Ambiente, história, património, opinião, contos, pesca e humor

04
Nov 20

Chegado o outono, entramos no ciclo anual das chuvas, importando conhecer os diferentes comportamentos das águas pluviais, consoante estamos em ambiente florestal, misto ou urbano.

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publicado por Brito Ribeiro às 10:54
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28
Ago 19

Com o verão chega, geralmente, um período de férias, de descanso e de descontracção. Tempo de carregar baterias, na praia ou no campo, mas sempre aproveitando os apetecidos raios solares.

Portugal é dos países da Europa com mais tempo de sol por ano; nesta época o turismo de sol e praia invadem o litoral, mais a sul que a norte, porque nem todos gostam das nortadas e das águas frescas do oceano.

A exposição solar controlada, traz benefícios para a saúde ao nível das doenças dermatológicas, da estrutura óssea e da saúde mental.

As radiações emitidas pelo sol podem ser benéficas para o corpo humano, mas também podem encerrar riscos. Além da luz visível, o sol emite múltiplas radiações não visíveis, por isso mais traiçoeiras e perigosas. Destas destacam-se os raios ultravioleta B (UVB), imprescindíveis para a produção de vitamina D, mas responsáveis por queimaduras, danos no DNA e cancro cutâneo.

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Os raios ultravioleta A (UVA), contribuem para o envelhecimento precoce da pele, e os raios infravermelhos, responsáveis pelo aquecimento e pela temperatura ambiente, mas que recebido em excesso e continuamente na pele, danificam o colagénio, contribuindo também, para o envelhecimento.

Apesar de Portugal ser um país com muito sol, existe uma percentagem muito elevada de crianças com insuficiência de vitamina D, estando directamente relacionado com uma mudança do estilo de vida, com aumento do sedentarismo e redução de atividades ao ar livre.

Estima-se que a exposição diária ao sol, do rosto, pescoço e braços, durante 15-20 minutos, é suficiente para a produção da quantidade adequada de vitamina D. Porém, o vidro e os protetores solares bloqueiam a produção de vitamina D e as nuvens podem filtrar uma parte dos raios solares, mas as queimaduras são sempre possíveis, mesmo com o tempo nublado.

Desenganem-se se pensam que apenas na praia é necessário ter cuidado com a exposição exagerada ao raios solares.

A quantidade de UVB aumenta em 4%, de cada vez que subimos 300 metros de altitude. Também o poder de reflexão é diferente se estivermos perante neve (85%), areia (17%), água (5%) ou relva (3%). Desta maneira, na montanha, sobretudo com neve, aumentam exponencialmente os perigos inerentes aos raios UVB, devido à altitude e à reflexão.

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Os cuidados a ter com a exposição aos raios solares devem ser redobrados no caso de crianças, pois tem uma pela mais fina e mais sensível, pelo que a barreira ao sol é pouco eficaz e os raios ultravioleta penetram mais facilmente. O processo de pigmentação que protege a pele das crianças, está ainda pouco desenvolvido, a transpiração é pouco abundante, aumentando a sensibilidade às variações de temperatura, às queimaduras solares e à desidratação.

Estas agressões solares durante a infância alteram irreversivelmente o sistema de defesa cutâneo, os danos celulares são definitivos e ao longo da vida essa pessoa terá sempre uma pele vulnerável.

Os cremes protectores serão sempre uma protecção adicional, mas é necessário reter, que a melhor solução passa por uma exposição progressiva, evitar as horas de maior intensidade solar, manter-se hidratado e alternar pequenos períodos de exposição, com descanso nas sombras e ambientes mais frescos.

publicado por Brito Ribeiro às 15:05
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A concessão da prospecção e exploração de lítio, um mineral de importância estratégica para incorporar em baterias de alto rendimento, tem dividido opiniões, tanto mais que uma das zonas em causa é na Serra D’Arga.

A fazer fé nas declarações do Ministro da Economia, Pedro Cisa Vieira, o Governo prepara-se para lançar oito novos concursos até ao final do ano, para exploração de lítio.

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Os interesses são imensos e envolvem as maiores empresas de extracção mineira nível mundial. Em Portugal existem minas de extracção de lítio para a indústria cerâmica, mas nenhuma extrai o óxido do mesmo mineral para as baterias dos carros eléctricos, que é o ponto de viragem que tem revolucionado o sector. Espera-se que em 2025 a procura de lítio em todo o mundo esteja nas 300.000 toneladas anuais, necessárias para satisfazer a crescente reconversão da indústria automóvel, na migração entre o motor de combustão e o motor eléctrico. Isso implicará o aumento em dez vezes a necessidade do lítio em relação à procura actual.

É o cenário ideal para a especulação e as grandes empresas mineiras encaram a posse de concessões, como activos seguros de um mineral que já se valorizou 200% nos últimos três anos.

No caso concreto da Serra d’Arga, soube-se que a empresa concessionária terá desistido da prospecção, mas não é seguro que outra empresa não tome o lugar da primeira.

Por outro lado, no Fojo (concelhos de Melgaço, Monção e Arcos de Valdevez), estão referenciados mais de 70 Km2 de área de prospecção e pesquisa de minerais, designadamente de lítio. Esta área inclui a zona da nascente do rio Vez e a aldeia de Sistelo, altamente valorizada nos roteiros de turismo de natureza.

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Seja na Serra D’Arga ou no Fojo, com a exploração mineral de lítio, fica em risco de colapso toda a promoção e valorização territorial, baseado na qualidade do ar, da água, da paisagem e da vida rural, aquilo que alguns gostam de designar como “mosaico de paisagens”.

A importância do lítio não deve ser posta em causa, mas não se pode pôr em risco o potencial turístico da região, nem da qualidade de vida das populações, que veriam o seu cotidiano sofrer brutais alterações e não são as meras promessas de estudos de impacto ambiental que sossegam os corações e as mentes sobressaltadas. Todos nós sabemos o que representam os estudos de impacto ambiental perante os interesses económicos.

É fundamental que os nossos autarcas se posicionem inequivocamente na salvaguarda dos interesses das populações, do património natural e da coesão territorial, sem ceder às pressões políticas e económicas vindas de onde vierem.

publicado por Brito Ribeiro às 14:59
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06
Abr 19

Está cada vez mais na ordem do dia a questão dos impactos do plástico no meio ambiente e na cadeia alimentar.

Cerca de 80% de todo o lixo marinho é composto por plástico e a tendência é para aumentar. Por ano são despejados, directa ou indirectamente nos oceanos perto de 13 milhões de toneladas de plástico, desde garrafas, sacos, embalagens ou equipamentos de pesca.

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Os plásticos são fabricados a partir de petróleo e persistem no meio ambiente durante séculos. O plástico nunca se degrada completamente, apenas se decompõe em pedaços de menor dimensão. A grande maioria dos bocados de plástico no oceano tem menos de 5 milímetros de tamanho, pelo que os peixes muitas vezes os confundem com fitoplâncton.

Todas as espécies de tartarugas marinhas, metade dos mamíferos marinhos e um quarto das aves marinhas já foram emaranhados ou ingeriram plástico/lixo marinho.

Isto significa que qualquer pessoa que consuma uma “quantidade média” de peixe e marisco ingere aproximadamente 11.000 partículas de plástico por ano, o que é um pouco assustador se considerarmos que a exposição excessiva a produtos químicos/componentes do plástico pode originar certos tipos de cancro, distúrbios imunológicos e obesidade.

É preciso reduzir drasticamente a utilização de plástico descartável e mudar a forma como nós, enquanto cidadãos e consumidores, nos relacionamos com estes materiais. Será necessária uma verdadeira revolução na sociedade, desde o Estado, a industria e o consumo, para alterar radicalmente o paradigma existente, algo que se me afigura difícil nos tempos mais próximos.

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No entanto, há um conjunto de acções que podem ser facilmente implementadas por cada um de nós no dia-a-dia. Coisas tão fáceis como reduzir o consumo de embalagens plásticas, reutilizar as embalagens evitando o uso único ou encaminhando o plástico descartável para a reciclagem. Ao fim ao cabo, promover a política dos 3 Rs, Reduzir, Reutilizar e Reciclar.

Por exemplo, garrafas, copos, palhinhas, cotonetes, toalhitas ou sacos podem ser alvo de medidas domésticas tendentes a reduzir ou mesmo abolir o seu consumo.

Em Portugal, a sensibilização sobre o impacto das escolhas individuais no meio ambiente está a aumentar. Nos últimos dois anos, o uso de sacos de plástico leves tem diminuído substancialmente com a aplicação da Legislação Europeia, aplicando-se uma taxa adicional sobre a sua utilização.

Prova-se assim que é possível criar alternativas sustentáveis ao consumo desregrado de plástico com medidas bem ponderadas, pelo que o Estado, os seus agentes locais como as autarquias e até as associações de defesa do ambiente tem uma palavra importantíssima no novo ciclo que desejamos:

  • Influenciar a comunidade a ter comportamento responsável e hábitos de consumo amigos do ambiente.
  • Criar uma consciência ambiental que promova a utilização de alternativas à louça descartável na restauração e eventos (musicais, gastronómicos, etc.)
  • Garantir que a separação de embalagens de plástico seja sempre efectuada, eliminando-se as principais barreiras (distancia ao ecoponto e disponibilidade de equipamento para separação no estabelecimento (restauração, comércio e industria).
  • Maior conhecimento, lançando o Guia de boas práticas ambientais para o canal HORECA (hotéis, restaurantes e cafés), premiando atitudes sustentáveis.

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Temos de persistir na atitude de compromisso de todos para avançar com a transição necessária, utilizando melhor os recursos, contabilizando todos os custos e malefícios do plástico, reduzindo assim o impacte dos plásticos descartáveis no Ambiente e no meio marinho em particular.

Sem dúvida, este é o caminho.

 

 

 

publicado por Brito Ribeiro às 10:59
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23
Jan 19

As alterações climáticas podem tornar Portugal mais seco, sem praias e sem turismo. Igualmente a agricultura, a pesca e até o vinho irá ser afectado.

No espaço de meio século, Portugal pode tornar-se mais desértico se as temperaturas e o nível do mar continuarem a aumentar ao ritmo actual.

Desde 1976, a temperatura média subiu a uma taxa de 0,36 graus centígrados por década, mais do dobro da taxa de aquecimento registada para a temperatura média mundial. A precipitação tem vindo a cair e no sul de Portugal diminuiu, desde 1960 cerca de 200 milímetros, o que configura uma diminuição entre 30 a 40% da precipitação total da zona.

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No Minho, uma das regiões com maior precipitação da Europa, a diminuição de precipitação não é significativa, mas os fenómenos de concentração dos períodos de chuva e secas prolongadas, alteram e condicionam gravemente os ciclos de vida da produção vegetal, provocam inundações em territórios urbanos mal planeados e sem infra-estruturas capazes para escoamento do fluxo anormal das águas pluviais.

Portugal está já a sentir os efeitos das alterações climáticas os grandes incêndios e a erosão costeira são exemplo disso, mas outras áreas estão em risco como o sobreiro e a azinheira, que podem não resistir por muitas mais décadas.

Embora as mudanças climáticas não afectem muito o cotidiano dos portugueses, basta olhar para os problemas do norte de África, aqui tão perto, para se aquilatar do dramatismo da situação. É verdade que nos países desenvolvidos os problemas são mais facilmente resolvidos devido a condições económicas mais favoráveis, mas a situação africana está a influenciar indelevelmente a sociedade europeia, que se vê a braços com milhares de migrantes fugindo da fome que grassa nos seus países.

O diagnóstico está feito e é tempo de agir, no sentido de minimizar os efeitos das alterações climáticas: uso mais eficiente da energia, privilegiar as energias limpas e reduzir a desflorestação.

Donald Trump ao retirar os EUA do acordo de Paris, está apenas a dar cobertura ao poderoso lobby dos combustíveis fosseis, com uma atitude egoísta e estupida, remetendo para as futuras gerações a solução ou pelo menos, a mitigação do problema.

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As alterações climáticas são reais, estão a afectar negativamente a vida na Terra, estão comprovadas cientificamente e é preciso centrar as atenções no combate que está a ser desenvolvido um pouco por toda a parte.

As alterações climáticas não vão apenas afectar meros desconhecidos, as pessoas do futuro; serão já os nossos filhos e os nossos netos a serem prejudicados se não fizermos nada.

A melhor forma de lidar com as alterações climáticas é envolver os jovens, torna-los parte da solução, exortando-os a consumir menos, de forma mais responsável e sustentável, para que a Península Ibérica não tenha no futuro o clima que hoje tem o Norte de África.

Independentemente da escala global do problema, não será de desprezar que as nossas autarquias trilhem convictamente caminhos na racionalização do consumo de energia, da implementação da política dos 3R (reciclar, reduzir e reutilizar), da minimização dos riscos de incêndio e da rearborização dos espaços públicos.

publicado por Brito Ribeiro às 15:25
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17
Set 17

Os equipamentos hidroelétricos em Portugal tiveram o seu início em 1884, com o aproveitamento de uma pequena queda de água, para fornecer energia elétrica à Real Fábrica de Fiação, em Tomar.

Em 1912 é constituída a Companhia Hidroelétrica do Coura, que vai construir e explorar a central de Covas, no Rio Coura. A Electra del Lima, em 1908, propunha-se rentabilizar as águas do Rio Lima, convertendo a potência hidráulica em energia elétrica. Assim foi construída a primitiva barragem do Lindoso entre 1915 e 1922, constituída por um muro de 5 metros de altura em alvenaria e por uma central de 8.750 kVA, naquela época a mais importante do país. Em 1922 a barragem foi elevada para 22,5 metros e até 1951 foram introduzidos outros melhoramentos ao nível do canal de derivação e do aumento de potência, que já então se cifrava em 92.500 kVA.

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Face ao aumento de consumo de eletricidade, em 1960 foi pedido ao governo autorização para proceder a estudos de ampliação do empreendimento do Lindoso. Em 1992 iniciaram-se as obras da segunda geração da barragem, designada por Alto-Lindoso, com 110 metros de altura, 21 de espessura na base e 4 no coroamento. Esta barragem deu origem a uma albufeira internacional com mais de mil hectares de área inundada e cerca de 350 milhões de metros cúbicos de água represada.

Este projeto hidroelétrico fez nascer, 17 quilómetros a jusante, o empreendimento de Touvedo, com a função de regularizar os caudais turbinados no Alto-Lindoso. A irregularidade dos caudais descarregados no Alto-Lindoso provocariam cheias diárias e fortes efeitos erosivos, pelo que a barragem de Touvedo funciona como contra embalse, minimizando o impacto sobre o ecossistema ribeirinho e permitindo condições seguras de utilização do rio a jusante, até à foz.

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No entanto, as opções técnicas destas grandes barragens, no que diz respeito aos recursos naturais da bacia do Lima, levadas a cabo nos anos oitenta e noventa do século passado, foram exclusivamente para desenvolvimento de produção energética, mas à custa de irreparáveis perdas nos recursos dos solos, da paisagem e das populações. Em concreto foi uma ação autoritária, humanamente exógena e destinada a organizar o território, prosseguindo fins energéticos.

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Estávamos pois, nos anos oitenta e noventa do século passado e estas opções técnicas estavam já desarticuladas das incipientes políticas de ambiente e de proteção dos recursos naturais que então despontavam.

As alterações nas atividades humanas (deslocamento de populações, redução da agricultura e terras de pastagem, inundação de sítios e monumentos de valor arqueológico e cultural), na saúde pública, na fauna, na vegetação e no meio aquático (alteração das correntes, modificação da qualidade das águas, diminuição do transporte de sedimentos, eutrofização da água e aumento da evaporação), são impactos negativos, permanentes e sem possibilidade de retorno.

Este caso do Alto-Lindoso e Touvedo causou a artificialização das margens e vale do Lima em mais de 35 quilómetros, dos quais mais de 7 quilómetros são de leito morto (a jusante da atual barragem do Lindoso), inviabilizando a vida e reprodução dos grandes migradores Atlânticos, que secularmente desempenhavam as funções vitais e genéticas nas águas vivas do Lima.

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Concluo com a convicção que não se aprendeu a lição, face ao recente exemplo da barragem do Tua, onde, mais uma vez, as opções técnicas adotadas, vão provocar um dano ambiental e humano, grave e irreparável.

 

Bibliografia consultada: “Uma perspectiva de ecologia humana. O caso da barragem do Alto Lindoso na zona serrana do Minho-Lima” de José da Cruz Lopes

 

 

publicado por Brito Ribeiro às 15:20
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18
Ago 17

Em Outubro de 2016 publiquei na revista "Vale Mais" um artigo sobre as consequências dos incêndios florestais. Procurei sintetizar e expor de forma clara e objectiva as implicações deste flagelo na vida das pessoas. Hoje, mais que nunca, o artigo parece-me actual.

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Neste número da revista Vale Mais não podia deixar de reflectir sobre o drama recorrente dos incêndios florestais. Durante o verão que agora finda (2016), Portugal foi fustigado por inúmeros fogos de grandes dimensões, que destruíram uma parte significativa do seu espaço rural e até de núcleos populacionais como o caso do Funchal. Isto repete-se todos os anos, com maior ou menor dimensão, dependendo de factores tão imprevisíveis como o vento, a humidade, a temperatura ou a quantidade de material combustível presente no solo.

Parece ser consensual que a maioria esmagadora das ignições é de origem humana, algumas por negligência, muitas intencionais. E a justiça entra na dança, prende, solta, volta a prender e os incendiários continuam por aí, geralmente conotados com o alcoolismo ou demência, sem se averiguar verdadeiramente as motivações e quem lucra de forma directa ou indirecta com esta calamidade.

O que é certo, é que a madeira queimada continua a vender-se ao preço da “uva mijona” e um sector como a silvicultura, que em Portugal tem um potencial avaliado em vários milhares de milhões de euros, com capacidade de gerar muitos milhares de postos de trabalho, continua a ser encarado como o parente pobre da economia, gastador de recursos e fomentador de canseiras e perigos.

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Vejamos, de forma resumida, as consequências dos incêndios florestais e os impactos que causam na natureza e na sociedade:

 

  • Depreciação cénica na paisagem 

O impacto visual após um incêndio florestal é terrível;

 

  • Morte de plantas

É o efeito mais visível e causa os mesmos problemas da desflorestação massiva;

 

  • Perdas humanas

Quase todos os anos há a lamentar a perda de vidas humanas ou ferimentos mais ou menos graves, sejam de populações ou de bombeiros;

 

  • Destruição de bens materiais

Aspecto cada vez mais mediatizado com as perdas de habitações, equipamentos e culturas agrícolas;

 

  • Quebra de receitas para o turismo

Facilmente se percebe das consequências dos incêndios no turismo de natureza;

 

  • Perda de material lenhoso

A floresta é uma fonte de receita por parte dos seus proprietários. Após a passagem de um incêndio o valor comercial do material lenhoso desce consideravelmente, perdendo mesmo, em algumas situações, todo o seu valor;

 

  • Perda de receita proveniente da resinagem

É uma actividade que estava a renascer, após longos anos de inactividade que sofre um duro golpe na área de pinhal;

 

  • Destruição de apiários

Quer a destruição das colmeias, quer a destruição dos locais de alimentação das abelhas, representam uma quebra de produtividade na apicultura e uma diminuição da acção de polinização das abelhas nas plantas silvestres;

 

  • Perda de biodiversidade

Toda a fauna e flora de uma área ardida é gravemente afectada e dependendo da intensidade, existem plantas e animais que, no limite, se extinguem.

Foi o que aconteceu no incêndio de 2010 nas serras da Madeira em que a única população de “Sorbus maderensis”, espécie endémica da ilha da Madeira, foi extinta do seu habitat natural. Valeu na altura a existência de plantas em viveiro da Direcção Regional de Florestas e Conservação da Natureza provenientes daquele local, promovendo-se à posterior instalação de novos exemplares. A população da freira-da-madeira, “Pterodroma madeira”, ave endémica da Madeira, foi na mesma altura gravemente afectada pelo mesmo incêndio;

 

  • Emissões de CO2

Um incêndio tem um efeito duplamente negativo ao nível das emissões, na medida que origina a libertação de gases com efeito estufa, como reduz a capacidade de absorção e armazenamento de CO2.

Outro factor associado às emissões é a emissão dos fumos que poderão causar constrangimentos respiratórios, além de dificultarem a logística operacional no combate com meios aéreos;

 

  • Perda de Solo

Os incêndios provocam a destruição das árvores e do coberto vegetal do solo ficando o mesmo mais susceptível à acção directa da chuva e dos ventos, podendo em zonas com maior pluviosidade e de maior pendente existir arrastamento do solo e empobrecimento por arrastamento dos nutrientes. Este fenómeno poderá igualmente provocar a contaminação de linhas de água;

 

  • Perigo de aluviões e enxurradas

As áreas afectadas por incêndios florestais, principalmente as zonas mais declivosas, tornam-se mais vulneráveis a arrastamento de massas de solo;

 

  • Surgimento de espécies invasoras

Após um incêndio as primeiras plantas a colonizarem o espaço afectado são as plantas invasoras. A expansão rápida destas espécies, algumas bem adaptadas ao fogo, como a haquea-picante, “Haquea cericia”, contribuem para a perda de biodiversidade e consequente aumento da incidência de novos incêndios;

ng8603657.JPGEstá a gerar alguma expectativa a decisão de promover durante o mês de Outubro, um Conselho de Ministros exclusivamente dedicado a tomar decisões sobre a problemática dos incêndios florestais, que ultrapassem o velho paradigma da contabilidade dos meios de combate envolvidos em cada fase Charlie ou outra qualquer designação técnica, para consumo imediato e paliativo, numa televisão perto de si.

publicado por Brito Ribeiro às 15:38
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08
Nov 16

Os portugueses são os terceiros maiores consumidores de peixe a nível mundial, mas esta referência gastronómica pode estar em risco, devido às alterações climáticas, poluição, má gestão dos recursos e sobre exploração dos pesqueiros.

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Desde meados do século vinte que o consumo de peixe tem vindo a subir e estima-se que 90% dos recursos pesqueiros estejam sobre explorados ou no limite da sustentabilidade.

Desde 1961 que o crescimento do consumo está nos 3,2% ao ano, representando cerca de 160 milhões de toneladas anuais, ou seja, mais de 435.000 toneladas diárias.

Igualmente, a aquacultura tal como tem sido desenvolvida, não é solução; para produzir um quilo de dourada são precisos um quilo e meio de ração seca, a qualidade do produto final é discutível e não raras vezes portadores de substâncias nocivas à saúde humana. 62% da produção em aquacultura está localizada na China.

Hoje em dia, os produtos da pesca são praticamente os únicos alimentos "selvagens" consumidos regularmente nos países Ocidentais.

Um dos riscos que se corre na gestão da exploração de uma espécie é a sua sobre-exploração. Ou seja, poderá haver um excesso de capturas que ultrapassa a sua capacidade natural de reposição, tendo em conta as suas taxas de reprodução, de mortalidade e o lugar que ocupa na cadeia alimentar. E a insistência nesta forma de exploração durante algum tempo, essa população, ou mesmo a espécie, pode extinguir-se.

Por exemplo, isso aconteceu com o stock de bacalhau na Terra Nova, Canadá, que colapsou em 1992 devido ao excesso de pesca. Mesmo depois da implementação de várias medidas de proteção ao bacalhau ainda não recuperou satisfatoriamente nessa área.

Em Portugal, também há recursos pesqueiros como o lagostim e pescada que foram avaliados como “sobre explorados” em 2004 e apesar da União Europeia ter imposto um plano de recuperação em ambos os casos, em 2009 o estatuto dos stocks de lagostim portugueses foram considerados como "indefinidos", e o estatuto dos stocks da pescada mantinham-se como "sobre explorados".

No entanto, a maioria da pesca no nosso país é artesanal e costeira, feita em embarcações de pequeno porte e pescando para consumo local. Este tipo de atividade tem impacto ambiental geralmente menor do que a pesca industrial, em que são usadas embarcações de grande dimensão e artes de pesca menos sustentáveis como o arrasto.

A pesca em Portugal também é centrada em espécies em bom estado de conservação, o que contribui para reduzir o problema da sobre exploração, como o esforço para que os stocks nacionais da sardinha, espécie emblemática da nossa gastronomia, voltem a ser sustentáveis.

Tendo em conta a atual situação na exploração de pescas a nível mundial e o crescimento da população humana previsto para as próximas décadas, é provável termos de lidar no futuro com problemas cada vez mais graves, relacionados com a sustentabilidade dos recursos pesqueiros. Por isso, é recomendável respeitar os limites de capturas apontados pelos cientistas, para que esses recursos continuem a ser renováveis.

Os recursos naturais são esgotáveis quando usados de uma forma inconsciente, constatando-se que os mesmos são encarados apenas como matéria-prima no que se refere ao seu processo produtivo. Um aspeto fundamental para a mudança, destaca a perceção do mundo encarado como máquina, dando lugar a um mundo como sistema vivo. A mudança exigida diz respeito à perceção da natureza, do homem e da sociedade nas suas diferentes formas de organização. O novo paradigma necessita ser acompanhado por uma alteração positiva e significativa de valores, reforçando o “salto” da expansão para a conservação, da quantidade para a qualidade, da denominação para a parceria.

 

publicado por Brito Ribeiro às 15:15
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20
Jul 16

A figura imponente do lobo remete-nos para um imaginário misterioso com origem muito antiga. Até à atualidade, este predador de topo gerou mitos e histórias assombrosas, onde as noites de nevoeiro, as fogueiras, as sombras ameaçadoras e os uivos lancinantes fazem parte desse mesmo imaginário.

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O lobo-ibérico (Canis lupus signatus) é uma subespécie do lobo cinzento ameaçado de extinção em Portugal, perseguido por caçadores furtivos, venenos, armadilhas e pela destruição progressiva do seu habitat.

Cientes do perigo do seu desaparecimento, foi criada uma lei específica e vários projectos de conservação, congregando investigadores, organizações cívicas e autoridades.

O Parque Nacional da Peneda Gerês (PNPG) é o mais importante reduto do lobo ibérico em estado selvagem do noroeste peninsular, onde dificilmente se alimenta das suas presas naturais, como o corço ou o javali. Geralmente a alimentação escasseia, obrigando as alcateias a atacar rebanhos de ovinos e caprinos, gado vacum e garranos semi selvagens. Lobos e homens partilham este território há séculos e isso cria naturalmente conflitos com as comunidades locais, devido aos prejuízos causados nos rebanhos.

O PNPG é classificado pela UNESCO como Reserva Mundial da Biosfera e justamente considerado uma das maiores atracções naturais de Portugal, pela impressionante beleza paisagística, pela variedade de fauna e flora e pelo interesse ecológico e etnográfico. É a mais antiga área protegida de Portugal e a única com a categoria de Parque Nacional, sendo o único parque da Península Ibérica com a restrita classificação de PAN Park, dada a sua extensa área selvagem e a sua riqueza natural e cultural.

Nos últimos tempos os lobos tem vindo a atacar com bastante frequência e com uma audácia crescente, rebanhos e cabeças de gado, quer no monte durante o pasto, quer junto às habitações, quando já estão recolhidas.

Os produtores de gado estão muito preocupados e revoltados, porque a lei que protege os lobos, contem também mecanismos de salvaguarda de prejuízos causados pelos predadores aos agricultores, só que as indemnizações chegam “tarde e mal” e cobrem em média 20% dos prejuízos reais. Queixas de que os técnicos do Estado demoram muito a confirmarem a morte dos animais, que o valor pago não corresponde ao valor real dos animais ou a não comparticipação nas despesas de tratamento dos animais feridos, bem como queixas de que os pagamentos demoram um ano ou mais, quando os produtores tem poucos dias para repor o efetivo, ouvem-se um pouco por todo o lado e o cenário restrito que se vivia nas comunidades agro pastoris do PNPG, alargou-se a zonas relativamente afastadas, com particular destaque para as zonas montanhosas dos concelhos de Paredes de Coura, Vila Nova de Cerveira e Caminha.

Juntando a componente cultural que atribui uma imagem negativa do lobo, aos prejuízos causados pelas alcateias, compreende-se a revolta das populações afetadas e por isso urge implementar medidas minimizadoras dos impactos causados, como a indemnização justa e célere dos prejuízos. A promoção de ações de sensibilização e educação ambiental poderá contribuir para a diminuição efetiva dos conflitos homem-lobo.

Uma das medidas que tem sido implementada (com alguma timidez, diga-se), é a utilização de cães de gado para proteção dos rebanhos, mas que segundo os técnicos tem vindo a revelar-se de grande eficácia, promovendo-se também a divulgação de raças caninas portuguesas como o cão Castro Laboreiro, o Serra da Estrela, o Rafeiro Alentejano e o cão de gado transmontano (no Parque Natural de Montesinho). A redução geral dos prejuízos nos rebanhos assim protegidos, tem levado à adesão progressiva dos pastores a esta prática antiga, que tinha caído em desuso nas últimas décadas.

É também necessário implementar medidas que melhorem o rendimento económico das populações rurais, designadamente, promovendo o ecoturismo que tire partido de aspetos biológicos deste animal e do património cultural a ele associado, de modo a que as receitas geradas esbatam a conotação negativa associada ao lobo.

publicado por Brito Ribeiro às 18:58
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05
Jun 16

Com mais uma época estival à porta, a “Praia das Crianças” espera os seus utentes, miúdos e graúdos que vem descansar e gozar as delícias do sol, das águas frescas do Atlântico e da brisa fresca do quadrante norte. Assim o permita o S. Pedro, não nos brindando com aquelas nortadas tão características ou pegajosos e tristonhos nevoeiros.

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A Bandeira Azul que irá ostentar no alto do mastro maior, representa não só a boa qualidade das águas balneares, como também o esforço conjugado que tem sido feito nos últimos anos para controlar os parâmetros sanitários das águas do Rio Âncora.

No entanto o galardão alcançado não pode enquistar à volta da qualidade das águas e dos equipamentos legalmente exigidos, mas ser mais abrangente, nomeadamente às condições de acessibilidade e à qualidade e limpeza das areias. E aqui reside a razão do meu reparo de hoje. O areal entre o “Redondo” e o “Cais Sul”, lugar conhecido entre os Ancorenses por “Moureiro”, não tem a qualidade a condizer com os pergaminhos da “Praia da Crianças”.

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Antes da construção dos molhes do novo Porto de Mar, toda a zona do “Moureiro” era invadida pelo mar nos meses de inverno que trazia e levava areia consoante as condições momentâneas da dinâmica costeira. Assim a areia era lavada, expurgada de poeiras e outros resíduos, pronta a ser utilizada no verão seguinte sem reparos de maior. A crítica que mais se escutava era, por vezes, que o mar não repunha areia suficiente e as pedras ficavam à vista pelo meio do areal. Nada a que os veraneantes não estivessem habituados.

Hoje em dia a situação é diametralmente diferente, pois a areia foi-se acumulando e já não é “sovada” pelo mar, devido ao efeito de corte/desvio de ondulação proporcionado pelos novos molhes. De ano para ano nota-se mais poeira no areal, perdeu o característico tom brilhante e em dias de vento é um suplício com nuvens de poeira no ar. Outro sinal preocupante é a facilidade com que surgem no areal pequenas plantas, sinal inequívoco de condições de colonização vegetal, algo que não era suposto haver naquele local.

Em minha opinião, já se deviam ter implementado medidas minimizadoras deste fenómeno, baixando mecanicamente o perfil da praia em cada outono, de modo a que o mar faça as suas investidas invernais e proceda à remoção das poeiras (ou “finos”) acumuladas, trazendo na primavera seguinte areias devidamente higienizadas.

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Além disso, da maneira como a praia está neste momento, com a areia, em vários pontos, quase ao nível da avenida marginal, corre-se o risco de num dia de temporal, com mar de sudoeste, este galgue o paredão, invada a via pública e o casario, provocando danos de vulto. Calculo que o nível da praia neste local tenha subido em média entre 1,5 m e 2 metros.

Termino como como comecei, referindo a satisfação pela qualidade das nossas águas balneares, que levaram à conquista da Bandeira Azul Europeia. Vamos lá a ver se não a perdemos pela falta de qualidade/higiene do areal…

 

 

publicado por Brito Ribeiro às 16:49

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