Com mais uma época estival à porta, a “Praia das Crianças” espera os seus utentes, miúdos e graúdos que vem descansar e gozar as delícias do sol, das águas frescas do Atlântico e da brisa fresca do quadrante norte. Assim o permita o S. Pedro, não nos brindando com aquelas nortadas tão características ou pegajosos e tristonhos nevoeiros.
A Bandeira Azul que irá ostentar no alto do mastro maior, representa não só a boa qualidade das águas balneares, como também o esforço conjugado que tem sido feito nos últimos anos para controlar os parâmetros sanitários das águas do Rio Âncora.
No entanto o galardão alcançado não pode enquistar à volta da qualidade das águas e dos equipamentos legalmente exigidos, mas ser mais abrangente, nomeadamente às condições de acessibilidade e à qualidade e limpeza das areias. E aqui reside a razão do meu reparo de hoje. O areal entre o “Redondo” e o “Cais Sul”, lugar conhecido entre os Ancorenses por “Moureiro”, não tem a qualidade a condizer com os pergaminhos da “Praia da Crianças”.
Antes da construção dos molhes do novo Porto de Mar, toda a zona do “Moureiro” era invadida pelo mar nos meses de inverno que trazia e levava areia consoante as condições momentâneas da dinâmica costeira. Assim a areia era lavada, expurgada de poeiras e outros resíduos, pronta a ser utilizada no verão seguinte sem reparos de maior. A crítica que mais se escutava era, por vezes, que o mar não repunha areia suficiente e as pedras ficavam à vista pelo meio do areal. Nada a que os veraneantes não estivessem habituados.
Hoje em dia a situação é diametralmente diferente, pois a areia foi-se acumulando e já não é “sovada” pelo mar, devido ao efeito de corte/desvio de ondulação proporcionado pelos novos molhes. De ano para ano nota-se mais poeira no areal, perdeu o característico tom brilhante e em dias de vento é um suplício com nuvens de poeira no ar. Outro sinal preocupante é a facilidade com que surgem no areal pequenas plantas, sinal inequívoco de condições de colonização vegetal, algo que não era suposto haver naquele local.
Em minha opinião, já se deviam ter implementado medidas minimizadoras deste fenómeno, baixando mecanicamente o perfil da praia em cada outono, de modo a que o mar faça as suas investidas invernais e proceda à remoção das poeiras (ou “finos”) acumuladas, trazendo na primavera seguinte areias devidamente higienizadas.
Além disso, da maneira como a praia está neste momento, com a areia, em vários pontos, quase ao nível da avenida marginal, corre-se o risco de num dia de temporal, com mar de sudoeste, este galgue o paredão, invada a via pública e o casario, provocando danos de vulto. Calculo que o nível da praia neste local tenha subido em média entre 1,5 m e 2 metros.
Termino como como comecei, referindo a satisfação pela qualidade das nossas águas balneares, que levaram à conquista da Bandeira Azul Europeia. Vamos lá a ver se não a perdemos pela falta de qualidade/higiene do areal…