O Mendonça virou a página da “Bola” e continuou a ler a reportagem da mais recente vitória do “seu” Benfica. Depois dos azares do início da época, o clube entrara finalmente nos eixos levando de vencida os mais directos adversários. “Este ano é que vai ser, Campeonato, Liga dos Campeões tudo ao alcance dos melhores do mundo” pensava o Mendonça enquanto soletrava as letras pequenas.
- Ó pai, os computadores da Câmara foram atacados por um vírus – anuncia o Quim sem tirar os olhos do portátil.
- É bem feito! Esses gajos da Câmara deixam tudo ao “Deus dará” e algum esperto pegou-lhes essa moléstia, lá nas maquinetas deles.
- Dizem aqui que, se calhar, foi um hacker que se introduziu no sistema deles – continua o Quim, rapaz dos seus quinze anos, alto e desengonçado, com a cara coberta de borbulhas.
- Pois claro! Ela só tem peneiras e os outros são uns papa-açorda. Os gajos do Bloco é que os tem no sítio e lhe dizem das boas. Os outros encolhem-se todos…
- Quem são os outros, pai?
- Os da oposição, mas não prestam para nada. Agora até tem uma fulana que se chama Antonieta e que eu não conheço de banda nenhuma. Vais ver que se está a preparar para ser candidata nas próximas eleições.
- Pelo Bloco?
- Não, pá! Não percebes nada disto. Então Bloco ia querer uma gaja que nem conhece? Estás maluco? Se tiverem de pôr uma mulher a candidata aposto que põe aquela que mandou a Presidente meter o telefone… não posso dizer que está aqui a tua irmã e é uma criança.
- Realmente não percebo nada – concorda o Quim, encolhendo os ombros – o que sei é que aquilo foi obra de um hacker, aposto!
- Ó pai! – intromete-se a Raquel, que estava a ver os “Morangos com Açucar” – tu podias dar-me um hacker agora no Natal. Como assim, tenho tirado boas notas e tu prometeste-me uma prenda…
- Isso é verdade, tu mereces. Quando passar pelo shopping vou à loja dos animais e compro-te um hacker, com gaiola e tudo. Para que esses gajos da Câmara não pensem que só eles é que tem dessas coisas!