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Jul 17

Os dólmens surgem na Europa sensivelmente entre 4000 e 2000 a.C., sendo que na Península Ibérica parece irradiarem da Andaluzia e sul de Portugal para o resto do território.

Estes monumentos megalíticos eram originalmente tapados em forma cónica com terra e pequenas pedras, sendo ao longo dos tempos destapados para pilhagem e já nos nossos dias, para estudo arqueológico.

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O que me leva a escrever este pequeno artigo não é a dissertação sobre estes marcos funerários, mas antes uma reflexão sobre o relacionamento das pessoas com os dolmens, as crenças e superstições que lhe estão associadas.

Andam ligadas a estes monumentos superstições e crendices, levando a que alguns tenham sido utilizados para variados destinos como abrigo de gente e de gado, arrecadação de alfaias, na expectativa de “energias” positivas que protejam até a adaptação a templos católicos. Andam também as antas ligadas a factos de culto com invocações locais e à toponímia local e regional.

Desde sempre o homem acreditou na capacidade dos mortos influenciarem a ação criadora dos deuses e do próprio ciclo da natureza, designadamente no renascimento dos vegetais e das culturas que os demónios e os maus espíritos associados ao inverno fizeram desaparecer.

Esta crença está na origem de muitas práticas relacionadas com o culto dos mortos, que em regra começam em Novembro e prolongam-se até à Serração da Velha, passando pelo solstício de inverno (saturnais) e pelos festejos do carnaval. Os ritos vão variando conforme as celebrações em causa, mas mantem entre si uma finalidade comum, que é assegurar que o ciclo da vida e da morte não se interrompa, ou seja, que ao indesejado inverno, suceda a almejada primavera.

Investigações feitas na área da arqueologia e da antropologia, concluíram que as práticas do culto dos mortos tiveram o seu início na fase de transição do paleolítico para o neolítico, sendo disso testemunho os inúmeros monumentos funerários como os dolmens ou antas e inscrições votivas.

Uma característica curiosa é a orientação da abertura do dólmen, geralmente virada a sudeste, coincidente com o amanhecer do solstício de inverno.

Muitos dos nomes dos dólmens ou antas estão relacionados com entidades misteriosas, que criaram mitos mais ou menos generalizados. Outros porque foram cristianizados os vestígios dos velhos cultos pagãos, adaptando-se a invocações religiosas como templos, nichos e alminhas; há casos em que se contruiu ou ergueu um sinal cristão sobre os monumentos ou ao seu lado, ou ainda, numa manifestação mais evoluída desta progressão espiritual, transformaram a anta em capela.

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Aos mouros são atribuídos pelo povo todos os monumentos arcaicos e suas ruinas, por isso “construíram” as antas e vivem nelas as “mouras encantadas”, que segundo a lenda, carregaram as pedras à cabeça para a sua construção, bem como para pontes, castelos e penedos avantajados. A lenda põe essas mouras encantadas com a roca à cinta para irem fiando, a aturar o tempo e a canseira, ou a amamentar uma criança enquanto transportavam as pesadas pedras pelos caminhos.

Lembro que a invasão mulçulmana na península iniciou-se por volta do ano 711 da nossa era, portanto, cerca de três mil anos após a construção dos ultimos dólmens.

Além das referencias aos mouros encontram-se vestígios de  arcaicos cultos pagãos, apresentamdo-se de duas formas: uma de sentido agrícola, simultaneamente propiciatório e divinatório; outra de utilização divinatória também, mas casamenteira ou erótica, em prática de ritos de fricção e escorregamento.

O que se atribui às grutas, lapas abertas nas pedras, covas fundas e a penedos sobrepostos, as pedras baloiçantes ou “bulideiras”, repete-se nos dólmens: as mouras ou os mouros guardaram aí tesouros encantados de riquezas fabulosas, que os devotos de S. Cipriano ou não, ainda hoje, procuram freneticamente com pás e picaretas.

No Vale do Âncora, além do Dólmen da Barrosa (também conhecida por Lapa dos Mouros), existem outras antas de menor dimensão, mas igualmente representativas desse período da pré história, como a Anta do Santo de Vile, Mamoa da Aspra ou Cova da Moura na freguesia de Âncora, Mamoa da Ereira na freguesia de Afife ou Mamoa do Chão da Pica na freguesia de S. Lourenço da Montaria.

publicado por Brito Ribeiro às 16:02

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