Ambiente, história, património, opinião, contos, pesca e humor

06
Abr 12

Se há algo que distingue Vila Praia de Âncora de outras localidades do Alto Minho é a beleza da sua frente atlântica. A “praia das crianças”, como é conhecida, é banhada por um mar benévolo e por um rio que se passeia lento, serpenteando entre dunas até desaguar no meio do areal dourado.

 

 

 

 1950 Foz do Rio Âncora

 

Desde o início do século vinte que a Praia de Âncora é o destino de famílias inteiras que vinham a banhos e que por aqui ficavam durante vários meses. Outros tempos, que corriam devagar, onde as casas alugadas, modestas e simples, eram apalavradas de ano para ano. As barracas de praia, sempre colocadas no mesmo local, tinham por vizinhança as mesmas pessoas ao longo dos anos e as crianças de ontem, constituíam famílias hoje, para amanhã serem os seus filhos a perpetuar a renovação geracional.

Depois do 25 de Abril, as alterações mais visíveis foram ao nível da construção com o proliferar de imóveis de gosto e qualidade medíocre, que transformaram Vila Praia de Âncora, a pacata vila minhota, numa caótica povoação com um sector imobiliário desordenado onde cada um fazia o que melhor convinha aos seus interesses pessoais, secundarizando-se o bem-estar e o interesse público.

A abertura de novas estradas facilitou a circulação de turistas, a multiplicação de restaurantes, cativou mais visitantes e aos poucos a Praia de Âncora tornou-se cosmopolita, destino de moda de um turismo massivo que cria diversas dificuldades e que não aporta qualquer factor de diferenciação positiva.

É verdade que Vila Praia de Âncora também nunca se preparou para ser um destino turístico de qualidade. Desde logo a insuficiência de camas “legais” distribuídas por hotéis, residenciais e outros estabelecimentos hoteleiros. Continua, tal como antigamente, o negócio do aluguer de casas e apartamentos, a par com o aluguer de quartos nas casas particulares junto à praia.

Por outro lado a gastronomia oferecida não se consolidou com o tipicismo que se impunha a um porto de mar onde o peixe fresco devia ser uma constante. É caricato o Turismo (RTAM) andar durante vinte anos a promover a “Caldeirada à Tio Feito” e de repente, a organização que lhe sucedeu, deixou “cair” este prato para promover outra iguaria à base de polvo.

É grave e incompreensível que em Vila Praia de Âncora se esteja a destruir um património único como a paisagem, com a construção despropositada de equipamentos de interesse muito relativo no Campo do Castelo, o que configura mais um desperdício de dinheiro absolutamente injustificável. Face aos problemas estruturais que o porto de mar tem desde a sua construção, fazia todo o sentido ter aplicado esta verba na correcção dos erros cometidos, contribuindo assim para a melhoria das condições de trabalho e segurança, não só da comunidade piscatória local, mas da activa comunidade náutica da região.

Outro problema na área paisagista prende-se com a destruição do monte no Lugar da Póvoa onde uma exploração de pedra de grandes dimensões deixou uma cratera indisfarçável e cujo impacto é muito difícil de minimizar. Agora que a empresa está às portas da falência, o monte vai acabar por assim ficar e mais uma vez “quem se lixa é o mexilhão”, que é como quem diz, Vila Praia de Âncora é mais uma vez prejudicada.

Mais exemplos podia continuar a dar, ficam para a próxima, mas de uma coisa estou certo, a Praia de Âncora vai continuar a ser a “praia das crianças”, apesar daqueles que mais obrigação tem, pouco ou nada fazerem pela sua dignificação.

publicado por Brito Ribeiro às 19:44
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