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20
Fev 12

Em passeio domingueiro passei por Apúlia e não pude deixar de ver o lastimável estado de abandono a que chegou a Estação Radio Naval Almirante Ramos Pereira.

 

Nos anos cinquenta do século passado foi instalada nas terras férteis do concelho de Esposende, uma unidade militar que na época era pomposamente denominada “Estação Rádio Goniométrica Aero Naval de Apúlia”.

Foram expropriados em favor do Estado cerca de 14 hectares de terra arável da melhor qualidade, centenas de pequenas parcelas de terreno, algumas o único património de muitos habitantes de Apúlia. Pelos legítimos donos foram distribuídos alguns míseros tostões, sem direito a reclamação como era timbre no tempo do Estado Novo.

Mesmo os proprietários dos terrenos próximos à zona expropriada foram prejudicados, pois quando necessitaram de construir casas ou anexos, muros ou poços, esbarraram na Lei da Servidão Militar que indeferia invariavelmente as pretensões dos proprietários.

Depois de funcionar cerca de cinquenta anos a Estação Rádio Naval de Apúlia, denominada Almirante Ramos Pereira, foi progressivamente desguarnecida e deixada ao abandono a partir de 2001.

 

Na parcela edificada existem diversos edifícios de significativo valor arquitetónico com fachadas em granito lavrado em cantaria, que estão sufocados por densa vegetação; as residências literalmente afogadas em silvados que sobem aos telhados; os antigos jardins, as veredas, os espaços desportivos e de lazer, já ninguém sabe onde existiram; a piscina é um viveiro de animais anfíbios; o aquartelamento, o refeitório, as messes, as garagens com as portas abertas; restos de mobiliário e arquivos pelo chão; arruamentos, pavimentos e muros dos edifícios atapetados de silvas.

Entretanto, continua vigente e atualizada a Lei da Servidão Militar, (Decreto nº 19/2002 de 27 de Maio), que continua a condicionar o licenciamento de obras nas imediações.

É óbvio que o facto desta unidade militar ter associado o nome do Almirante Ramos Pereira me incentivou a escrever este artigo indignado, mas penso também nos inúmeros marinheiros que ali prestaram serviço, ali viveram anos a fio, que cuidaram daqueles edifícios e jardins como da sua própria casa se tratasse.

 

Haverá alguma política de restruturação militar ou alguma contenção financeira que justifique esta humilhante situação de abandono e desprezo não só pelo património, mas também pelo povo de Apúlia e pela memória de um dos mais ilustres militares e lutador pela democracia?

 

Fotos de Manuel Moreira

 

publicado por Brito Ribeiro às 10:36

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