Ambiente, história, património, opinião, contos, pesca e humor

29
Mai 13

“As praias portuguesas estão a perder areia e as barragens são as grandes responsáveis pela situação”, alerta o hidrobiólogo Adriano Bordalo e Sá, docente da Universidade do Porto e investigador do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

Dando como exemplo a bacia hidrográfica do Rio Douro, que tem ao longo do seu curso cerca de 50 barragens e que transporta anualmente cerca de 250 mil toneladas de areia em direcção ao mar, quando há 60 anos transportava na ordem dos dois milhões de toneladas de areia por ano. Portanto, oito vezes mais.

Falta pois a areia vinda de terra para o mar e, quer o Governo, quer os investigadores, quer as concessionárias das barragens sabem disso. O Governo até reconheceu o problema, mas tem-se limitado a fazer recargas de areias nos locais mais críticos, de modo a evitar que maresias mais violentas provoquem prejuízos maiores.

No que toca ao Governo, este tal como os anteriores, tem uma atitude reactiva e não pró activa, servindo os carregamentos de areia como solução transitória para manter as praias utilizáveis durante o Verão, porque o mar volta regularmente a levar a areia.

A solução em relação às barragens passará por fazerem descargas de fundos. No entanto, esta operação pressupõe a perda de volumes consideráveis de água e as empresas que exploram as barragens não estão dispostas a isso.

No que nos diz directamente respeito, a situação do Rio Minho é em tudo idêntica ao Rio Douro. Com efeito, o Rio Minho é “travado” por cerca de 45 aproveitamentos hidráulicos existentes ao longo da sua bacia hidrográfica, que retem grande parte do caudal de inertes, ficando estes depositados a montante das barragens.

Ao contrário do que nos querem fazer acreditar, a hidroelectricidade não é verde e tem custos ambientais imensos (este tema irei desenvolvê-lo numa próxima oportunidade).

Outra questão prende-se com a falta de ordenamento da orla costeira. O desafio actual consiste em minimizar a erosão, através de uma gestão mais eficaz, quer protegendo e recuperando sistemas dunares ainda existentes, quer demolindo construções que o POOC (Plano de Ordenamento da Orla Costeira) contempla.

E no Concelho de Caminha temos matéria mais que suficiente para reflectir, nomeadamente nas praias da Gelfa ou Moledo.

Também, quando falam de projectos de navegabilidade do Rio Minho, é claramente sobrevalorizar o acessório, fazendo vista grossa ao essencial, algo que apenas compreendo pela proximidade de um acto eleitoral, pela necessidade de preencher agenda política e pelo crónico desprezo pelas questões ambientais.

“É preciso ter coragem de forma a proteger o bem comum, em detrimento do bem particular”, defende Bordalo e Sá. Eu acrescentaria que é necessária a coragem de dizer "não" a gente economicamente (e politicamente) muito poderosa, é preciso ter bom senso e visão de futuro, além de uma dose generosa de humildade perante a natureza e as suas especificidades.

publicado por Brito Ribeiro às 16:13
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09
Mai 13

Vila Praia de Âncora engalanou-se para a festa da flor, com cor e alegria, deixando para trás aqueles pendões e cruzes funestas, exibidas durante a Páscoa.

Em termos estéticos parece-me que o saldo é positivo e não desprestigia ninguém copiar bons exemplos, pelo contrário, evidencia aprendizagem.

No entanto, há aspectos que tem de ser ponderados. Desde logo o tipo de materiais utilizados é pouco amigo do ambiente. O plástico para a confecção das flores gera um resíduo que, se não for devidamente reciclado, perdura no ambiente por dúzias ou mesmo centos de anos e o alumínio tem um ciclo de vida ainda mais longo. Espero sinceramente que tenha sido previsto pela organização, quando desmontarem os ornamentos, uma solução ambientalmente sustentada e minimizadora do impacto ecológico.

A divulgação e publicitação de Vila Praia em Flor foram incipientes, daí resultando um evento apenas para consumo interno e alguns turistas casuais, bem ao contrário da Festa do Alvarinho, por exemplo, amplamente divulgada e que encheu Melgaço com uma multidão de forasteiros.

Qual foi o ganho em termos económicos da Vila Praia em Flor para a área empresarial? Diminuto, certamente. Atrevo-me a dizer, insignificante. Reparei até que o comércio nem sequer alargou o horário de funcionamento.

Esta constatação deixa-me uma interrogação. Será que vale a pena realizar eventos que dão imenso trabalho a produzir, que ficam caros e que depois não aportam um rendimento adicional ou que, no mínimo, traduzam um aumento de notoriedade da terra, das instituições e das suas gentes?

A dúvida subsiste e uns dirão que vale a pena o esforço de tantas e tão abnegadas vontades. Outros dirão que é ano de eleições e vale tudo para cair nas boas graças dos eleitores, derreados pelo peso dos impostos e pelo aumento galopante do desemprego, que este desgraçado Governo nos tem proporcionado.

Quanto a mim, a questão reside no caracter imediatista e efémero deste tipo de animação sociocultural, saltando de evento em evento, com o perigo real de transformar a Câmara Municipal numa imensa e dispendiosa comissão de festas.


publicado por Brito Ribeiro às 16:01

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