Há um ano atrás escrevi nas páginas da revista "Vale Mais" um artigo sob o título “A impermeabilização dos solos”, no qual apontei algumas consequências daí decorrentes, bem como do estrangulamento ou supressão das linhas de “águas bravas”. O que aconteceu recentemente na vila de Albufeira, no Algarve, foi uma lição eloquente sobre os erros de ordenamento de que grande parte dos municípios é fértil, designadamente os do litoral.
Hoje em dia, começa a alterar-se o paradigma dos projectos relacionados com infra-estruturas básicas, não passando tanto pelas extensões de rede, mas pela correção de erros anteriores e substituição de materiais desapropriados ou obsoletos. No entanto, falta coragem e meios para atacar o problema pela raiz, porque iria colidir com interesses de poderosas empresas ou instituições, com direitos adquiridos e com uma lei, que na maior parte das vezes não defende o Estado, nem a causa pública.
Mais que encontrar desculpas esfarrapadas para consumo mediático, tais como as alterações climáticas (que existem, sem dúvida), é necessário tomar consciência que a culpa pertence ao homem que provoca o desequilíbrio ambiental do planeta, com o somatório de pequenas interações isoladas que todos conhecemos. A fábrica que produz resíduos tóxicos, o efluente de saneamento descarregado no ribeiro, a barragem que alterou o ecossistema regional, o porto de mar que modificou a dinâmica costeira, o entubamento do riacho para facilitar a urbanização, o fogo florestal que destruiu o pulmão da região e provocou a erosão do solo ou o aumento exponencial do trânsito automóvel, são apenas alguns exemplos de questões que nos devem preocupar e que tem de entrar nas agendas políticas dos governantes.
No caso concreto da Bacia Hidrográfica do Rio Minho, a poluição associada às descargas dos efluentes de saneamento doméstico e industrial, bem como a construção de 43 barragens ao longo do seu curso ou dos seus afluentes, transformaram um ecossistema riquíssimo do ponto de vista ambiental, mas também do ponto de vista dos recursos económicos, num curso de água que se debate diariamente com um conjunto de problemas difíceis ou impossíveis de ultrapassar.
Se a poluição tem vindo a diminuir fruto de investimento público em sistemas de tratamento de efluentes, a questão das barragens condiciona em absoluto o ciclo de reprodução das espécies migradoras como a lampreia, o sável ou o salmão. Destes verdadeiros ex-libris do Rio Minho, o sável está em grave declínio, o salmão está praticamente extinto, mantendo a lampreia um nível de capturas mais ou menos estável.
No momento em que escrevo este pequeno artigo, infelizmente as questões ambientais foram suplantadas por uma preocupação maior e de consequências imediatas, o terrorismo, um absurdo que está provocar uma alteração profunda na complexa sociedade da Europa e bacia Mediterrânica.
Saibamos nós dar uma resposta decente aos desafios que nos colocam.