Localização
Viana do Castelo, Caminha, Moledo
Acesso
Por barco
Protecção
MN, Dec. 16-06-1910, DG 136 de 23 Junho 1910
Enquadramento
Borda d'água. Implanta-se numa pequena ilha rochosa situada a SO. da foz do rio Minho, fronteiro ao pinhal do Camarido, e a cerca de 200 metros da costa portuguesa.
Descrição
Fortaleza de planta estrelada irregular, formada por 5 baluartes, sobre embasamento saliente, de coroamento boleado e altura variável, atingindo nalguns pontos 2.80m, funcionando quase como quebra-mar das muralhas mais expostas, ou seja, as viradas a Este e a Sul.
Fachada principal a NE. com entrada protegida por revelim, de muros em talude, rasgados superiormente por canhoeiras estreitas rectangulares, e com guarita facetada e cobertura em calote esférica no cunhal; a Norte abre-se portal de arco pleno simples; no seu ângulo interior, rampas de acesso à guarita e canhoeiras.
De ambos os lados, o revelim é protegido por muros mais baixos. Fortaleza de muros em talude, corridos em toda a sua extensão por moldura curva encimada por parapeito, interrompido nos cunhais dos 4 baluartes maiores por guaritas, de planta facetada e cobertura em calote esférica, assentes directamente sobre a moldura.
A meio do pano de muralha do frontispício, rasga-se portal, de arco pleno sobre pés direitos, entre estrutura quadrangular em ressalto, sobre a qual assenta cornija e frontão triangular com 3 brasões no tímpano: as armas de Portugal e as do Governador.
No lado direito tem inserida lateralmente lápide alusiva à construção. Na fachada virada a SO., balcão rectangular sustentado por mísulas e coberto por calote esférica rematada por bola.
Interiormente é percorrida por larga plataforma, com pavimento de lajes, protegida por parapeito e com acesso junto aos 4 baluartes principais por escadas; junto às muralhas NE. e NO. desenvolvem-se os quartéis, depósitos e cozinha, muito arruinados, sem cobertura e fachadas rasgadas por janelas e portas de verga recta, excepto a do alinhamento do portal, onde é de arco pleno.
Praça de armas reduzida, tendo ao centro e para Sul, com algumas paredes comuns à fortaleza, o convento, de planta composta por igreja, longitudinal composta, sacristia, claustro quadrangular irregular e outras dependências muito arruínadas.
Igreja com portal de verga recta encimada por janela. Interiormente tem arco abatido em cantaria de suporte ao antigo coro-alto, arco triunfal pleno e cobertura em abóbada de berço. Claustro com alas de colunas jónicas assentes em murete e suportando entablamento.
Utilização Inicial
Militar: forte para defesa da costa / cultual e devocional: convento
Utilização Actual
Devoluto
Propriedade
Pública: estatal
Época Construção
Século XV ( convento ) / XVII / XVIII
Arquitecto | Construtor | Autor
Desconhecido.
Cronologia
1378 - com o Grande Cisma do Ocidente, alguns religiosos galegos e asturianos, desgostosos por Castela apoiar o Papa de Avignon, deslocam-se para o Minho;
1392 - Breve de Bonifácio IX autoriza em Portugal religiosos Franciscanos, da Observância Menorita, na sequência do qual se devem ter iniciado as obras do convento de Santa Maria da Ínsua, tendo sido o seu principal impulsionador Frei Diogo Arias; 1462 - concessão de privilégios aos 2 pescadores que os transportavam; 1471 - obras de reedificação: construção de novas celas, melhoria da capela e retalho da casa, permitindo a entrada de muitos religiosos, entre eles Frei André da Ínsua, mais tarde Geral da Ordem;
1502 ou 1512 - visitado por D. Manuel;
1512 - visitado pelo Governador de Ceuta e Senhor de Caminha, D. Fernando de Menezes;
1548 - visitado por D. Luís, filho de D. Manuel;
1580 - ocupado pela armada galega, numa atitude de apoio à causa filipina;
1602 - atacado por corsários Ingleses;
1606 - saqueado por piratas Luteranos de La Rochelle; na sequência destes ataques, muitos religiosos abandonaram o convento;
1623 - o convento tinha apenas 2 frades;
1649 / 1652, entre - construção da fortaleza sob ordem de D. Diogo de Lima, Governador das Armas da Provícia do Minho, iniciando-se a partir daí uma difícil convivência entre os frades e a guarnição militar;
1653 - empossado o 1º Governador, Capitão Domingos Mendes Aranha;
1676 - ampliação do convento com construção em piso elevado de um dormitório de 5 celas;
1717 - D. João V oferece 200$000 reis para reedificação da igreja, com tecto de abóbada de pedra e coro-alto;
1765 - a fortaleza possuía 7 peças de bronze e guarnição de 10 homens;
1767 - fazem-se novas celas, sala do capítulo e retábulo do altar;
1793 / 1795 - obras de reparação, tendo os frades abandonado provisoriamente o convento, mas regressando alguns anos depois;
1807 - fortaleza ocupada por forças espanholas devido à 1ª Invasão Francesa;
1808 - Capitulou ( juntamente com Caminha ) perante o exército francês;
1831 - recolha ao Arsenal de Lisboa das peças de artilharia inutilizadas;
1834 - extinção das ordens religiosas;
1861 - ocupado por destacamento de veteranos;
1886 - instalação de um foral;
1909 - nomeado o último Governador, Major Rodolfo José Gonçalves;
1940 - auto de entrega da fortaleza pelo Ministério da Marinha ao Ministério das Finanças;
1953 - envio de relação dos objectos existentes na capela, pelo chefe do farol da Ínsua à Capitania do Porto de Caminha;
1983 - fortaleza definitivamente entregue ao Ministério das Finanças;
1990 - estudo do Instituto Politécnico de Viana do Castelo sobre a localização de um Centro de Investigação Avançada das áreas marinhas da costa e Rio Minho;
1993, 20 Maio - Despacho conjunto dos Secretários de Estado da Cultura e das Finanças determina a desafectação do Forte da Ínsua ao IPPAR, manifestando o Instituto Politécnico de Viana do Castelo interesse nessa afectação;
2000 - interdição do acesso do público ao interior do Forte para evitar a sua ruína;
2004 - o projecto de 1990 volta a ser tido em conta;
2005 - visita do deputado Jorge Fão, do Director Regional dos Monumentos e Edifícios do Norte e do Presidente do Instituto Politécnico de Viana, avaliando a possibilidade de instalar no local um centro de investigação marinha.
Tipologia
Arquitectura religiosa e militar, seiscentista e setecentista. Fortaleza seiscentista de planta em estrela irregular, com 5 baluartes e revelim protegendo o portal armoriado, integrando no seu interior convento delapidado de construção seiscentista e setecentista e planta irregular com claustro.
Características Particulares
Implantação original num ilhéu, no meio do rio, com fortaleza completando a defesa de Caminha, integrando intramuros convento pré-existente, com o qual forma um conjunto indissociável e quase único.
A fortaleza possui nos cunhais dos quatro principais baluartes guaritas facetadas com cobertura em calote esférica e num dos panos de muralha balcão rectangular sobre mísulas e cobertura do mesmo tipo, o qual provavelmente serviu de latrina; interiormente é percorrida por largas plataformas lajeadas.
Convento de construção austera e linhas simples, muito delapidado, com igreja coberta por abóbada de berço e claustro irregular com alas de colunas jónicas sobre murete. No interior possui um poço de água doce e tinha várias fontes.
Dados Técnicos
Paredes autoportantes e estrutura mista, em cantaria com aparelho "mixtum vittatum" e "vittatum".
Materiais
Forte: granito; convento: alvenaria de pedra granítica.
Bibliografia
GUERRA, Luís de Figueiredo, Castelos do Distrito de Viana, Coimbra, 1926; AGUILAR, Manuel Busquets de, Molêdo do Minho, Lisboa, 1941; CALIXTO, Carlos Pereira, Fortaleza de Nossa Senhora da Ínsua, Sim! Forte de Ínsua, Não! , O Dia, Lisboa, 17 Set. 1979; idem, O Convento, a Fortaleza e o Farolim da Ínsua in Revista da Marinha, Lisboa, 10 Abril 1980; SANTOS, João M. F. Silva, Caminha através dos tempos (parte III) in Caminiana, Ano III, nº 4, Caminha, 1981; ALVES, Lourenço, Caminha e o seu Concelho (Monografia), Caminha, 1985; GIL, Júlio, Os Mais Belos Castelos e Fortalezas de Portugal, Lisboa, 1986; MOREIRA, Rafael, Do Rigor Histórico à Urgência prática: a Arquitectura Militar in História da Arte em Portugal, vol. 8, Lisboa, 1986, p. 67 - 85; MARTINS, Reis, Que Destino para a Fortaleza da Ínsua ?, O Século, Lisboa, 26 Set. 1986; ALMEIDA, Carlos Alberto Ferreira de, Alto Minho, Lisboa, 1987; ALMEIDA, José António Ferreira de, Tesouros Artísticos de Portugal, Porto, 1988; RODRIGUES, David, Fortaleza da Ínsua degrada-se em silêncio, Diário de Notícias, 02 Agosto 1990, p. 43 - 44; ALMEIDA, Luís, Desenterrado projecto da Ínsua, in Jornal de Notícias - Minho, 14 Agosto 2006.
Intervenção Realizada
DGEMN: 1954 / 1957 - obras de conservação: reconstrução de 1 rombo no lado S. da muralha; telhados e paredes do corpo do antigo convento;
1955 - construção de 2 portas nas entradas;
1957 - execução de diversos trabalhos;
1967 - trabalhos de restauro e consolidação;
1970 - revisão de telhados;
1972 - reparação de telhados e caixilharia;
1975 - conservações: reparação geral dos telhados da igreja e consolidação dos elementos existentes no claustro;
1977 / 1978 trabalhos de conservação;
1979 - beneficiações;
1984 / 1985 - beneficiação das coberturas;
1986 - beneficiação das muralhas;
1998 - diagnóstico para a conservação e consolidação dos paramentos das fortificações; 1999 / 2000 - conservação e consolidação dos paramentos da fortaleza; reparação das patologias provocadas pela agressividade do meio ambiente marítimo, consistindo na consolidação de panos de muralha ( recalçamento, embasamentos e coroamento ); reconstrução e preenchimento de lacunas do embasamento e coroamento da muralha; limpeza e refechamento das juntas; limpeza de vegetação e guanos; recuperação da porta de madeira de acesso à fortaleza;
2001 - obras de conservação e manutenção do conjunto edificado, nomeadamente consolidação dos paramentos interiores da fortificação.
Observações
Foi uma das fortalezas construídas durante o século XVII, sob o reinado de D. João IV, não só para defesa do Convento de Santa Maria de Ínsua, várias vezes saqueado, mas também para reforço da costa portuguesa durante a Guerra da Restauração, integrando-se na linha defensiva estrategicamente colocada nas margens do rio Minho e ao longo da Costa Atlântica.
A sua planta, estrelada com baluartes e revelim, faz deste imóvel uma verdadeira fortaleza, tornando-se, portanto, incorrecta a designação de forte.
Inscrição da lápide junto ao portal da fortaleza: " A Piedade do muito Alto e Poderoso monarca el rei D. João IV / ministrada pela intervenção e assistência de D. Diogo de Lima / Nogueira General e Visconde de Vila Nova da Cerveira Governador das / armas e exército da Província de Entre Douro e Minho dedicaram / esta fortificação à sereníssima Rainha dos Anjos Nossa Senhora / da Ínsua para asilo e defesa das religiosas da Primeira Regra / Seráfica que assistem nos contínuos júbilos desta Senhora debaixo / de cujo patrocínio se assegura a defesa desta corte. Fez-se a / obra na era de 1650".
Em 1575 teve lugar a 1ª ligação documentada da Ilha de Ínsua à costa Portuguesa, verificando-se novas ligações em 1582, 1629, 1708, 1895, 1947 e 2001.