Terminamos estes apontamentos sobre o navio hospital "Gil Eannes" com a descrição do barco e as suas caracteristicas tecnicas, que para a época (1955) eram muito avançadas e cuja construção representou um sério desafio para os Estaleiros navais de Viana do Castelo.
Foi a construção nº 15 dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo. Sem dúvida, o maior desafio que se apresentou à empresa, desde que esta iniciou a sua actividade, tendo então apenas 11 anos de existência, já que os 14 navios anteriormente construídos, apesar de muito contribuírem para a consolidação e enraizamento de toda a estrutura produtiva eram de menor exigência técnica, de menor porte, e por isso, de maior simplicidade.
O "Gil Eannes", conhecido como "Navio Mãe da Frota Branca", foi projectado pelo Eng. Vasco Taborda Ferreira e foi concebido para ser um navio hospital, com a missão específica de dar apoio à nossa frota bacalhoeira.
Ao fim de 26 meses, depois de iniciados os trabalhos oficinais, porém, todas as dificuldades tinham sido ultrapassadas, demonstrando com evidência que nos ENVC se podia construir todo o tipo de navios, do mais simples ao mais sofisticado. O navio estava pronto a ser entregue.
Este "Gil Eannes" veio substituir um outro navio com o mesmo nome e que desempenhou ao longo dos anos a mesma missão nos mares da Gronelândia . É óbvio que o "Gil Eannes" que os ENVC construira dispunha de condições que o seu antecessor não poderia ter, já que não tinha sido feito para a actividade que desempenhou e só conseguida depois de reconvertido.
O "Gil Eannes", em 1955, na primeira viagem, iria assistir uma frota pesqueira de 70 unidades, com uma arqueação bruta de 64.093 toneladas e capacidade para 950 mil quintais de peixe, tendo a bordo cerca de 4.900 tripulantes.
Era um hospital flutuante. Composto por 3 pavimentos devidamente apetrechados para todas as situações hospitalares, a sua capacidade permitia-lhe receber até 70 doentes.
No primeiro pavimento, estavam instalados os gabinetes de consulta e de radiologia, apetrechados com o material mais moderno para a época.
Dispunha ainda de salas de espera e tratamento, câmara escura, enfermarias completamente isoladas para doentes infecto-contagiosos, com serviços sanitários e com privativos: camarotes dos dois médicos, capelão e biblioteca, alojamento para 12 convalescentes, refeitório e sala de estar, copa das restantes enfermarias, farmácia, depósito de medicamentos, arrecadação da roupa dos internados, lavandarias, secagem e engomarias comuns, etc.
No segundo pavimento, ficavam uma enfermaria para oficiais, outra para doentes em observação, com os respectivos serviços sanitários, a enfermaria geral com 40 camas subdivididas por divisórias, servidas por largas janelas que davam a possibilidade aos doentes de poderem assistir dos seus leitos e em conjunto à celebração da missa. A vante desta enfermaria, este pavimento dispunha também dos alojamentos dos enfermeiros, sala dos curativos e gabinete do enfermeiro de vela.
No terceiro pavimento, localizava-se o bloco operatório e de ortopedia, constituído por ampla sala de operações, apetrechada do necessário material, salas de desinfecção e esterilização, gabinete de agentes físicos e laboratório de análises.
Os três pavimentos ligavam-se por amplas escadas e elevador com maca para transporte de doentes. Em situações de emergência, a lotação do navio podia ir até aos 320 doentes.
O "Gil Eannes" dispunha, como se subentende, de local de culto. Para além da capela da enfermaria, possuía o navio de uma capelinha que abria a toda a largura da tolda, onde sobressaía um artístico painel a óleo, da autoria do pintor Domingos Rebelo, representando ao centro Nossa Senhora dos Mares e tendo aos lados um pescador e um grupo familiar.
A coordenação dos trabalhos de recuperação, que só se tornaram possíveis graças à colaboração dos ENVC e a cerca de duas dezenas de subempreiteiros, esteve a cargo do Sr. Gabriel Amorim, técnico dos ENVC.
CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS
Constr. Nº.: 15
Nome: Gil Eannes
Tipo: Navio Hospital
Sociedade Classificadora: Lloyds Register of Shipping
TDW: 2274 t
Tonelagem Bruta: 3467 t
Capacidade de Carga;
Frigorífica: 1502 m3
Dimensões Principais;
Comprimento Total: 98,40 m
Comprimento PP: 88,70 m
Boca: 13,70 m
Pontal: 8,00 m
Calado: 5,50 m
Motor;
Número Motores : 2
Designação : FAIRBANKS M.
Tipo : OIL 2SA
Potência (cv) : 1400 X 2
Velocidade (nós) : 14,3
Dispositivos Contra Incêndio
Tinha 2500 m2 de superfícies isoladas contra incêndio, sistema automático de inundação dos locais habitados por meio de chuva, e de um outro de alagamento dos porões de carga com gás carbónico, associado a um equipamento de detecção de fumos.
Sistema de Ventilação
Estava equipado com um sistema de ventilação bastante evoluído para época, dispondo para o efeito de uma caldeira de 50 m2 de superfície de aquecimento, que permitia uma temperatura ambiente de 18º C.
Reforço do Casco
O casco estava reforçado para a navegação em mares com gelo.
Instalações Hospitalares;
Bloco Operatório;
Gabinete de agentes físicos
Sala de desinfecções
Laboratório de análises
Casa de RX de emergência
Sala de esterilizações
Sala de operações
Elevador
Enfermarias;
Enfermaria S.O. para (6 pessoas)
Enfermaria de oficiais (4 pessoas)
Enfermaria geral (40 pessoas)
Enfermaria de doentes contagiosos (8 pessoas) + 2 camarotes privados (4 pessoas)
Sala de tratamentos
Alojamento para convalescentes (12 pessoas)
Gabinete de radiologia
Consultório médico
Casa de desinfecção
Farmácia
Lavandaria de Hospital + Lavandaria para uso geral
Secagem e engomaria
Tripulação;
Comandante
Imediato
3 Telegrafistas
2 Pilotos
Oficial Delegado da Marinha
4 Máquinistas
5 Ajudantes de Máquinista
2 Médicos
6 Enfermeiros
1 Capelão
1 Dispenseiro
1 Paioleiro da Máquina
2 Cozinheiros
1 Padeiro
1 Ajudante de Cozinha
1 Carpinteiro
1 Contra Mestre
14 Marinheiros
12 Criados
6 Ajudantes de Motorista
2 Lavadeiros
Estava ainda equipado com camarotes para alojar 5 passageiros
Entrega: Maio 1955
Armador: Grémio dos Armadores de Navios de Pesca do Bacalhau