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Dez 16

A música tinha na sua origem uma só função, situando-se apenas nos atos do culto religioso, não sendo expressão de um trabalho ou de um ato comum.

Na renascença, com o aparecimento do compositor, a música começa a rebentar os elos que a acorrentavam gerando a sua libertação, ultrapassando a complementaridade do serviço religioso, passando a alegrar os salões dos reis e dos nobres, nos concertos que tinham por missão divertir e entreter a assistência.

Com o advento do liberalismo nos finais do século XVIII, realizam-se os primeiros concertos públicos, operando-se a mudança rumo à generalização da música.

1912 em gontinhães.jpg

É nesta fase que encontramos a primeira banda de música de Gontinhães, que só em 1924 passou a denominar-se Vila Praia de Âncora.

Por volta de 1850, durante uma fase de desenvolvimento cultural e económico de Portugal é fundada em Gontinhães, por um grupo de “curiosos”, uma filarmónica. Um dos primeiros mestres foi António Alves da Devesa. Esta povoação, tinha o seu principal núcleo populacional afastado do mar, tendo crescido em volta da sua velha igreja matriz. Segundo os censos de 1890, tinha 1804 habitantes, distribuídos por 408 fogos.

Em 1886 ainda com António Alves da Devesa na regência, dois músicos desta filarmónica, Rafael Francisco Martins Pinheiro e Sebastião Domingues tentaram controlar a sociedade e acabaram expulsos pelos demais. Como provavelmente as motivações políticas estivessem na origem do desentendimento, estes elementos acabaram por criar uma filarmónica, passando a distinguir-se por “Banda Velha” e “Banda Nova”.

A Banda Velha era afeta ao Partido Regenerador e a Nova ao Partido Progressista; cada uma tinha a sua claque de apoiantes que se deslocavam aos locais de atuação da sua banda e era raro as duas bandas tocarem juntas. Há até alguns episódios de má convivência e violência ao longo dos anos, nas escassas vezes em que participaram ambas na mesma festividade.

O primeiro mestre da Banda Nova foi Rafael Francisco Martins Pinheiro e em 1891 é Francisco Emílio Gonçalves Preza que assume a regência. Possivelmente, pela mesma época a Banda Velha também muda de mestre ficando a regê-la António Mendonça.

Ainda antes de 1900 há nova alteração na Banda Velha com a saída de António Mendonça que emigra para o Brasil, ficando Domingos António Alves Velho na regência.

Em 1896 fez-se em Gontinhães uma manifestação de apoio aos expedicionários de África, tendo as duas bandas atuado em conjunto e gratuitamente, interpretando o Hino Nacional, sem qualquer incidente.

Em 1903 ambas terão entrado em declínio, provavelmente devido à emigração de muitos dos seus músicos, extinguindo-se algum tempo depois.

1933 festa na ínsua.jpg

Por volta de 1905, Constantino Fernandes Fão, apaixonado pela música e grande bairrista, organiza novamente a banda, que será composta essencialmente por elementos muito jovens. A dirigi-la estará até ao fim da vida, salvo breves interrupções, o seu filho José Fernandes Fão, que vem a falecer em 1933. Em todos os serviços de coro – que nessa altura eram muitos – a regência era de Constantino Fernandes Fão.

Logo após a morte de José Fernandes Fão, surge um movimento organizado pelos músicos mais velhos, para darem continuidade a banda. Convidam Artur Martins Pereira, ancorense e sargento no ativo em Viana do Castelo, que já tinha pertencido à anterior banda. A regência de Artur Martins Pereira prolonga-se até ao início de 1937.

Só a partir de 1933 é que temos dados relativos à forma de manutenção das bandas. São os músicos que pagam as fardas através do desconto no produto das festas, contribuindo igualmente para a compra e reparação dos instrumentos. A divisão dos proventos era da seguinte forma: o mestre tinha direito a oito partes, um músico já feito a quatro, um músico em ascensão a três partes e um iniciado a duas partes.

Em 1937 é contratado para regente da banda Armando Alves Viana que se mantem à frente da banda até aos fins de 1939.

Dois anos depois regressa à direção da banda que estava mais ou menos inativa e em 1942 (18 de Maio) é ele que propõe à direção da Associação dos Bombeiros de Vila Praia de Âncora a integração da banda nessa associação humanitária.

A 30 de Maio de 1942 é incumbido pela direção dos Bombeiros António Afonso Costa para a reorganização da banda nesta associação, sendo tomadas várias iniciativa, designadamente a elaboração de um regulamento interno, que passado pouco tempo viria a revelar-se desadequado. No início de 1943 a banda toca pela primeira vez e pouco tempo depois, Artur Martins Pereira deixa a banda por ter de se ausentar.

Em Março de 1943 assume a regência José Gomes Lomba, que se mantem à sua frente até 1945.

1956 festa em perre.jpg

Em 1946 é contratado Carlos José de Araújo, de Viana do Castelo que se manteve até Março de 1952, ano da sua morte. Ao longo de 1952 foi ensaiador e regente em alguns serviços o mestre José Pedro Martins Coelho, natural de Viana do Castelo. Durante o mesmo período foram efetuados diversos serviços pelos regentes Armando Alves Viana e Teófilo Gualdino Pinheiro.

É nesta fase que a banda se vê obrigada a deixar de ensaiar no edifício sede dos Bombeiros, por motivo de obras, para ocupar a antiga escola primária do Santo, um edifício da Junta de Freguesia e no qual se manteve até à sua extinção.

No início de 1953 é contratado para regente Manuel Adelino Dias, de Viana do Castelo, que se manteve à frente da mesma até à sua extinção a 1 de Janeiro de 1958.

Desde meados da década de quarenta que a banda necessitava de músicos de “fora”, naturalmente mais caros, face ao desinteresse dos mais novos em aprenderem música. Neste contexto e a ausência de apoios por parte da maioria das pessoas da terra, ditaram a extinção da banda de música.

 

Recolha de João Carvalho, Joaquim Vasconcelos, Mário Rebelo de Sousa e Rafael Capela, para o NUCEARTES, efetuada em 1985.

publicado por Brito Ribeiro às 08:56

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