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Set 17

Os equipamentos hidroelétricos em Portugal tiveram o seu início em 1884, com o aproveitamento de uma pequena queda de água, para fornecer energia elétrica à Real Fábrica de Fiação, em Tomar.

Em 1912 é constituída a Companhia Hidroelétrica do Coura, que vai construir e explorar a central de Covas, no Rio Coura. A Electra del Lima, em 1908, propunha-se rentabilizar as águas do Rio Lima, convertendo a potência hidráulica em energia elétrica. Assim foi construída a primitiva barragem do Lindoso entre 1915 e 1922, constituída por um muro de 5 metros de altura em alvenaria e por uma central de 8.750 kVA, naquela época a mais importante do país. Em 1922 a barragem foi elevada para 22,5 metros e até 1951 foram introduzidos outros melhoramentos ao nível do canal de derivação e do aumento de potência, que já então se cifrava em 92.500 kVA.

Barragem de Aldeadávila 1.jpg

Face ao aumento de consumo de eletricidade, em 1960 foi pedido ao governo autorização para proceder a estudos de ampliação do empreendimento do Lindoso. Em 1992 iniciaram-se as obras da segunda geração da barragem, designada por Alto-Lindoso, com 110 metros de altura, 21 de espessura na base e 4 no coroamento. Esta barragem deu origem a uma albufeira internacional com mais de mil hectares de área inundada e cerca de 350 milhões de metros cúbicos de água represada.

Este projeto hidroelétrico fez nascer, 17 quilómetros a jusante, o empreendimento de Touvedo, com a função de regularizar os caudais turbinados no Alto-Lindoso. A irregularidade dos caudais descarregados no Alto-Lindoso provocariam cheias diárias e fortes efeitos erosivos, pelo que a barragem de Touvedo funciona como contra embalse, minimizando o impacto sobre o ecossistema ribeirinho e permitindo condições seguras de utilização do rio a jusante, até à foz.

Barragem do Alto-Lindoso 3.jpg

No entanto, as opções técnicas destas grandes barragens, no que diz respeito aos recursos naturais da bacia do Lima, levadas a cabo nos anos oitenta e noventa do século passado, foram exclusivamente para desenvolvimento de produção energética, mas à custa de irreparáveis perdas nos recursos dos solos, da paisagem e das populações. Em concreto foi uma ação autoritária, humanamente exógena e destinada a organizar o território, prosseguindo fins energéticos.

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Estávamos pois, nos anos oitenta e noventa do século passado e estas opções técnicas estavam já desarticuladas das incipientes políticas de ambiente e de proteção dos recursos naturais que então despontavam.

As alterações nas atividades humanas (deslocamento de populações, redução da agricultura e terras de pastagem, inundação de sítios e monumentos de valor arqueológico e cultural), na saúde pública, na fauna, na vegetação e no meio aquático (alteração das correntes, modificação da qualidade das águas, diminuição do transporte de sedimentos, eutrofização da água e aumento da evaporação), são impactos negativos, permanentes e sem possibilidade de retorno.

Este caso do Alto-Lindoso e Touvedo causou a artificialização das margens e vale do Lima em mais de 35 quilómetros, dos quais mais de 7 quilómetros são de leito morto (a jusante da atual barragem do Lindoso), inviabilizando a vida e reprodução dos grandes migradores Atlânticos, que secularmente desempenhavam as funções vitais e genéticas nas águas vivas do Lima.

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Concluo com a convicção que não se aprendeu a lição, face ao recente exemplo da barragem do Tua, onde, mais uma vez, as opções técnicas adotadas, vão provocar um dano ambiental e humano, grave e irreparável.

 

Bibliografia consultada: “Uma perspectiva de ecologia humana. O caso da barragem do Alto Lindoso na zona serrana do Minho-Lima” de José da Cruz Lopes

 

 

publicado por Brito Ribeiro às 15:20
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