Os números do primeiro trimestre de 2013 da economia portuguesa são esclarecedores e aterradores: O consumo caiu 6,3%, o PIB 4%, o investimento 16,8% e cerca de cem mil pessoas caíram no desemprego que já ultrapassa os 17,8%, a terceira maior taxa da Europa, logo a seguir da Grécia e da Espanha.
Tudo isto vem a propósito porque o FMI reconheceu na semana passada que cometeu “erros grosseiros” na aplicação doo programa de austeridade da Grécia.
Como português escaldado com as mentiras, as incompetências e as trafulhices que os últimos Governos nos têm brindado, pergunto a mim próprio se esses erros na Grécia não se terão estendido a Portugal e aos restantes países em situação de resgate financeiro. Esta é uma pergunta meramente retórica para a qual conhecemos perfeitamente a resposta. É claro que os erros na Grécia são idênticos aos erros cometidos em Portugal, reiteradamente defendidos e aplaudidos por Passos Coelho, Gaspar, Cavaco e companhia.
E o resultado está espelhado nos números da economia atrás apontados, que configura o maior absurdo da história de Portugal. A situação do país está hoje pior que nas ultimas décadas da monarquia ou do que durante a 1ª República, com preocupantes situações de fome, de desemprego e de falta de esperança no futuro, tanto para jovens, como para menos jovens, com perca generalizada de benefícios sociais, aumento brutal de impostos, aumento da precariedade de emprego, cortes cegos nos cuidados de saúde e na educação, etc..
Voltando à questão do FMI e dos tais “erros grosseiros”, será que basta um simples pedidos de desculpa tipo, “desculpem lá, enganamo-nos” ou “para a próxima corre melhor” para corrigir o mal que fizeram a milhões de pessoas. Então os ideólogos deste reajustamento centrado exclusivamente na austeridade, como António Borges (esse crânio brilhante!!!), Vitor Gaspar (outro crânio que não acerta uma) e outros experimentalistas liberais do PSD, que tem agora a dizer?
Que é “hora de investimento” e a retoma é daqui a meia dúzia de meses, enquanto o Estado continua a ser espoliado das poucas empresas que lhe restam e que ou dão lucro, ou são estratégicas, ou estão em situação de monopólio e por isso mesmo alvo de cobiça dos grupos endinheirados da China, do Brasil ou de Angola. Claro que as empresas públicas afogadas em swaps e quase permanentemente em greve (e que ninguém as quer), não deixam de apresentar as facturas que todos pagamos. Mas pagamos essas e pagamos as parcerias público privadas, pagamos a roubalheira do BPN, pagamos as asneiras de um investimento público para agradar a clientelas políticas e a empresas financiadoras de campanhas eleitorais e pagamos as benesses de uma classe política arrogante, incompetente e (em muitos casos) permeável à corrupção e ao favorecimento.
Por isso não compreendo como se podem regozijar e anunciar como um “grande êxito” a ida ao mercado pedir dinheiro a um juro de 5,6%, uma taxa insuportável para uma economia que vai cair este ano, pelo menos 3%.
Não compreendo como podem anunciar a “hora do investimento”, sem uma reforma fiscal atractiva, sem uma reforma judicial que introduza celeridade aos processos e à aplicação da justiça. Não compreendo como se pode falar da reforma do Estado e nada se faz para eliminar as barreiras aos licenciamentos, porta de entrada da corrupção e do clientelismo, seja nas autarquias, seja no poder central.
Rendo-me! Há tanta coisa que não compreendo nesta forma de governar, que a cada dia que passa me parece que este país já não é o meu, mas de meia dúzia de gurus, iluminados pelas bíblias do liberalismo e dos mercados, onde os cidadãos são apenas peças descartáveis e meros números que povoam as estatísticas.