Já estamos habituados a ver a praia de Moledo "emagrecer" com as maresias de inverno, mas nunca como este ano. Ao longo de todo o areal, mas principalmente na zona do "Moinho", o mar engoliu dezenas de metros de duna primária, ficando a pouca distancia da estrada e das casas. É escusado dizer que os passadiços ao longo da duna foram totalmente destruidos e o velho moinho ficou em sério risco de derrocada, tendo-se executado um enrocamento de emergencia, para tentar evitar o pior. O murete do paredão na avenida soçobrou, não estando afastada a pior hipótese de toda a estrutura ruir ,se as condições do mar se agravarem.
Tudo isto me leva a pensar que o mar tenta sempre recuperar aquilo que já foi seu, como diriam os antigos. Está aqui a prova do disparate que é fazer marginais sobre dunas e sobrecarregá-las com passadiços, bares e pisoteio, que mais não fazem que instabilizar ainda mais, um ecosistema já de si frágil.
Por outro lado, a falta de "alimentação" de areia que esta praia sofre há longos anos, tem inequivocamente a ver com a regularização dos caudais do Rio Minho, provocado pelas barragens neste curso de água. Ainda há poucas semanas me dizia um velho pescador de Vila Nova de Cerveira: "Antigamente, ano em que não viessem meia duzia de cheias que cobriam os terrenos da Lenta e do Castelinho não prestava. Agora, passam-se anos que o rio não trás água de fora".
E isso é visivel com o aumento consistente do assoreamento do seu leito, em especial no estuário. A meu ver, deveria ser feito um estudo sério (existe um da Universidade de Vigo) que equacionasse a limpeza/dragagem do leito do Minho, com o encaminhamento de parte dos inertes retirados, para o carregamento e reforço das dunas e areal de Moledo, sob pena de daqui a alguns anos estarmos a assistir à destruição total da duna primária e à invasão das águas em toda a zona próxima, nomeadamente no Pinhal do Camarido.