Ambiente, história, património, opinião, contos, pesca e humor

22
Mai 14

«...a sua absoluta probidade política, a sua invulgar intuição clínica para diagnosticar e curar com os remédios rudimentares de há mais de meio século, a sua devoção humanitária à profissão de médico, da qual fazia um apostolado, impunham-no à admiração, granjeavam-lhe a amizade e o carinhoso respeito de todos...»

 

João de Barros Morais Cabral (1)

 

Luís Inocêncio Ramos Pereira nasceu a 18 de Setembro de 1870 na cidade do Porto. Era filho do comendador José Bento Ramos Pereira, natural de Riba d'Âncora, e de Maria Gertrudes da Silva Pereira.

Estudante prodigiosamente dotado, destacou-se como um dos primeiros representantes do Partido Republicano Português em Caminha. Formou-se depois em Medicina (1897), na Escola Médico-cirúrgica. Ali, ao terminar a carreira escolar, defendeu e publicou a tese «Algumas Palavras sobre a Anesthesia Cocaïnica». Desde então, ocupou vários cargos: Médico em Vila Praia de Âncora, Paredes de Coura e dos Caminhos de Ferro do Sul e Sudeste (1910), Administrador da Companhia do Niassa, Deputado à Assembleia Constituinte por Viana do Castelo (1911-1925), Inspector da Procuradoria de Lisboa, Provedor da Assistência em Lisboa (1913) e Senador da República (1913-1926).

Desempenhou um papel importante no Congresso, foi membro da Comissão de Agricultura, autor do projecto de lei para alterar os contratos de 27 de Setembro de 1904 e 4 de Março de 1907 sobre a construção e exploração dos caminhos-de-ferro de Braga a Guimarães, Braga a Monção e Viana a Ponte da Barca. Na sessão do Senado da República, no dia 27 de Fevereiro de 1924, apresentou um projecto de lei com o objectivo de elevar à categoria de vila a freguesia de Gontinhães:

 

«Senhores Senadores. — A freguesia de Gontinhães (Praia, de Âncora), do concelho de Caminha, tem progredido consideravelmente a ponto de ser a mais populosa do concelho.

É um grande centro comercial e industrial e tudo faz antever que num futuro muito breve deseje a sua autonomia administrativa, a fim de o seu desenvolvimento mais se acentuar.

Estância de turismo, como é, tem a sua comissão de iniciativa que carinhosamente estuda os projectos que hão-de facultar a Âncora o lugar de uma das nossas primeiras praias.

As condições naturais são de primeira ordem e talvez se possa afirmar que poucas serão as praias portuguesas que as tenham melhores.

Com a sua população de cerca de 3:500 habitantes está bem nos casos de ver as suas prerrogativas aumentadas e, prestando preito aos laboriosos filhos de Gontinhães (Praia de Âncora), tenho a honra de apresentar ao vosso critério o seguinte projecto de lei:

Artigo 1. ° Elevada à categoria de vila a freguesia de Gontinhães (Praia de Âncora), a qual se ficará denominando Vila Praia de Âncora.» (2)

 

Com o parecer favorável da Comissão de Administração Pública, a proposta foi aprovada por unanimidade na Câmara de Deputados, na sessão de 2 de Julho de 1924.

A população de Vila Praia de Âncora encontrou em Ramos Pereira não só um ardente defensor dos seus interesses, mas um grande médico amigo dos humildes, um homem de carácter, de valores sagrados. Para ele, a trilogia «liberdade, igualdade e fraternidade» tinha um amplo e profundo sentido na vida quotidiana.

Em 1918-1919,quando o país foi varrido por um surto de gripe, a «pneumónica», abandonou a capital e foi socorrer os doentes de Gontinhães, Afife, Moledo, Perre, Cristelo, Vile, Carreço e Caminha, sem esperar recompensa alguma aos cuidados que oferecia. De dia ou de noite, deslocava-se a pé, de comboio, de bicicleta ou em carro de cavalos. «Não cobrava contas, e algumas vezes ainda deixava aos pobres dinheiro para caldos e remédios» (3).

Nunca abandonou as gentes e a terra do seu pai. Afeiçoou-se para sempre à paisagem azul, ao mar, à comunidade piscatória, à vila. E lá está, mesmo depois da morte, que ocorreu em Lisboa, no dia 22 de Julho de 1938, a dormir o sono do descanso em campa rasa.

 

NOTAS

(1) João de Barros Morais Cabral. Natural de Vila Praia de Âncora. Juiz-conselheiro do Supremo Tribunal da Justiça.

(2) Diário da Câmara dos Deputados, Sessão de 2 de Julho de 1924

(3) Alexandre H. S. Rodrigues, Traços Biográficos (em prosa bárbara) do Dr. Luís Inocêncio Ramos Pereira e do seu Pai José Bento Ramos Pereira, Edição de Autor, Viana do Castelo, 1970, pg. 28

 

Texto original publicado em http://luisdantas.skyrock.com/2761731020-LUIS-INOCENCIO-RAMOS-PEREIRA.html acedido em 22-05-2014

publicado por Brito Ribeiro às 15:37
tags:

Maio 2014
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3

4
5
6
7
8
9
10

11
12
13
14
15
16
17

18
19
20
21
23
24

25
26
27
28
29
30
31


subscrever feeds
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO