O Pincho situa-se na freguesia de S. Lourenço da Montaria, embora seja consideravelmente mais fácil aceder-lhe pela vizinha freguesia do Amonde.
Outrora era um local de difícil acesso apenas servido por um estreito caminho de monte que eu e os meus amigos, na adolescência, percorríamos a pé, pois nem as bicicletas conseguiam passar.
Era um dos locais preferidos da malta de Âncora para passar uma tarde de verão, principalmente quando a nortada nos afugentava da praia. De bicicleta íamos até ao Amonde e deixávamos as “pasteleiras” numa quinta que, simpaticamente, a proprietária nos permitia a entrada.
- Ah… são os moços de Âncora? Ponham aí as bicicletas, ao pé do portão, que ninguém lhes mexe!
Ouvi estas frases vezes sem conta. Depois eram vinte minutos a pé por um caminho que mal se distinguia do resto do monte, ora a subir, ora a descer, até atingirmos aquele local paradisíaco só ao alcance de alguns, sim de alguns, porque havia muita gente que ia lá uma vez e não tornava, devido à dificuldade do acesso. Mas valia a pena, pelo silêncio, pelo isolamento e principalmente pela piscina natural e as suas águas cristalinas, sempre frias mas convidativas.
Anos depois, algum autarca cioso de divulgar aquele tesouro e de mostrar serviço a qualquer preço, decidiu abrir uma estrada calcetada até às suas imediações.
Toda a gente podia ir ao Pincho de automóvel. E foram e continuam a ir. De verão juntam-se inúmeros carros que provocam verdadeiros engarrafamentos, fazem-se piqueniques e acampamentos. Os automóveis são levados o mais perto possível da água, liga-se a música em altos berros, o lixo fica atirado pelos cantos. Acabou o sossego, já não há silêncio, já não há isolamento.
Um domingo de Maio, tarde encoberta, fresca e ventosa, fui (de carro) até ao Pincho com o objectivo de tirar umas fotografias e matar saudades.
Deixei o carro no fim da estrada empedrada e já lá estavam mais três, percorri uns duzentos metros e mais quatro automóveis estacionados na última descida até à água.
Vislumbrei um acampamento com duas tendas, mais à frente outro grupo de jovens conversava animadamente junto à água. O local estava sofrivelmente limpo, mas continuam a faltar os recipientes para o lixo. O monte ardido nos últimos verões está pelado, apresenta um ar desolado, tristonho mesmo.
A beleza natural da cascata e da piscina continua lá, as fotografias estão aí para prová-lo, mas este já não é o “meu” Pincho.