Ambiente, história, património, opinião, contos, pesca e humor

29
Ago 14

A recente decapitação do jornalista americano James Foley elevou o nível de alerta da civilização ocidental para um patamar previsível, mas ainda não realizado. Se a isso somarmos o fuzilamento maciço de militares do Iraque e da Síria, às mãos dos insurgentes islamitas, só temos razões para estarmos preocupados. Duplamente preocupados, acrescento! Por um lado, porque o terrorismo islâmico tem um braço muito longo e pode, querendo, chegar onde deseja. Por outro lado, não posso esquecer que foi George W. Bush e “sus muchachos”, que nos Açores, em 2003, deram o pontapé de saída para a invasão do Iraque, como condição fundamental para a instauração da democracia naquelas terras do fim do mundo.

Ao invés da democracia anunciada, semearam o caos e o ódio ao ocidente, logo aproveitado pelos lunáticos líderes do radicalismo islâmico para pregarem cruzadas contra tudo o que não fosse a interpretação austera dos preceitos islâmicos. Veja-se o caso da Síria, da Líbia e até do Egipto, em que a revolta contra as ditaduras vigentes, colheu a simpatia e o apoio americano e europeu, até se perceber que os revoltosos estavam seriamente infiltrados pelos islamitas, obrigando os mesmos americanos e europeus a “virarem o bico ao prego” e apoiar as ditaduras no poder. No momento que escrevo esta crónica discute-se a possibilidade de os EUA procederem a bombardeamentos aéreos em coordenação com as forças de Bashar al-Assad.

Entre outros sinais preocupantes está o pedido de resgate por parte do autoproclamado Estado Islâmico da Síria e do Iraque, por uma americana sequestrada há cerca de um ano quando desenvolvia trabalho humanitário. Que estado é este e que princípios são estes que usam voluntários abnegados e descomprometidos com os ditames da política e do poder, como escudo, como fonte de financiamento e como moeda de troca para a libertação de terroristas internacionais?

A Europa não pode continuar a reboque dos EUA, nem de tratar estes problemas com pinças, paninhos quentes ou, pior ainda, com retórica. A Europa é uma região tradicionalmente aberta e tolerante, mas isso não pode ser confundido com fraqueza, subserviência e hipocrisia, perante uma ameaça cruel, maldosa e injusta, que viola os nossos princípios civilizacionais, pese embora, reconheça que com os políticos que temos não deveremos esperar muito.

O Mediterrâneo que é uma plataforma geoestratégica fundamental para a Europa e para a sua economia, não pode ser transformada numa rota incontrolável de emigração, que agrava exponencialmente o drama de todos os que procuram fugir da miséria económica e intelectual dos seus países de origem, bem como os problemas dos países de acolhimento, onde são presa fácil de máfias organizadas que os exploram como força de trabalho, onde nunca são assimilados com facilidade pela sociedade e onde acabam invariavelmente por constituir guetos, pasto fácil para o recrutamento subversivo, não raras vezes desaguando na violência, na marginalidade e, em casos extremos, no terrorismo.

publicado por Brito Ribeiro às 11:36
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26
Ago 14

Esta crónica foi escrita há cerca de dez anos e nunca a publiquei, até hoje. Não sei o que me deu (!!!) mas mudei de opinião, talvez por se aproximar a data de aniversário do meu pai que a 2 de Setembro, se fosse vivo, faria 102 anos. Propositadamente não a corrigi e a prosa é bárbara...

 

 

Em 1976 decidi não continuar a estudar, deixei de me enganar e de enganar os meus pais que não mereciam esse embuste de ver o filho todos os dias a sair de casa com os livros.

Fui trabalhar para o Porto, no armazém de artigos de papelaria e escritório, do qual o meu pai era um dos sócios. Esta empresa tinha sido fundada dez anos antes por três colegas, o Ribeiro, o Santiago e o Claudino que trabalhavam noutra firma do ramo, na rua Guedes Azevedo.

Fundaram então a “Sanori”, primeiro na rua Fernandes Tomás e mais tarde na rua do Bonfim, quando a empresa começou a crescer.

Foi nessa empresa que eu aterrei como ajudante de armazém, sem experiência de espécie alguma no ramo. Nem nesse, nem em nenhum outro!

Tinha duas colegas, a srª Cândida que era mais velha e que tinha também trabalhado na anterior empresa com o meu pai e os outros dois; a outra caixeira de armazém chamava-se Eva, uma rapariga toda despachada, que morava ali perto.

Foram elas que me ensinaram os primeiros passos do ofício. A minha última tarefa de cada dia, era varrer o armazém, tarefa que elas gostariam de me aliviar, mas que esbarrava na intransigência do meu pai que dizia “o mais novo é que faz a limpeza, sempre foi assim e não é por ser o meu filho, que mudam as regras”. Mais nada, o velho era rigoroso, mas justo.

 

Aos poucos, fui aprendendo a tratar das encomendas que os vendedores traziam, aprendi a embalar e como já tinha carta de condução, comecei a fazer entregas e despachos. Naquela época, as encomendas eram despachadas por camioneta ou por comboio, assim eram entregues em todo o país, excepto nas ilhas, que eram enviadas através dos transitários, que as despachavam por barco.

Dos três sócios, o Ribeiro era o principal vendedor, o Claudino dava um jeito no armazém e também vendia e o Santiago estava no escritório a tratar dos papéis e das “massas”.

Quem realmente puxava pela empresa era o meu pai, que teve, a dada ocasião, de baixar substancialmente o ritmo de trabalho, porque teve um enfarte do miocárdio. Foi aí que começaram a experimentar-me como vendedor, primeiro com meia dúzia de clientes, nos arredores do Porto e depois em Trás-os-montes e no Douro.

Eu achava uma certa piada ao Claudino, que era um tipo cómico e muito azelha. Talvez por isso é que lhe chamavam “o aranha”. Se era preciso qualquer coisa, assim de repente, o Claudino começava a dar voltas e mais voltas, como uma barata tonta. O homem era um espectáculo e no armazém, pouco ou nada fazia, a não ser estorvar quem lá trabalhava.

O Santiago era o contrário, um indivíduo frio, calculista, que sabia o que queria e o que fazia. Era muito religioso e a certa altura começou a meter-se nos cursos de cristandade, retiros espirituais e coisas desse género. O meu pai tinha uma grande amizade por esse indivíduo e tratava-o quase como um filho ou um irmão mais novo, o irmão que ele nunca tivera.

Eu nunca simpatizei com ele, de início era uma coisa algo irracional, pelo menos não conseguia explicar, por fim tive razões mais que suficientes. O homem nunca me tinha feito mal, a amizade que o meu pai lhe dedicava também não me afligia, mas nunca fui na “bola” dele.

Eu era vendedor a tempo parcial, andava em Trás-os-Montes e no Douro durante duas semanas, voltava para o armazém e lá ficava um mês. Dava-me um “jeitaço” porque recebia comissões sobre as vendas efectuadas, o que significava mais uns cobres para derreter. O Ribeiro vendia no Minho que era a melhor zona, eu vendia no interior norte e o Claudino fazia o resto do país, a um ritmo de “aranha”. Verdade seja dita que eram muitos clientes para visitar. Uma vez por ano, na primavera ia à Madeira e aos Açores vender e por lá “pastava” quase um mês.

 

Entretanto, decidiram comprar umas máquinas de fazer agrafes e passei a tomar conta da produção, o que me dava algumas dores de cabeça, porque era necessário estar constantemente a conferir a qualidade dos “pentes” fabricados. Era necessário muito rigor, andava sempre com o micrómetro e o “peclisse” na mão, a medir isto e aquilo.

Cada vez se vendiam mais agrafes, cada vez nós produzíamos mais quantidades e mais referências, até que concluíram não ser possível continuar com a fabriqueta daquela maneira.

Eu tinha de trabalhar no armazém, tinha de produzir agrafes e tinha que vender, o que significava que as máquinas paravam durante o tempo em que me ausentava. O espaço onde estavam instaladas, tinha sido tirado ao armazém e fazia cada vez mais falta. O barulho era ensurdecedor e não era possível coexistir a produção e o armazém no mesmo espaço.

Foi então que o Santiago veio com a história que o sogro dele queria arranjar qualquer coisa para investir e ele tinha um primo que precisava de trabalhar, tendo proposto aos sócios ficar com as máquinas, montar a fábrica com o sogro no quintal, lá da casa dele. Conseguiu artes de convencer os sócios que era um bom negócio para todos e assim, comecei a dar formação ao tal primo dele, o Mário, um rapaz excelente, que gostei muito de trabalhar com ele. Não saía ao primo!

Regressei ao meu trabalho do armazém e às vendas durante mais algum tempo, até que me entregaram a zona das Beiras e parte do distrito de Santarém. Deram-me uns bons ossos para roer, pois fazia quilómetros sem fim e a rentabilidade era baixa, mas alguém tinha que fazer aquilo!

Foi quando deixei de prestar serviço no armazém e me tornei um vendedor a sério. Começava em Chaves e Bragança e vinha por ali abaixo até Castelo Branco, virava para oeste e ainda fazia Tomar e arredores.

 

Em 1980 casei e no final de 1982, o meu pai que já tinha uma idade considerável, decidiu vender a sua parte na empresa, aos outros dois sócios, o Claudino e o Santiago.

A Sanori era então uma pequena mas próspera empresa, com uma carteira de clientes sólida, não devia nada a ninguém e o armazém estava recheado de mercadoria. Pagava a tempo e horas aos funcionários e aos fornecedores, tinha pela frente um futuro, aparentemente tranquilo.

O negócio que o “meu velho” fez foi, em minha opinião, uma “droga”, pois vendeu a sua cota baratíssima, apesar de haver gente interessada em pagar-lhe um valor superior, teimou em cedê-la aos sócios, com a condição de se manter como vendedor durante três anos, o tempo estipulado para os novos patrões lhe reembolsarem o capital. Vendeu barato e às prestações, que raio de negócio!

A surpresa surgiu ao fim de dezasseis meses quando inesperadamente abriram falência, uma falência provocada pelo Santiago, que descapitalizou ao limite a empresa, sem que "o aranha” do Claudino se apercebesse.

Se o individuo já roubava quando eram três sócios, depois do Ribeiro sair, foi “à farta e à bruta” e nem sequer teve pejo em ameaçar a funcionária do escritório, a Maria Aldina fazendo-a involuntariamente (ou não) cúmplice da sua pulhice, com mais uns trocos ao fim do mês.

Foi a primeira vez que vi o meu pai de “orelha murcha”, face à traição, ao abuso de confiança e à vigarice daquele indivíduo, que tanto estimava. Apetecia-me atirar-lhe qualquer coisa do género “está a ver, eu bem lhe dizia”, mas não tive coragem de o repreender nessa ocasião, pois o seu ânimo já estava de rastos. Quando regressávamos a Âncora, após termos ido pela última vez à empresa, entregar os carros e as colecções de mostruários, no comboio, ele disse-me:

- António, nunca mais fales desse filho da puta na minha frente.

Chocou-me porque ele não era pessoa de utilizar essa linguagem e para mais, quando o meu pai me chamava António é porque estava a falar muito a sério; dali para a frente se por casualidade, lá em casa, alguém se referia a esse gajo, olhávamos um para o outro e procurávamos, de qualquer maneira, desviar a conversa para outros temas. Era um pequeno segredo só nosso, se ele queria pôr uma pedra no assunto, não era eu que o ia contrariar.

Para o desemprego foram todos os trabalhadores, o meu pai ficou sem o dinheiro e eu entreguei o meu caso ao contencioso do Sindicato dos Técnicos de Vendas, que foram impecáveis, conseguindo reaver praticamente toda a indemnização a que tinha direito.

Nunca mais vi os meus antigos patrões, nunca mais soube nada deles, desde 1984, quando isto aconteceu. A única colega com quem contactei, alguns anos depois, foi a srª Cândida, porque veio de passeio até Vila Praia de Âncora e não se esqueceu de me visitar.

Se calhar, pelo exemplo do Santiago, é que ainda hoje, salvo raras excepções, olho com muita desconfiança para os gajos que se armam em beatos, sempre a bater com a mão no peito e a correr para a Igreja.

É que se ainda não a fizeram, estão a preparar-se para a fazer!

publicado por Brito Ribeiro às 14:31

01
Ago 14

Embora de forma breve, já fiz parte do Orfeão de Vila Praia de Âncora. Não propriamente do orfeão, leia-se grupo coral, mas da secção de teatro. Nunca tive voz para cantorias, nem jeito para dançar, mas a certa altura convenci-me que tinha alguns dotes de representação. Se calhar convenceram-me, já foi há tanto tempo…

Não recordo o ano com exactidão, mas foi pouco depois do 25 de Abril. Disso tenho a certeza!

Tudo começou com o Padre Marinho. A direcção do Orfeão “engatou-o” para director artístico do grupo de teatro e para arranjar gente capaz de dar vida àquela secção, já que ninguém queria pegar naquilo.

A cisão no Orfeão, que deu origem à criação do Etnográfico de Vila Praia de Âncora, ainda estava muito fresca e notava-se uma certa indefinição, alguma letargia, mas também muita determinação por parte de alguns elementos. Eu é que não tinha nada a ver com aquilo, mas anui com entusiasmo ao pedido do Marinho, para participar numa peça que ele queria levar à cena.

Deixem-me abrir um parêntesis para vos explicar quem era o Padre Marinho. Os da minha idade lembram-se dele, mas os mais novos não o conhecem. Era pároco em Âncora, seria, no máximo, dez anos mais velho que eu e alinhava com a malta para tudo, perdão, para quase tudo e conseguia dizer a missa em dez minutos, tipo Pepe Rápido!

Era proprietário de um Datsun 1200 e achava-se um grande condutor, o que não era bem verdade. Felizmente nunca teve nenhum acidente, mas que arriscava um bocado, arriscava! Resumindo, era o que se costuma designar por “gajo porreiro”.

Mas dizia eu, que fui parar ao grupo de teatro do Orfeão de Vila Praia de Âncora juntamente com mais um punhado de amigos, mais ou menos a malta que andava a estudar no Liceu de Viana, o “nosso” grupo.

Recordo a Fernanda Neves e a Fernanda Bouças, a Carla e a Nela, o Chico e o Churriba, o Zeca do Morrosó, o Zé da Linha, a Ilda, o Cândido e o Aristides. De certeza que havia mais alguns, mas de momento não me recordo. Como éramos todos novatos em teatro, excepto a Fernanda Neves que já tinha alguma experiencia, o Marinho decidiu ensaiar uma coisa “ligeira” e “fácil”, uma peça de Bertold Brecht, muito em voga nos meios intelectuais de esquerda da época e que se chamava “O que diz sim e o que diz não”.

Uma peça em dois actos praticamente iguais, que só eram diferentes nos cinco minutos finais (do segundo acto). De fácil não tinha nada, nem para os actores, nem para os espectadores, que ficavam completamente baralhados ao começar o segundo acto e ouvirem tudo com no princípio. Mas para uns actores de gabarito como nós, estava tudo bem!

Depois de dois ou três meses de ensaios, com muita borga pelo meio, foi marcada uma saída para participar no Encontro de Coros na Covilhã; o grupo de danças e o grupo de teatro também iam para dar um espectáculo numa aldeia vizinha.

Foi durante uma madrugada do mês de Junho que entramos para o autocarro, cruzamos o Rio Âncora pela Ponte de Estrada Real e rumamos para sul. Se aqui em Vila Praia de Âncora estava bom tempo, conforme nos aproximávamos da Covilhã a canícula ia aumentando, até se revelar um calor abrasador.

Fomos directamente para Unhais da Serra, a tal aldeia que afinal não ficava assim tão perto e lá demos o nosso espectáculo, durante o qual os espectadores barafustaram ruidosamente com frases do género “Estão outra vez a repetir a mesma merda” ou “Que c… de teatro é este?”. Foi uma barraca completa, apesar de não nos enganarmos e fazermos tudo direitinho!

A seguir actuou o grupo de danças que teve de dançar num ringue de patinagem, porque o palco onde nós actuamos era muito pequeno. Assim passamos a tarde à espera do jantar que nos ia ser servido lá em Unhais da Serra. Uma aldeia serrana, os sabores da natureza e nós a contar com os chouriços, as broas, os presuntos, aquele vinho da Cova da Beira…

Afinal, serviram-nos sandes de alface e tomate, água e vinho de garrafão, do mais reles que havia na mercearia. Foi uma grande desilusão e uma grande barrigada de fome.

Regressamos à Covilhã de orelha murcha, a tempo do grupo coral actuar à noite, mas ainda não sabíamos onde iríamos pernoitar. O calor continuava e nem com a noite refrescou.

No final do espectáculo, de regresso ao ponto combinado, junto do autocarro, ainda ninguém sabia onde se iria dormir, logo havendo alguns elementos que decidiram abalar para uma pensão próxima.

Por fim, já depois da meia-noite, apareceu um tipo da organização que guiou os homens até uma escola e as mulheres até um convento. Ahh… Pensavam que ficava tudo junto? Não, não, eram outros tempos e não havia essas confusões! Até havia, mas não se dava tanto nas vistas, percebem?

 

Ainda bem que estava calor, porque o alojamento resumia-se a uns colchões de espuma espalhados pelo chão nas salas de aula, às quais tinham tirado as mesas e as cadeiras. Acho que adormeci madrugada alta, pouco antes de nascer o sol, tendo passado o tempo a fazer todo o tipo de patifarias possíveis. Ainda recordo de ter ajudado a trazer um camarada (com colchão e tudo) para o jardim onde continuou a dormir placidamente, em cuecas.

De manhã cedo, andava o Vasco Moreira, que tinha idade para ser nosso pai, de clarinete em punho, passando pelas salas a acordar a malta, sendo recebido com toda a cerimónia, própria para estes casos “Ó Vasco, mete a gaita no cu”, vai acordar o c…” e outros mimos do género.

O meu pequeno-almoço foi num café perto da praça do município e ao qual voltei muitas vezes, mais tarde, no decurso da minha vida profissional, sempre que pelo sopé da serra pernoitava. Uma sande de queijo e um fino, uma imperial, com se diz para aqueles lados, para espanto do empregado, mais habituado a servir galões e torradas pela manhã.

Depois de todos reunidos, mais uma vez à volta do autocarro, lá arrancamos serra acima, o autocarro ronceiro que fumegava em cada curva, a dúvida residia em saber se conseguiria ultrapassar os desníveis do percurso. O local escolhido para o convívio dos Coros, já passadas as Penhas da Saúde, era aquele vale glaciar enorme, antes da subida para a Torre.

Aí assistimos a uma missa campal e conseguiu-se pôr todos os coros a cantar um hino conjunto. Não estou certo, mas seriam mais de mil e quinhentas pessoas.

No final havia o piquenique e o regresso a casa. Como no dia anterior tínhamos passado fome de cão, ansiávamos por esta refeição, até porque o ar da serra puxa pelo apetite. Não recordo o manjar, recordo a fome com que continuei e a “fita” que foi chegar ao camião onde estava o vinho.

Tudo em fila, de copo na mão, aguardando pacientemente a vez para abrir a cobiçada torneirinha. O Professor Laurentino Monteiro é que não foi de modas, ao chegar a sua vez, bebeu logo dois ou três copos seguidos, começando a ser imitado por muitos outros. Se a bicha andava devagar, passou a andar ainda mais devagar, para desespero dos sequiosos orfeonistas.

No regresso, paramos em Coimbra ou arredores, para comer qualquer coisa ,pois a larica era muita e a viagem iria durar mais algumas horas.

Recordo uma viagem animada, com muita música, muita cantoria e muita brincadeira, novos e velhos irmanados na amizade e no companheirismo.

 

Esta foi a minha primeira e ultima saída com o Orfeão, ainda demos mais um ou outro espectáculo pelos arredores, mas o Marinho acabou por admitir que a peça era “difícil”, face aos repetidos e pouco abonatórios comentários dos espectadores e à nossa recusa em continuar a fazer o papel de bombo da festa. Decidiu ensaiar outra peça, “O espantalho” que ainda era pior que a anterior e por isso deixei de ir aos ensaios, nunca mais retomando o contacto com o grupo de teatro.

Aos poucos, todos foram desistindo, o próprio Marinho também abandonou, assim se perdendo a oportunidade de motivar e de formar gente que pudesse encenar com regularidade peças interessantes. Por mim, peças do Brecht… não, obrigado!

 

 

 

 

 

 

 

publicado por Brito Ribeiro às 16:21
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