na compra 886 m2, mas será a Junta de Paróquia de Gontinhães a efectuar empréstimos e a lançar derramas para custear a obra, que se concluirá em 1897.
Apesar de alguns surtos epidémicos de média dimensão no século XX, é a epidemia de gripe espanhola ou pneumónica que vai marcar profundamente a sociedade portuguesa. Este surto de pneumónica ter-se-á iniciado junto das tropas aliadas no final do conflito mundial de 1914-1918 e rapidamente se espalhado por todo o Globo com a desmobilização dos militares.
Embora estejam registados cerca de 8.000 óbitos no Distrito de Viana do Castelo, é provável que o número real de mortes seja perto do dobro do registado e o número de contágios em Gontinhães, incidia maioritariamente em residentes do Lugar da Lagarteira.
A partir do dia 4 de outubro de 1918 surgiram inúmeros casos de marinheiros, grumetes, marítimos, remadores, fogueiros e barqueiros infectados. Fica claro que estes indivíduos, ligados à atividade marítima, contaminaram os restantes elementos das respetivas famílias, surgindo posteriormente casos de internamentos de peixeiras, criadas, jornaleiras e domésticas.
Assim, parece-nos evidente que esta primeira vaga de pneumónica teve origem, quer ao nível do concelho quer ao nível da paróquia, junto das comunidades marítimas, através de uma constante comunicabilidade com parceiros económicos portuários, em particular de origem galega, apesar de oficialmente estar encerrada a fronteira com Espanha.
A expansão da gripe, reportada pelo Provedor da Misericórdia, iniciou-se nas paróquias que mantinham maior contato com a raia fronteiriça e litoral (Caminha, Gontinhães, Seixas, Moledo, Cristelo), tendo alastrado posteriormente para o interior do concelho.
Esta epidemia acabou por se propagar a outros setores da população, de tal modo que, afetando as demais atividades económicas, se repercutiu no volume da mão-de-obra, em particular afeta à produção agrícola. (Rego, 2012)