Ambiente, história, património, opinião, contos, pesca e humor

17
Mar 24

Ainda sobre o Comandante Araújo Pereira, chegou-me a informação que nos seus tempos de juventude, antes de ir para a Marinha, integrou um conjunto musical local.

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Depois de entrar para a Marinha fez parte do conjunto "Os Náuticos", que era liderado por um capelão, vendo-se na foto, Araújo Pereira em primeiro plano ao centro. Se alguém souber e quiser identificar os restantes músicos do "Os Náuticos", agradecia.

Esta foto foi-me cedida pelo meu bom e atento amigo, João Pereira, o "Janota".

publicado por Brito Ribeiro às 16:17

14
Mar 24

Estando prestes a passar 50 anos sobre a morte do Almirante Ramos Pereira, entendeu a Câmara Municipal de Caminha e a Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora, prestar homenagem a este brioso militar, lutador antifascista e filantropo. Em hora boa issso acontece, pois nunca é demais recordar e exaltar a memória dos Grandes Ancorenses. 

 

O Almirante Ramos Pereira foi um dos filhos mais ilustres do Concelho de Caminha. Nascido em Vila Praia de Âncora, casou a 11 de maio de 1939 com Maria da Graça Lopes de Mendonça, neta do poeta Henrique Lopes de Mendonça, autor do Hino Nacional. Não tiveram descendentes.

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A identificação da família Ramos Pereira com Vila Praia de Âncora é bem patente na toponímia, chegando a criar alguma confusão devido à atribuição do seu nome a várias artérias desta vila (Rua Contra Almirante Ramos Pereira, Avenida Dr. Ramos Pereira e Parque Dr. Ramos Pereira).

Filho do médico Luís Inocêncio Ramos Pereira, nasceu em Vila Praia de Âncora, concelho de Caminha, a 6 de abril de 1901. O seu avô paterno era o Comendador José Bento Ramos Pereira, a quem se deve a construção da primeira escola de Riba d’ Âncora.

Frequentou o Colégio Militar e após dois anos de serviço no Exército, ingressou na Escola Naval, onde concluiu o curso de Marinha como primeiro classificado.

Promovido a Guarda-Marinha em fevereiro de 1924, efetuou vários embarques como oficial subalterno, dos quais se destaca uma comissão no Extremo Oriente, entre 1930 e 1932, a bordo do cruzador "Adamastor". Nessa comissão começou a revelar um grande interesse pelas radiocomunicações, tendo sido louvado pela sua ação técnica na direção da instalação elétrica e dos equipamentos rádio do navio.

Foi colocado na Direção do Serviço de Eletricidade e Comunicações em outubro de 1932. Ali viria a permanecer cerca de 21 anos, apenas interrompidos por duas comissões de embarque como Imediato dos contratorpedeiros "Lima" e "Douro", entre 1935 e 1936. Durante esse longo período, desenvolveu um significativo trabalho na progressão das comunicações rádio, dirigindo a construção e experimentação de novos equipamentos (atividade em que se valeu da sua experiência de radioamador) e organizando cursos para oficiais, sargentos artífices e praças. Entre as várias publicações técnicas que elaborou, destaca-se um compêndio de radioeletricidade editado em 1952, que serviu de base de apoio a vários cursos. Foi também responsável pela reorganização e modernização, em equipamento e instalações, da rede de estações radionavais da Marinha.

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Passando, sucessivamente, pelos cargos de Secretário, Subdiretor e Diretor, deixaria a Direção do Serviço de Eletricidade e Comunicações em fevereiro de 1954, já como Capitão-de-Fragata, para exercer o comando do aviso de 2ª classe "João de Lisboa", enviado em missão de soberania à Índia portuguesa, por ocasião das graves perturbações ali ocorridas naquele ano.

Regressado à Metrópole em 1956, ano em que foi promovido a Capitão-de-Mar-e-Guerra, passou pelo Estado-Maior Naval, antes de ser enviado a frequentar o Naval Command Course no United States Naval College.

Em junho de 1958, foi nomeado Subdiretor do Instituto Superior Naval de Guerra, ascendendo a Diretor, já no posto de Comodoro, no início de 1960. Empreende, então, profundas alterações na organização daquele Instituto, tendo sido responsável pela sua mudança para as instalações definitivas, na Rua da Junqueira. Promovido a Contra-Almirante em julho de 1960, viria a pedir a sua demissão na sequência de um discurso do Ministro da Marinha, aquando da abertura solene do ano letivo 1961-62, que considerou atentatório do seu brio profissional.

Passa à Reserva em abril de 1966, tendo, ainda, exercido as funções de Diretor do Museu da Marinha, entre 1968 e 1971. Em outubro de 1969 candidata-se a deputado pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo na lista da Oposição Democrática. Em 1973 fez parte da comissão nacional do III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro.

Nos últimos anos da sua vida desenvolveu uma intensa atividade intelectual, quer na vertente técnico-científica quer, principalmente, na vertente cultural. Foi Presidente da Assembleia Ancorense e da Fundação Vila Praia de Âncora que auxiliava jovens a prosseguir estudos e foi um dos dez fundadores do Centro de Estudos de História Marítima, mais tarde designado por Centro de Estudos de Marinha, que daria, em 1978, origem à Academia de Marinha.

Entre os vários trabalhos que publicou, maioritariamente de cariz técnico, avulta, no campo da História, um estudo sobre a vida de Gago Coutinho, que publica em 1973. Também se debruçou sobre a figura de Fontoura da Costa, sendo ainda de mencionar o seu interesse pelo património arquitetónico da Marinha.

Faleceu em Lisboa, no Hospital da Marinha, na sequência de um carcinoma estomacal, no dia 16 de março de 1974. Doou à Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora as suas fardas de gala, insignias, condecorações e espada.

Entre as diversas condecorações com que foi distinguido, destaque para a Ordem Militar de Avis (Oficial - 1941, Comendador - 1943 e Grande Oficial - 1960) e, a título póstumo, pelo presidente da República Ramalho Eanes, com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade. Em 1982 foi descerrado um busto do Almirante na sua terra natal, Vila Praia de Âncora.

A sua memória foi ainda homenageada com a atribuição do seu nome à estação radionaval da Apúlia, hoje desativada.

Fontes: Blogue do Minho e "Almirante Jorge Ramos Pereira" de Glória Maria Marreiros

publicado por Brito Ribeiro às 16:17

12
Mar 24

A Praia d' Âncora teve direito a uma foto na rubrica "As nossas Praias" da revista de Arte e Turismo "Panorama", publicada em 1942.

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publicado por Brito Ribeiro às 11:11

07
Mar 24

O Maestro Capitão-de-fragata José Joaquim de Araújo Pereira nasceu em Seixas – Caminha e iniciou os seus estudos musicais com a professora Emília Fão de Vila Praia de Âncora, irmã de Artur Fão que foi chefe da Banda da Marinha entre 1920 e 1956.

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Tocou na Banda de Música de Lanhelas sob orientação de João da Costa e do maestro Rafael Alves; após ingressar na Marinha, concorreu à Banda da Armada, onde fez toda a sua carreira até ascender a Oficial, prestando as respetivas provas públicas no Conservatório Nacional de Lisboa (Provas Técnicas) e na Escola Naval (Ciências Sócio-Militares).

Como componente do agrupamento “Os Náuticos”, percorreu Cabo Verde, Guiné, Angola e Moçambique e participou em várias gravações para a rádio e televisão.

Entretanto, prosseguiu os seus estudos académicos, completando o Curso Complementar dos Liceus e a admissão à Universidade, ao mesmo tempo que no Conservatório Nacional de Lisboa completava os Cursos de Acústica, História da Música, Educação Musical e o Curso Superior de Composição.

Em 1983, frequentou o 1º Curso de Regência de Orquestra, promovido pela Associação Portuguesa de Educação Musical e patrocinado pelo Conselho da Música da Alemanha Federal, o qual foi lecionado pelo Maestro Hans Herbert Joris.

Em 1986, participou num Curso de Interpretação e Direção de “Big-Band”, na Fundação Calouste Gulbenkian.

Assumiu as funções de Chefe da Banda da Armada em 1987 até 2005.

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É membro da International Military Society e fez parte do Conselho Pedagógico da Escola de Música e Bailado de Linda-a-Velha, como Diretor dos Cursos ali ministrados aos alunos da Banda da Armada.

Autor de vários arranjos de música ligeira gravados pela Banda da Armada no disco “Anos 90” e de algumas marchas militares, das quais se destaca “Na Terra e no Mar”, inserida no Long-Play “Cantando o Mar”.

Ao longo da sua carreira musical, tem dedicado parte da atividade particular como instrumentista de Trompete em diversos agrupamentos, ao ensino e direção técnica de Bandas Civis, onde tem alcançado assinaláveis êxitos e reconhecimento público com a atribuição de galardões de Mérito Cultural.

Fontes: Blog do Minho e Comissão Cultural da Marinha

publicado por Brito Ribeiro às 14:22
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01
Mar 24

Foi um ancorense que morreu em combate durante a Primeira Guerra Mundial (1914-1918).

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A causa imediata do início do conflito foi o assassinato do arquiduque da Áustria, Francisco Fernando, herdeiro ao trono do Império Austro-Hungaro, ocorrido em Serajevo a 28 de Junho de 1914.

Portugal só entrou no conflito em 1916, ao lado dos ingleses e restantes Aliados, com o designado Corpo Expedicionário Português, mal armado e pior preparado.

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Portugal procurava manter a posse das colónias, consolidar o reconhecimento do regime republicano implantado em 1910 e impedir a perda da identidade nacional. Enviando tropas primeiro para África, depois para a Flandres, queria também assegurar um lugar à mesa das negociações no pós-guerra.

Em 1918, a 9 de Abril, os alemães lançam uma grande ofensiva e a frente portuguesa na Flandres sofre um importante revés, em grande medida devido aos brutais bombardeamentos que precederam o avanço das forças de infantaria.

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Durante este confronto, que ficou conhecido por Batalha de La Lys, João Alves da Devesa, soldado do Regimento de Infantaria 3 (Viana do Castelo), que operava uma metralhadora, foi gravemente ferido, tendo continuado a disparar até esgotar as munições.

Ao recuarem as linhas, os portugueses tentaram transportar todos os feridos, entre os quais estava o nosso conterrâneo; perante o avanço do inimigo, pediu aos camaradas para o deixarem, pois sentia que os seus ferimentos eram mortais.

Na mesma batalha faleceram também Aurélio Alves de Azevedo de Âncora, Daniel Lourenço Esteves de Orbacém, Francisco António da Cruz Ribeiro de Riba d’ Âncora, todos de Infantaria 3 e ainda Bernardo Teixeira de Caminha, que pertencia a Infantaria 8 (Braga).

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De acordo com estimativas, morreram a 9 de abril de 1918 na Batalha de La Lys, na Bélgica, 1341 soldados portugueses, 4626 foram feridos e 7440 foram feitos prisioneiros.

Os ancorenses dessa época, para perpetuarem a memória de João Alves da Devesa e o seu sacrifício, atribuíram o seu nome a uma rua, mas hoje serão poucos os que conhecem a história por trás do topónimo.

 

 

publicado por Brito Ribeiro às 16:35
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23
Fev 24

No post anterior citei o arcebispo Sebastião de Matos de Noronha, o cérebro que esteve por trás da conjura contra D. João IV, poucos meses após a restauração da independência em 1640.

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Sebastião de Noronha nascera em Madrid em 1586, foi inquisidor em Coimbra, deputado do conselho geral do Santo Ofício, bispo de Elvas e em1635 arcebispo de Braga.

Fiel apoiante da corte filipina, enquanto bispo em Elvas, celebrou o casamento do duque de Bragança (mais tarde rei D. João IV) com D. Luísa de Gusmão; não tendo este fidalgo dado grandes mostras de atenção e reconhecimento pela magnífica hospedagem que o prelado lhe preparara no seu palácio, supuseram alguns, que daí nasceu o ódio que Sebastião de Noronha votou reiteradamente ao chefe da Casa de Bragança.

Nos últimos anos do domínio espanhol em Portugal, quando a duquesa de Mântua exercia o cargo de vice-rainha e Miguel de Vasconcelos o de secretário de Estado, tinha o arcebispo Sebastião de Noronha a presidência do Desembargo do Paço.

Era tão evidente a sua fidelidade ao governo espanhol, que na reunião dos conspiradores nos últimos dias de Novembro de 1640 se discutiu a sua morte ao mesmo tempo que a do secretário de Estado, prevaleceram ideias de clemência devido à sua condição eclesiástica.

Quando no dia 1 de dezembro os fidalgos subiam aos aposentos da duquesa de Mântua no Paço da Ribeira, o arcebispo apareceu ao lado dela, tendo a desfaçatez de dirigir aos conspiradores algumas palavras de censura; mandaram-no calar asperamente, dizendo-lhe D. Miguel de Almada que lhe custara muito livrá-lo de sorte igual à de Miguel de Vasconcelos, lembrando-lhe que não abusasse, porque lhe poderia ser fatal.

Sebastião de Noronha retirou-se muito pálido de susto, mas não lhe serviu de emenda. Apesar da sua postura, foi nomeado para o governo provisório que entrou de imediato em funções, mas não foi reconduzido a nenhum cargo de relevo após a subida de D. João IV ao poder. Além disso, este soberano continuava muito afeto ao arcebispo de Lisboa, grande rival de Sebastião de Noronha.

Começou então a conspirar a favor da coroa de Espanha, considerando que apenas uma empresa de grande valor simbólico lhe podia recuperar o prestígio e o poder que perdera. Para isso o rei teria de ser morto. Tratando de arranjar cúmplices falou ao Marquês de Vila Real, que alinhou na conjura e que por sua vez dirigiu-se a seu filho Miguel de Meneses, 2º Duque de Caminha, a seu sobrinho Rui de Matos de Noronha, Conde de Armamar e ao inquisidor geral Francisco de Castro, aos quais depois se associaram Agostinho Manuel de Vasconcelos, os capitães Diogo de Brito Nabo e Belchior Correia da França e um rico mercador chamado Pedro Baeça, entre outros.

Falaram por fim também a Luís Pereira de Barros, contador da fazenda, mas este, descrente das probabilidades do bom êxito da conspiração, tratou de colher todas as informações e foi denunciar ao rei o que sabia.

Não tardou em que as declarações de Luís Pereira fossem confirmadas pelo conde de Vimioso, que os conspiradores pretenderam chamar para o seu lado e que ouvindo o que lhe diziam o arcebispo, o marquês de Vila Real e o inquisidor, foi tudo contar a D. João IV.

O rei ordenou a prisão dos conspiradores e o arcebispo de Braga, foi conduzido à fortaleza de São Julião da Barra, mostrando-se durante o processo completamente outro do que fora sempre antes; tendo apelado em vão para o foro eclesiástico, invocou depois a piedade do rei, declarando os motivos que o haviam levado a conspirar e as pessoas que tinha associado ao seu projeto.

No dia 29 de Agosto foram executados num cadafalso erigido na praça do Rossio, o duque de Caminha, seu pai o marquês de Vila Real, o conde de Armamar, Agostinho Manuel, Diogo de Brito, Correia da França, Pedro Baeça e Manuel Valente.

O bispo que organizou e arregimentou conspiradores e depois os denunciou, arrependido e humilhado morreu meses depois na Torre de São Julião.

Há uma excelente comunicação da Doutora Mafalda Soares da Cunha sobre este assunto, que pode ser consultada      https://dspace.uevora.pt/rdpc/bitstream/10174/8828/1/2006_Conspira%C3%A7%C3%A3o%201641.pdf

 

publicado por Brito Ribeiro às 14:12
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22
Fev 24

Corria o ano de 1620 e Portugal continuava sob a coroa de Castela, reinava Filipe III de Portugal e IV em Espanha, que concedeu a Miguel Luís de Menezes (1565-1637) o título de 1º Duque de Caminha.

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Este senhor já detinha os títulos de 6.º Marquês de Vila Real, 5.º Conde de Alcoutim e Valença. Foi também o 8º Capitão Geral da Praça de Ceuta e casou com Isabel de Bragança (1562-1626), filha de Teodósio de Bragança, 5.º Duque de Bragança e em segundas núpcias com sua sobrinha Maria Brites de Meneses, filha de seu irmão Luís de Noronha e Meneses.

Não teve descendentes de nenhum desses casamentos, pelo que, após a sua morte, os seus títulos, exceto o ducado, passaram para aquele já mencionado seu irmão.

Luís de Noronha e Menezes casou-se com Juliana de Meneses, filha de Luís de Meneses, 2.º Conde de Tarouca e desse casamento nasceram seus filhos Miguel Luís de Meneses (1614-1641), 2.º Duque de Caminha e Maria Brites (ou Beatriz) de Meneses (?-1668).

Porém, o Duque de Caminha teve um fim trágico e pouco digno, pois em 1641 esteve envolvido num atentado real.

O que se sabe é que, alegadamente, Miguel Luís de Meneses, 2.º Duque de Caminha entrou numa conjura contra D. João IV, supostamente por ordem paterna. A ideia era forjar um incêndio na residência real, chamando a atenção dos guardas e vigilantes do local e desta maneira, deixar o rei desguarnecido de proteção e assassiná-lo.

Entretanto, a rebelião foi descoberta, foram presos todos os fidalgos que nela tomaram parte, tendo à frente o arcebispo-primaz Sebastião de Matos Noronha. Os conjurados, no dia 29 de agosto de 1641, foram degolados num cadafalso erguido no Rossio de Lisboa, depois de terem estado presos na Torre de Belém.

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Caminha no início do século XVI, desenho de Duarte D' Armas

O título de Duque de Caminha passa então para a sua irmã Maria Brites tornando-se a 3ª Duquesa de Caminha, que tinha casado com um espanhol, Pedro Portocarrerro de Cordova y Aragon (1619-1679), 8º Conde de Medellin, sendo o ducado extinto por ordem do rei de Portugal, apenas se mantendo o título em Espanha, ao que sei, até aos dias de hoje.

A História de Portugal realça o papel dos conjurados do dia 1 de dezembro de 1640, que derrubaram o poder dos Filipes de Castela, restaurando a independência de Portugal, mas é totalmente omissa no que diz respeito ao contragolpe dos inimigos da Casa de Bragança ocorrido meia dúzia de meses depois. Enfim, mais um registo varrido para debaixo do tapete!

Lamentavelmente a história de Caminha fica ligada a este episódio, mas sem qualquer beliscadura, pois os intervenientes nada tinham a ver (exceto os títulos) com a Bela Marinheira da foz do Minho.

 

publicado por Brito Ribeiro às 13:48
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19
Fev 24

O dia 13 de fevereiro não é comemorado institucionalmente, nem referido na comunicação social, poucos sabem o seu significado e o que se passou em 1919, portanto há 105 anos.

Também é verdade que abordo desta efeméride porque em Vila Praia de Âncora existe uma “Rua 13 de Fevereiro”, paralela à Rua dos Pescadores, ligando a Rua Celestino Fernandes ao Largo Pedro Bugalho, e essa toponímia espicaçou a minha curiosidade.

Em termos muito simples, a 13 de fevereiro de 1919 foi restaurada a República, depois da revolta monárquica liderada por Paiva Couceiro, conhecida por “Monarquia do Norte”, que durou apenas 25 dias.

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Em Vila Praia de Âncora, então Gontinhães, durante esse curto período esteve estacionada uma pequena força militar, apoiando os partidários da causa monárquica; levou também os membros da Junta de Freguesia local a apresentarem a sua demissão, visto não aceitarem a autoridade golpista.

Do jornal “A Capital” publicado a 25 de fevereiro de 1919, extraímos parte de um artigo assinado por António Augusto Durães, que se refere detalhadamente a um episódio local muito interessante, durante esse breve período:

 

(…) “No dia 30 de janeiro, em pleno reinado de Paiva, appareceram á vista d’esta praia 5 barcos de guerra, desfraudando ao vento o pavilhão republicano e aproximando-se tanto que mesmo sem binóculos se distinguia a marinhagem a bordo.

Como na estação do caminho de ferro estivesse arvorada uma bandeira monarchica a canhoneira “Limpopo” fez para lá um tiro de peça, caindo a granada a pouca distancia. Immediatamente um dos empregados sobe á marquise e desce a bandeira, juntando-se a seguir no “portinho” grande numero de pessoas, que esperando um desembarque, ansiosamente aguardavam os marinheiros para os seguir onde a Republica precisasse de defensores. Faziam-se saudações para os navios e lenços acenavam, como a dizer que eram esperados em terra por amigos.

De repente um grupo de rapazes, entre os quaes me lembra de ver um caixeiro viajante de nome Carlos, o Balthazar Lopes e outro que depois emigrou de nome Brito, vae a correr ao Castello que fica próximo do “portinho” e entre vivas enthusiasticos de grande multidão que ali se juntou içam a bandeira republicana, indo a seguir o Mario Maia e José Moura e outros ao quartel da guarda fiscal, cujas praças eram todas republicanas, içar outra bandeira no meio também do maior enthusiasmo.

A seguir, e apesar do mau estado do mar, eu e o caixeiro viajante Carlos, mettemo-nos n’um barco de pesca, tripulado por um pescador conhecido pelo “Ou-Ou” e tentamos ir a bordo para conseguir o desembarque imediato, pois conhecendo  o estado de espirito do batalhão de infantaria 3, de Valença, da guarda fiscal e do destacamento de marinheiros da lancha “Rio Minho” e mesmo do regimento de infantaria 3 de Vianna do Castello, uma pequena coluna de marinheiros, apoiada pela artilharia de bordo, tomaria com a maior facilidade a cidade de Vianna e todo o districto se levantaria imediatamente contra a “traulitada” que o governava.

Infelizmente foi-nos impossível conseguir a sahida do porto, onde dentro do barquito estivemos mais de meia hora lutando com o mar que a cada instante nos salpicava. Ao fim de uma onda maior pôz o barco meio de agua, molhando-nos todos, e tivemos de desistir do intento, chegando minutos depois os primeiros automóveis dos “trauliteiros” que armados de carabina simplesmente se pretendiam oppôr a um desembarque que também julgavam ir ser feito!

Martinho Carneiro, o governador civil monarchico, que também chegava, ao ver a bandeira republicana no Castello, ficou de tal forma irado que ameaçou com fuzilamento imediato os que a tinham ido hastear se chegasse a saber quem eram.

O povo de Ancora porém, que a tudo tinha assistido, não denunciou ninguém, porque é essencialmente republicano e a ira do agora fugido governador ficou em palavras somente.

Mas é bom que se saiba que em plena monarchia fluctuou ao vento no castello d’esta praia a gloriosa bandeira da Republica, para se ver que só pela coacção do terror os monarchicos impunham o seu regimem ao povo do norte, que é profundamente republicano. (…)

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Optei por manter o texto do jornal “A Capital” com a grafia original. O Regimento de Infantaria 3 esteve sediado em Viana do Castelo até 1937 e tal como o Grupo de Metralhadoras 8, mantinham estacionada na fortaleza de Valença um robusto destacamento militar.

Nos primeiros dias do levantamento monárquico a guarnição de Valença rendeu-se aos revoltosos (mais um episódio que merecia ser contado), os oficiais republicanos foram presos e enviados para o Porto. Desse lote de prisioneiros fazia parte o alferes Morais Cabral que ali cumpria o serviço militar, tendo sido libertados depois da capitulação dos monárquicos. Este oficial ancorense, membro da Loja Maçónica “Vedeta do Norte”, mais tarde foi juiz desembargador e um reconhecido opositor do Estado Novo.

O “Brito” referido na crónica do jornal “A Capital” era Manuel do Nascimento Brito, meu tio-avô, que emigrou para o Brasil. O José Moura, natural do Porto, também era membro da “Vedeta do Norte” e foi sempre muito participativo na vida social da terra que o acolheu.

Embora o cronista não refira, a canhoneira “Limpopo” terá efetuado outros disparos, possivelmente dois ou mais em direção à Estação da CP, tendo um deles atingido uma composição estacionada e o outro tiro destruído uma dependência do 1º andar do edifício.

Foi também atingida uma casa na Rua do Sol Posto, sendo possível que o tiro se dirigisse à Pensão Âncora onde estavam acantonados os militares monárquicos e estivesse hasteada alguma bandeira azul visível do mar.

publicado por Brito Ribeiro às 16:40
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15
Fev 24

Da “Revista de Turismo” publicada em 20 de Agosto de 1916 retiramos um artigo da autoria de Guerra Maio (redator principal), onde são apontadas as mais importantes praias portuguesas, com destaque para a Praia d’Âncora, a única a ser referida a norte da Praia da Póvoa.

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Quer isso dizer que era, à época, a única? Não, definitivamente; mas era certamente a que tinha maior notoriedade e mais frequentada pelas famílias do norte do país.

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publicado por Brito Ribeiro às 11:01
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12
Fev 24

Conjunto de fotos de 1919 da Praia d'Âncora, já com as crianças em primeiro plano. Publicadas originalmente na revista "Illustração Portugueza".

Illustração Port 1919 - 712 copy.jpg

publicado por Brito Ribeiro às 14:59

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