Nas proximidades da Foz do Minho, entre a Mata Nacional do Camarido e a praia do Cabedelo, havia um extenso areal que foi destruído pelas correntes incontroladas do mesmo curso de água.
Na década de vinte do século passado, uma seca de bacalhau e instalações para armazenagem e comercialização de peixe seco – sob a responsabilidade de Nazário Dantas Carneiro – tiveram pouco tempo de vida naquele espaço de terra, outrora formado por acumulação de areias e agora abrangido pelo estuário do Minho.
A seca do bacalhau e instalações anexas pertenciam à “Parceria de Navegação e Pesca – A Caminhense”, organizada por Dr. Francisco Odorico Dantas Carneiro, Delfino de Miranda Sampaio, padre Manuel Martins de Sá Pereira e outros em 1922. E a referida associação comunitária teve sede social e escritórios, cuja chefia pertenceu a Frederico Frezas Vital, no prédio da Rua da Corredoura, que actualmente tem os números 69 a 73, em Caminha.
A “Parceria de Navegação e Pesca – A Caminhense” teve ao seu serviço dois navios equipados para a pesca de bacalhau: “Rio Minho” e “Esposende III”. O objectivo da sociedade cooperativa era a pesca de bacalhau nos mares da Terra Nova, para secar e lançar no mercado da especialidade. E os dois lugres saíram do porto de Caminha, pela primeira vez, para a pesca de bacalhau, a 25 de Maio de 1923.
Lugres "Rio Minho" e "Esposende III" fundeados no estuário (1922)
O lugre “Rio Minho” foi construído em Caminha, pelo mestre construtor naval Manuel Ferreira Rodrigues em 1921, para o armador Dr. Francisco Odorico Dantas Carneiro e o seu registo na Capitania do porto de Caminha data de 23 de Fevereiro de 1922.
Entrou no porto de Caminha carregado de bacalhau, pela última vez, a 30 de Outubro de 1928. Em seguida foi vendido a um armador do Porto, sendo registado na Capitania do porto daquela cidade a 11 de Abril de 1929, com a denominação de “Silva Rios”.
O “Esposende III” saiu do porto de Caminha pela segunda (e última) vez, em 16 de Junho de 1924 com destino aos mares da Terra Nova e com dois dias de viagem, ao largo da cidade galega de Vigo encontrou mal tempo e naufragou.
A embarcação fora construída em Esposende por José Azevedo Linhares, tendo sido lançada à água em28 de Novembro de 1921. Era propriedade do armador Firmino Clemente Loureiro de Esposende e quando naufragou a 18 de Junho de 1924 navegava sob o comando de Manuel Ançã de Ílhavo.
Naquele naufrágio não se perderam vidas humanas, mas a associação comunitária sofreu prejuízos materiais muito elevados. Perdeu o navio com todo o seu equipamento, a carga destinada à manutenção do pessoal durante a permanência no mar e a oportunidade de realizar receitas em devido tempo. Teve ainda de suportar, sem contrapartidas, as despesas de repatriação, indemnização e salários dos tripulantes.
Lugre "Rio Minho" e crianças do colégio jesuita de Camposancos (1925)
O ancoradouro dos navios bacalhoeiros no porto de Caminha era no estuário do Minho, junto à seca de bacalhau. Ali morreu afogado em 8 de Fevereiro José Maria Martins Braga, casado, de 25 anos, natural de Vilarelho e morador em Caminha, por ter caído de um navio e desaparecido nas águas profundas do rio. O seu corpo apareceu na volta da Ponta da Ruiva a 26 de Fevereiro do ano referido.
A criação, o equipamento e as actividades da “Parceria de Navegação e Pesca – A Caminhense” deram a Caminha e Vilarelho um relativo surto de desenvolvimento económico e bem-estar social, pelo elevado volume de trabalhadores que ocuparam, em terra e no mar. A situação, porém, durou pouco tempo, porque algumas coisas cedo começaram a correr mal.
Os prejuízos resultantes do naufrágio do “Esposende III”, alguns erros de administração e a crise económica daquela época, em Portugal e no Mundo, tornaram a sociedade cooperativa economicamente inviável. Em 1928 os sócios mais influentes deliberaram suspender a actividade da “Parceria de Navegação e Pesca – A Caminhense”, cuja existência, ao que parece foi sempre irregular. E os pequenos accionistas foram as grandes vítimas daquela decisão: perderam a totalidade dos capitais investidos.
O vaivém dos navios de pesca de bacalhau, com lágrimas na despedida e alegria no regresso, durou pouco tempo no porto de Caminha. A população local mal chegou a vida que normalmente resulta da movimentação dos lugares bacalhoeiros noutros portos do país.
Apenas por circunstâncias imprevisíveis e adversas, que ultrapassaram a vontade, a esperança e a inteligência dos homens, a vila de Caminha e arredores perderam, naquela tempo, uma excelente oportunidade de acesso ao desenvolvimento económico e progresso social.
Fonte: Torcato Augusto Ferreira in Caminiana, Tomo 8, Junho de 1983