Ambiente, história, património, opinião, contos, pesca e humor

30
Mai 08

 

Estávamos a almoçar na varanda quando vimos o Nissan Patrol verde serpentear o caminho de acesso à Branda. Alguns minutos depois, convidamos os dois agentes a entrar em casa e voltamos a repetir o acontecimento. Já começava a estar farto de tantas vezes contar a mesma coisa. Mais valia ter usado o pequeno gravador que tinha no carro, assim bastava-me carregar no botão e a estória repetia-se as vezes que fossem precisas.
Pediram-nos para lhes mostrar o achado e quando saíamos de casa, surgiu o Agostinho, proprietário da casa que alugáramos, que tinha ido à aldeia levar um grupo de turistas holandeses, que iriam ficar lá alojados alguns dias. Ao ver o Jipe da GNR parado junto à nossa casa, para lá se dirigia a saber o porquê de tal presença. Mais uma vez contei como tínhamos achado os ossos e logo ele se prontificou a acompanhar-nos.
O Snoopy, qual herói desprezado, ficara na varanda com ar aborrecido, preso à trela, com uma gamela de água e outra de ração à disposição.
 
Fomos todos no jipe das autoridades até ao início do carreiro, que partia da pequena ponte, construída apenas com grossas pranchas de pedra xistosa, assentes em pilares do mesmo material. Não me admiraria se a datassem da Idade Média.
O primeiro cuidado que tiveram foi delimitar a área com fita plástica e fotografar, minuciosamente o maxilar e os restantes ossos visíveis. Depois recolheram tudo para uns sacos plásticos aos quais lhes colaram umas etiquetas numeradas. Um dos agentes usou uma pequena espátula semelhante a uma colher de pedreiro e com ela retirou mais terra do buraco iniciado pelo cachorro.
Em breves instantes escavou o suficiente para pôr à vista à vista a caveira à qual certamente pertencia o maxilar. O agente endireitou-se e disse para o colega:
- Liga para o comandante e diz-lhe que temos aqui um cadáver com ossos à superfície e outros enterrados. Diz-lhe também que encontramos o crânio.
O agente regressou ao jipe, sentou-se ao volante e depois de vencer as resistências da estática conseguiu ligação rádio, tendo contado as novidades ao superior, com uma linguagem onde abundavam os termos técnicos e o habitual “escuto” de cada vez que dava a palavra.
Aproximou-se do nosso pequeno grupo que aguardava à sombra de um amieiro e informou-nos que viria uma equipa técnica, provavelmente de Braga, para continuar as investigações. Até à chegada desses técnicos, os dois agentes iriam manter-se de guarda ao local. Pela cara deles via-se logo que estavam aborrecidos com a tarefa, mas não tinham outro remédio senão obedecer.
 
Regressamos a pé, em conversa com o Agostinho que nos contou a história daquelas paragens, como os pastores levavam os rebanhos na primavera para a Branda e lá permaneciam durante todo o Verão, regressando às aldeias apenas a meados de Setembro.
Durante a tarde passeamos pelos montes, percorremos um sem número de caminhos e carreiros, demos um mergulho retemperador na pequena presa à entrada da aldeia, onde já estavam, alem dos holandeses, mais duas famílias com grande profusão de crianças pequenas.
Ao final da tarde bateu-nos à porta um indivíduo que se identificou como sendo da Polícia Judiciária, o Inspector Peres, ao qual voltei a contar como se tinham descoberto as ossadas.
Ao contrário dos agentes da GNR que só tinham aceitado um café, este aceitou uma cerveja bem fria, tomada confortavelmente na varanda, enquanto tomava notas num caderninho de capa amarela.
Quando acabamos, já estava o sol no ocaso, convidei-o para outra cerveja que recusou e retirou-se, deixando-nos com a sensação de um fim-de-semana mais movimentado do que o desejado. Pelo menos não poderíamos dizer que nos tínhamos entediado, sem nada para fazer no meio do monte.
 
Quando a Paula me perguntou o que queria jantar, encolhi os ombros e propus-lhe ir ao restaurante de Valdepoldros a dois ou três quilómetros de distância.
Jantamos uma posta barrosã deliciosa, bem regada com um tinto do Douro, tudo rematado com umas rabanadas de ovos, um licor para a Paula e uma aguardente caseira para mim. Regressados a casa, refastelei-me na cadeira de lona olhando a escuridão que escondia o vale estendido à nossa frente. Que segredos esconderia aquele vale, histórias com muitos anos, séculos até, de pastores, de contrabandistas, de caçadores, gente que viveu e morreu sem conhecer o mar, sem conhecer a cidade, isolados no cosmos que era e é, a serra. Abri uma cerveja, brindei aos grilos e cigarras que cantarolavam por perto, senti o sono a invadir-me.
 Desta vez dormi tudo de um sono só, acordei já o sol ia alto e a Paula já preparava o café. Tinha na boca um sabor amargo que procurei extirpar com um duche bem quente, dois croissants e uma grande chávena de café.
- Ressonaste tanto que parecias um comboio.
- Ora, daqui a nada dizes que até apitava!
- Apitar, não. Mas assobiavas. Devia ser nas descidas…
- Ah, ah, ah. Que piada... – digo eu, interiormente divertido, mas apresentando cara feia.
- Os tipos da polícia estão lá em baixo.
- Onde? Junto ao regato?
- Claro, onde querias que estivessem?
- Vamos lá para saber as novidades? – propus eu.
- Vai lá tu, eu fico aqui na varanda a ler.
 
(continua)
publicado por Brito Ribeiro às 12:03
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28
Mai 08

Recebi este texto por e-mail e como me parece ser um assunto que está insuficientemente discutido pela sociedade, como reflecte um ponto de vista com o qual me identifico no essencial, decidi publicá-lo tal como o recebi.

 

 

PORTUGUESES, LEIAM AS LINHAS SEGUINTES E PENSEM A QUEM VAI SERVIR O TGV ...

AOS FABRICANTES DE MATERIAL FERROVIÁRIO, ÀS CONSTRUTORAS DE OBRAS PÚBLICAS E ...
CLARO AOS BANCOS QUE VÃO FINANCIAR A OBRA ... OS PORTUGUESES FICARÃO - UMA VEZ MAIS – ENDIVIDADOS DURANTE DÉCADAS POR CAUSA DESTA OBRA MEGALÓMANA ! ! !
 
"Experimente ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio. Comprado o bilhete, consigo num comboio que só se diferencia dos nossos Alfa por ser menos luxuoso e dotado de menos serviços de apoio aos passageiros.
A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder de vista, demorou cerca de cinco horas.
Não fora conhecer a realidade económica e social desses países, daria comigo a pensar que os nórdicos, emblemas únicos dos superavites orçamentais seriam mesmo uns tontos.
Se não os conhecesse bem perguntaria onde gastam eles os abundantes recursos resultantes da substantiva criação de riqueza.
A resposta está na excelência das suas escolas, na qualidade do seu Ensino Superior, nos seus museus e escolas de arte, nas creches e jardins-de-infância em cada esquina, nas políticas pró-activas de apoio à terceira idade.
Percebe-se bem porque não construíram estádios de futebol desnecessários, porque não constroem aeroportos em cima de pântanos, nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de multinacionais.
O TGV é um transporte adaptado a países de dimensão continental, extensos, onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de viagem/custo por passageiro, competitivo com o transporte aéreo.
É por isso, para além da já referida pressão de certos grupos que fornecem essas tecnologias, que SÓ existe TGV em França ou Espanha (com pequenas extensões a países vizinhos). É por razões de sensatez que não o encontramos na Noruega, na Suécia, na Holanda e em muitos outros países ricos.
Tirar 20 ou 30 minutos ao Lisboa-Porto à custa de um investimento de cerca de 7,5 mil milhões de euros não trará qualquer benefício à economia do País.
Para além de que, dado ser um projecto praticamente não financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias gerações de portugueses que, com mais ou menos engenharia financeira, o vão ter de pagar.
 
Com 7,5 mil milhões de euros podem construir-se :
- mil escolas Básicas e Secundárias de primeiríssimo mundo que substituam as mais de cinco mil obsoletas e subdimensionadas existentes (a 2,5 milhões de euros cada uma),
- mais mil creches inexistentes (a 1 milhão de euros cada uma), mais mil centros de dia para os nossos idosos (a 1 milhão de euros cada um).
- ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de euros para aplicar em muitas outras carências, como a urgente reabilitação de toda a degradada rede viária secundária.
 
publicado por Brito Ribeiro às 11:01
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25
Mai 08

CAPÍTULO II

Tinha acabado de descarregar o carro e já a Paula me chamava para a ajudar em qualquer tarefa na cozinha.
- Já vou, já vou! Bolas, nem me dás tempo de apreciar a paisagem…
- É só para arrumares as bebidas no frigorífico, mais nada. Depois vamos dar uma volta?
- Claro, vamos correr esses caminhos todos!
Tínhamos decidido passar um fim-de-semana na montanha, uns dias retemperadores, na solidão, no silêncio, na tranquilidade de uma pequena casa de turismo rural, implantada na isolada Branda da Aveleira, um antigo abrigo estival de pastores e rebanhos. Alguns proprietários tinham recuperado as casinhas de aspecto rústico, mas dotadas de todas as comodidades fundamentais e alugavam-nas agora aos turistas.
Da varanda da casa ainda se podiam ver por perto as manadas de garranos selvagens, o gado pastando em total liberdade e os montes ponteados de grandes torres que agitavam as suas pás ao vento, esperando em fila, as investidas de um qualquer D. Quixote gigantesco.
Atirei com a mochila para cima da cama, desci as escadas de madeira, assobiei à procura do cão, que surgiu disparado, vindo do wc.
- Vamos Snoopy – e o pequeno caniche seguiu-me excitado pela novidade, sempre com o nariz colado ao chão.
Apenas demos uma pequena volta de reconhecimento nos arredores do nosso alojamento e logo voltamos a tempo de ouvir a Paula dizer “já estou pronta”.
- Está bem, mas agora espera, pois vi umas cadeiras na arrecadação e vou pô-las na varanda.
Separei duas cadeiras de lona, montei-as e fui buscar uma cerveja e uma tónica ao frigorífico.
Sentamo-nos na varanda, à sombra, com as bebidas frescas a escorregar nas gargantas, aplacando a sede, não o calor, que esse só iria com a chegada da noite.
 
Descemos em direcção ao regato que corria no fundo do vale, queria ver se tinha condições para ter trutas. Confirmei que havia sítios relativamente profundos e acompanhamos o curso do regato durante algum tempo. Entramos por um carreiro, ladeado de vegetação ripícula, salgueiros e amieiros que só medram perto de água. Um ou outro carvalho espalhava sombra, pelo chão amontoavam-se excrementos dos garranos, das vacas e dos coelhos. Mais à frente encontramos uma área que devia ter ardido há pouco tempo, talvez na primavera, as ervas finas, brotavam do negro tapete que o fogo tecera.
 - Snoopy, anda aqui, vai ficar preto como o carvão. Mais valia tê-lo prendido com a trela – dizia a Paula ao ver como os caracóis brancos do pêlo do cão escureciam rapidamente.
- Não importa, chegando a casa damos-lhe banho.
A poucos metros do caminho o caniche escavava furiosamente, parando apenas para enfiar o focinho no buraco, como que a confirmar a presença do odor que o excitava.
- Vá, deixa isso. Snoopy, vamos embora.
Mas o animal fazia orelhas moucas o que me levou a ir ao seu encontro, com a intenção de lhe pegar ao colo. Junto dele estavam espalhados alguns ossos esbranquiçados, com aspecto de lá estarem já há muitos anos.
- Eu vi logo. Há aqui ossos!
- Não o deixes pegar nessa porcaria – diz-me a Paula com um esgar de nojo.
- Vamos embora, pá.
Com um derradeiro esforço o cão levantou com a boca o osso que tanta fadiga lhe dera e identifiquei, com espanto o que parecia ser um maxilar humano.
- Larga! – Berrei-lhe de tal forma que ele se encolheu amedrontado e deixou cair o despojo entre as patas dianteiras.
- Anda cá ver isto, nem vais acreditar!
Não havia dúvida nenhuma, o Snoopy tinha encontrado um maxilar humano e à vista estavam também mais alguns fragmentos de ossos, impossíveis de identificar por leigos como nós. E eu que pensara serem ossos de um qualquer animal, uma cabra ou um garrano.
 
Regressamos a casa sem saber bem o que fazer. Por um lado sentíamos a responsabilidade de ter que avisar as autoridades, mas por outro lado não nos apetecia nada sermos incomodados, tínhamos tirado o fim-de-semana para descansar e não para aturarmos uma diligência policial, por mais simples que fosse.
Ao jantar decidimos telefonar para a GNR de Melgaço, mas só no dia seguinte. Mais uma noite ao relento não iria fazer mal àquele esqueleto ou ao que restava dele. Contrariamente à expectativa nem sequer dormimos bem, sempre sobressaltados, eu sonhei com lobos a despedaçar pastores e ovelhas e mais algumas barbaridades do género. De manhã a Paula contou-me que também tivera sonhos semelhantes aos meus, o que atribuímos à descoberta do dia anterior. Quem parecia não ter ficado nada abalado era o Snoopy, que continuava animadíssimo.
Como desconhecia o número do posto policial de Melgaço liguei para o 112 e depois de dez minutos de interrogatório, fingiram acreditar na minha história.
Duas horas depois, andávamos nós a passear o mais longe possível do regato, toca o telemóvel, era do posto de Melgaço da GNR a quererem confirmar a veracidade do que tinha contado ao operador do 112. Sentei-me numa pedra e repeti mais uma vez o essencial da história, tendo-me sido pedido para aguardar uma patrulha que viria à Aveleira tomar conta da ocorrência.
 
(CONTINUA)
 
 
 
publicado por Brito Ribeiro às 15:36
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24
Mai 08

 

No seguimento do post anterior publico uma foto antiga da Capela de S. Brás, datada de 1903 que faz parte de uma colecção de postais dos monumentos do Vale do Âncora.

De referir que na legenda da foto faz alusão a "Antiga Matriz" algo que não está históricamente documentado mas que é voz popular ao longo dos tempos.

 

 

publicado por Brito Ribeiro às 15:35

20
Mai 08

Designação

Capela de S. Brás
 
Localização
Viana do Castelo, Caminha, Vila Praia de Âncora, Lugar de S. Brás
 
Protecção
Inexistente
 
Enquadramento
Rural, isolado, integração harmónica entre campos de cultivo no trecho inferior da superfície aluvial do Rio Âncora.
Insere-se em adro com muro de alvenaria de granito rebocada e com capeamento em cantaria, de pavimento em terra batida e pontuado por oliveiras, junto a caminho velho que conduz a Santa Maria de Âncora.
 
Tipologia
Arquitectura religiosa, maneirista. Capela de planta longitudinal e massa simples, com fachada principal terminada em empena, e rasgada por portal de verga recta e duas janelas rectangulares jacentes laterais.
Fachadas laterais terminadas em cornija e cegas, tal como a posterior. No interior ostenta retábulo-mor de talha policroma, maneirista, de planta recta e um eixo.
 
Características Particulares
Capela de linhas simples, conservando no interior o pavimento com seixos do rio em painéis geométricos, elemento popular que tem vindo a desaparecer do nosso património; na fachada principal rasgam-se interessantes frestas jacentes com moldura inferior formando esbarro acentuado para o exterior; a sineira, de construção recente, poderá ter substituído uma anterior mais antiga.
Nas obras de remodelação foi detectado no adro um sarcófago antropomórfico assim como sepulturas de caixa estruturada com lajes de granito e com tampa pétrea.
O retábulo, ainda que de estrutura maneirista, revela uma intervenção barroca, nas orelhas laterais e do ático e na moldura de acantos envolvendo o nicho. A sua leitura encontra-se, no entanto, muito adulterada pelo repinte de sabor popular. A decoração do frontal de altar deverá ser do séc. 20.
 
Utilização inicial e actual
Cultual e devocional: Capela
 
Propriedade
Privada: Igreja Católica
 
Época Construção
Séc. XVII / XVIII (conjectural)
 
Arquitecto | Construtor | Autor
Desconhecido.
 
Cronologia
Séc. XVII - Época provável de construção da capela e da feitura do retábulo-mor;
séc. XVIII - reforma do retábulo;
séc. XX - abertura do vão da fachada lateral esquerda; feitura da sineira; repinte do retábulo-mor.
 
Intervenção Realizada
Comissão Fabriqueira: 1980, década - restauro do retábulo; 2002 - obras de reparação da cobertura e dos paramentos.
 
Observações
*1 - Segundo transcrição de Lourenço Alves das "Memórias Paroquiais de 1758" (ALVES, 1985, p. 518), é tradição que no local desta capela esteve, outrora, implantada a primitiva Igreja Paroquial de Santa Marinha de Gontinhães.
 
 
 
 
 
publicado por Brito Ribeiro às 13:44

16
Mai 08

Antigo navio-almirante da frota de comércio portuguesa, com o nome INFANTE DOM HENRIQUE, serviu as companhias Colonial e CTM de Setembro de 1961 a Janeiro de 1976, seguindo-se um período de verdadeiro desterro em Sines de 1977 a 1986, pertença do Gabinete da Área de Sines, como navio-alojamento e hotel.

Resgatado pelo armador Sr. George Potamianos, foi reconstruído em Lisboa e na Grécia, regressando ao serviço em Novembro de 1988 com o nome VASCO DA GAMA.
Depois de numerosos cruzeiros que incluíram uma volta ao mundo e centenas de viagens nas Caraíbas, o navio foi vendido à companhia Cruise Holdings, das Bermudas, em 1995, passando a chamar-se SEAWIND CROWN.
 
Em Abril de 2000 o SEAWIND CROWN iniciou em Barcelona os cruzeiros da Pullmantur, que obtiveram enorme êxito e foram interrompidos inesperadamente em Setembro desse ano na sequência da falência da empresa armadora Premier Cruises.
Seguiu-se um longo período de imobilização arrestado em Barcelona que acabou em 2003 com a venda do navio a interesses indianos e a largada a 28-12-2003 para a China, com o nome BARCELONA e bandeira da Geórgia. O nosso antigo INFANTE DOM HENRIQUE foi desmantelado em Março - Maio de 2004 na Republica Popular da China.
A bordo permanecia um número significativo de obras de arte contemporânea portuguesa encomendadas propositadamente pela CCN quando da construção do navio na Bélgica em 1959-1961.
 
Muitos Ancorenses conheceram, viajaram ou trabalharam neste paquete e é para eles este pequeno e simples post, que dá conta das vicissitudes do INFANTE DOM HENRIQUE.
Perdeu-se tudo, ficando apenas a memória de um grande navio que os portugueses não souberam aproveitar condignamente.
publicado por Brito Ribeiro às 12:02

10
Mai 08

Desde pequeno que ouço falar no “Tio Brasileiro” que era irmão do meu avô materno Abel e chamava-se Manuel do Nascimento Brito. Era mais velho que o Abel, pelas minhas contas entre quatro a seis anos. Deve ter nascido por volta de 1875 e emigrou para Moçambique, mais concretamente para Lourenço Marques onde ganhou a alcunha de “Brito das massas” por ter montado uma fábrica de massas alimentares, tendo como sócio um senhor chamado Matos Ferreira, pai do Dr. Luís Matos Ferreira que mais tarde casou com a filha da D. Laura, a “Mariinha”, que ainda hoje possui casa no Largo do Sol Posto e vem passar férias à nossa terra.

 
Em 1951, frente à Pensão Meira, com as sobrinhas Maria José e Arminda
O Manuel Brito, o nosso Tio Brasileiro, embarcou para Moçambique em 1918 (provavelmente logo a seguir ao armistício), desconheço se já seria casado ou ainda não, com a Maria “Fanfarrona” uma sua conterrânea de Segadães, às portas de Valença, uma costureira que já possuía uma máquina de coser Singer.
A aventura moçambicana não deve ter durado muitos anos, porque entretanto regressou a Portugal onde passava umas temporadas em Gontinhães, na casa do irmão, a Pensão Âncora.
 
Do seu primeiro casamento não teve filhos e como ele por saias ainda era pior que o irmão Abel, acabou por “fugir” para o Brasil com a Flabiana (ou Flaviana) uma mulher de Gontinhães. Esta mulher era irmã da Ana do Presa, portanto, tia da Hermínia Presa, do Apolinário, da mulher do Paulino da Laje e da mulher do Quim do “Tábio” que é a única que ainda está viva. Esta fuga para o Brasil foi preparada no maior segredo e nem o Abel sabia da matroia.
O “Brito das massas” e a Flabiana depois de se rasparam para o Brasil tiveram, que eu saiba, cinco filhos.
A Margarida que é a mais velha e foi professora, o Zé, o mais novo continuou o negócio do pai, que tinha montado uma empresa de camionagem. Este meu primo nasceu com o lábio rachado (lábio luperino) e foi operado com êxito em criança. Pelo meio nasceram o Luís, a Mercedes e a Lucília. O Luís era mecânico de aviões e chegou a vir a Âncora, dormindo na casa dos meus pais e comendo na Pensão Meira. Deve ser mais velho que o Jorge Meira, embora a diferença não seja muita.
 
Em 1948 nos arredores do Rio de Janeiro, a Tia Flabiana e os filhos
Sei que o Tio Brasileiro montou um stand de motos para o filho mais novo, o Zé, mas não lhe agradou esse tipo de vida, acabando por ser a Mercedes a ficar com o negócio pois parece que era tipo “Maria rapaz”, gostava de mecânica e de motos. A propósito, o Abel em solteiro tinha uma moto, mas isso é outra história. Reparem que a moto tinha de ser anterior a 1910, devia ser um “maquinão”!!!
 
A Flabiana tinha cá em Âncora uns terrenos para os lados da Estação da CP, que foram herdados pela Hermínia Presa.
O Tio Brasileiro voltou duas vezes a Portugal, em 1951 e 1957 e ainda foi protagonista de umas “estórias” porreiras, com mulheres, claro!
O meu primo Jorge e as minhas irmãs ainda se lembram de algumas, como a do Tio Brasileiro ter ido à loja do Correia comprar umas peças de roupa, blusas e saias, “mônos” que o Correia lhe despachou ao desbarato e que serviram para o velho marialva oferecer às empregadas da pensão em troca de um beijo. Naquele tempo de miséria, parece não ter havido quem resistisse a semelhante prenda, por pouca vontade que tivesse de levar um beijo e alguma “garfada” marota do Tio Manuel.
Na primeira vez que regressou a Portugal, em 1951, hospedou-se na Pensão Meira sem se anunciar, mas fazendo muitas perguntas aos empregados que acabaram por contar à patroa, a Bèlinha Meira o que se passava. Havia um brasileiro alto, magro de uma certa idade que fazia perguntas sobre a família. A minha Tia Bela foi até à sala para ver o tal brasileiro e “matou-o” logo pela “pinta”. Dirigiu-se a ele e sem mais conversa disse-lhe “Você é o nosso tio brasileiro” ao que ele simplesmente respondeu “pois sou, menina”.
Quando ele veio a Portugal já o seu irmão Abel tinha morrido há quatro anos, por isso eles separaram-se em 1923 e nunca mais se encontraram.
 
Em 1960, O Tio Brasileiro e a neta (Virgínia) no dia da sua formatura
Durante anos, após ter ido para o Brasil, a Maria Chocalha, ama de leite dele e do Abel, enviava-lhe todos os anos umas lampreias enlatadas, petisco que ele muito apreciava. A sua velha ama era-lhe muito dedicada e trocavam correspondência com frequência. Como não sabia escrever, a Maria Chocalha pedia às suas netas para escreverem as cartas que seguiam para o Brasil, de onde vinham regularmente umas latas de goiabada, enviadas pelo Tio Brasileiro.
Sei que 1948 já todos ao filhos eram adultos e tinha uma neta (pelo menos) com uns quatro ou cinco anos chamada Virgínia, filha da Margarida. Esta rapariga formou-se em Dezembro de 1960 (não sei em quê) no Rio de Janeiro e o Tio Brasileiro ainda era vivo, já teria uns 85 anos.
Hoje desconheço o paradeiro destes familiares, sendo certo que o Tio Brasileiro, já está a “fazer tijolo” há muito. Desde que para lá emigrou andou sempre na zona do Rio de Janeiro e na década de 60 ainda por lá vivia.
 
 
publicado por Brito Ribeiro às 20:43

07
Mai 08
O pirralho estava a brincar no apartamento com um balão que tinha sobrado da sua festa de anos. Chutava para cá, chutava para lá, até que o balão acabou por entrar na casa de banho e foi cair justamente dentro da sanita.
Ele espreitou lá para dentro, viu o balão molhado, ficou com nojo, deixou-o ali mesmo e foi brincar com os carrinhos.
Pouco tempo depois o seu pai entrou apressado para aliviar os intestinos e sentou-se sem notar o balão. O almoço tinha sido muito pesado, e após ficar bem aliviado, olhou como era hábito, para dentro da retrete, ficando horrorizado com o espectáculo.
As suas fezes, muito moles, tinham coberto o balão e a impressão que se tinha era de um imenso, um absurdo, um gigantesco bolo fecal! Sem acreditar naquilo, começou a ficar muito branco, e dali mesmo ligou pelo telemóvel para um seu amigo que era médico:
- Cardoso, acho que devo estar com algum problema sério ! Enchi a retrete de fezes. Nunca vi tanta assim na minha vida!... está á quase até cima!
- Oh Anselmo, com certeza que estás a exagerar!
- Qual exagero, qual quê !!! Estou na casa de banho a olhar para esta porcaria toda! Isto é um absurdo! Estou muito doente!!!
- Bom, eu já estava de saída do consultório. Aproveito e passo aí que é a caminho de minha casa!
O médico chega e vai directo ao amigo, que estava à espera à
porta da casa de banho.
- Olá, Anselmo, ora vamos lá ver isso que tu............ CÉUS!!! O que é isto??? Que é que tu comeste, criatura???
- Eu não te disse?! Agora acreditas?!
- Isto é incrível! –diz o médico
- Então, será que tenho algum problema sério?!
- Olha, o melhor é levar uma amostra disto e mandar para análise!
O médico tira uma pequena espátula e um frasco esterilizado da sua maleta e quando espeta as fezes para retirar uma amostra do material.........
BUMMM!!!!!!!!!!! O balão estoura e voa merda para todo o lado!
Seguem-se instantes de absoluto silêncio.
Os dois amigos, completamente cagados, olham-se.
Estupefacto, o médico berra:
- Fooooda-se !!!! Achava eu que em 30 anos de medicina já tinha visto de tudo, mas um peido com casca, NUNCA !!!
publicado por Brito Ribeiro às 18:33
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03
Mai 08
No domingo à noite o pequeno automóvel da Guarda serpenteou os montes, desceu e subiu encostas, os faróis mortiços iluminavam poucos metros à sua frente, mas suficientes para dirigir vagarosamente o velho Ford até à Gave, uma aldeia com 300 habitantes, uma das maiores da região. Parou a viatura no largo da igreja, poucos metros adiante estava o cruzeiro, não se via viva alma, apenas a candeia de azeite iluminava fracamente o nicho da Senhora da Natividade.
O Tenente empunhou o revólver, desceu e deu a volta à pequena praça, sempre atento ao menor movimento. Nada!
 
Após alguns minutos de espera sentiu o barulho de passos no saibro da praça. Engatilhou o revólver, encostou-se ao automóvel, disfarçando a silhueta na penumbra. Um vulto aproximou-se e a meia dúzia de passos de distância perguntou:
- Vossemecê é que é o da Guarda?
O Tenente admirou-se por ouvir a voz nasalada de uma mulher, mas não desviou o revólver.
- Sou, e você quem é?
- Eu venho buscá-lo para o levar junto do meu patrão, que quer confirmar se veio só e não lhe quer mal. Venha comigo.
- Onde? O local combinado era aqui.
- Ele está à saída da aldeia e fale baixo para não acordar ninguém. Já basta o barulho que o carro fez para chegar até aqui.
- Vai à minha frente e lembra-te que se me estão a preparar alguma, abro caminho a tiro.
- Nada tema senhor, o meu patrão apenas quer falar consigo.
Tomaram o caminho que subia para Valdepoldros, a mulher à frente, o Tenente meia dúzia de passos mais atrás, continuando a empunhar a arma.
- Estamos quase a chegar, senhor – avisa a mulher ao fim de poucos minutos de caminhada na escuridão serrana, quando passavam entre azevinhos centenários.
De repente algo assobiou nos ares e abateu-se sobre o Tenente que caiu de imediato. Outra pancada e mais outra zurzem o corpo estendido no caminho. O Alípio arfava do esforço e da emoção de ter arreado no oficial da guarda com o seu pau ferrado. Dera-lhe com ganas, que o malandro merecia.
- Procura a pistola Rita, ele tinha-a na mão.
- Já a tenho comigo. Vê lá se ele é vivo ou morto…
- Diabos o levem, está cheio de sangue. Acho que não respira.
- De certeza?
- Sim… De certeza – conclui o Alípio.
- Então vai buscar os animais para sairmos daqui.
 
Os dois cavalos e a mula estavam presos ali perto e num pulo o Alípio trouxe-os pelas rédeas. Atravessaram o corpo do Tenente no dorso da mula, cobriram-no com uma manta e amarraram-no de forma a não escorregar em andamento.
No silêncio apenas quebrado pelas patas dos animais, os dois irmãos montaram e arrastaram a mula, caminho acima, em direcção a Valdepoldros.
(continua)
 
publicado por Brito Ribeiro às 14:35
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