A adaptação de antigas linhas ferroviárias a ecopistas/cliclovias (circulação restrita a pedestres e veículos não motorizados) é um processo que se vulgarizou nos países ocidentais e que nos últimos anos alargou-se a Portugal.
Vias Verdes, Voies Vertes, Voies Douces ou Greenways, são algumas das designações internacionais destas infra-estruturas. Portugal é dos poucos países europeus que se viu compelido a adoptar um nome diferente, em virtude da BRISA ter patenteado o nome primeiro (Via Verde).
Uma das primeiras ecopistas do Norte foi inaugurada entre Valença e Monção ao longo do Rio Minho, com uma paisagem fantástica.
Nos últimos tempos tem surgido ecopistas construídas de raiz, pois os percursos aproveitando antigas linhas do caminho-de-ferro não abundam no litoral.
Embora não haja regras rígidas para a construção de ecopistas é aceite genericamente na Europa, um conjunto de critérios, a saber:
- Declives inferiores a 3%;
- Interdição a veículos motorizados;
- Independência em relação a outras vias de circulação;
- Reduzido número de cruzamentos com outras estradas;
- Continuidade do uso público da via.
As Ecopistas são concebidas como percursos na Natureza, uma vez que percorrem, de uma forma geral, zonas rurais ou naturais com interesse paisagístico, devendo o seu piso ser permeável, de terra batida ou saibro, para manter essa característica de caminho rural. Nos troços urbanos que eventualmente se tenham desenvolvido ao longo destes percursos, o pavimento poderá ser impermeável (em asfalto ou betão), mantendo-se as outras características.
As características deste tipo de percurso podem resumir-se em cinco palavras-chave:
- Acessibilidade: não há limitações impostas pela idade nem pelas aptidões físicas dos utilizadores – ao contrário do que sucede com os desportos ditos radicais e dado que os percursos são públicos, nem mesmo pela sua situação económica.
- Segurança: não há risco de acidentes de tráfego, havendo limites de velocidade para os ciclistas e, muitas vezes, separação da via em faixas destinadas a cada tipo de utilizador; não há risco de acidentes geológicos, como desabamentos, nem de queda de árvores, porque se pressupõe uma manutenção frequente; não há risco de queda de ciclistas, mesmo inexperientes, porque não há declives grandes; não há risco de queda em lugares como as pontes porque estarão protegidas com grades laterais; o risco pessoal, em termos de assaltos, por exemplo, também é reduzido, devido ao cariz das regiões em que se inserem estes percursos, ao número de utilizadores que geralmente afluem e à habitual presença de serviços ao longo do percurso.
- Comodidade: não há declives acentuados nem curvas apertadas; o piso é antiderrapante e adequado para todo o tipo de utilizadores; há poucos cruzamentos e obstáculos.
- Tranquilidade: a segurança e a comodidade permitem que os utilizadores desfrutem do património cultural, natural e paisagístico na sua integridade.
- Facilidade: estes percursos são geralmente dotados de sinalização, informação, interpretação e serviços adequados.
O Concelho de Caminha, não tem qualquer via férrea desactivada, mas já tem em funcionamento três pequenos troços de ecopista entre Vila Praia de Âncora e Caminha. O primeiro liga o Lugar de Esteiró à foz do Minho, o segundo liga o Lugar da Meia Légua em Moledo ao Lugar da Cruz Velha em V. P. de Âncora e o terceiro foi construído ao longo da marginal norte em V. P. de Âncora.
É sobre estes troços e as suas características que me irei debruçar, visto que defendo há bastantes anos a construção de meios que suportem a prática do pedestrianismo e o turismo de natureza.
O Concelho de Caminha tem um elevado potencial turístico, que por insuficiência de investimento e de promoção, está praticamente consignado à vertente de praia e sol, sendo descuradas todas as outras valências onde se insere, por exemplo, o turismo de natureza.
Nos últimos anos exceptuam-se algumas iniciativas na área da Serra D’Arga e dos desportos radicais, por parte de agentes privados, que não tem tido a devida correspondência por parte das instituições públicas, nomeadamente as autarquias.
Por isso, a construção de uns escassos quilómetros de ecopistas, são uma autêntica lufada de ar fresco no panorama ambiental e turístico do Concelho.
Ecopista da Foz do Minho – Nasceu de uma parceria do Ministério do Ambiente e da Câmara de Caminha, liga o Lugar de Esteiró (Av. Dantas Carneiro) à Foz do Minho, acompanhando a margem esquerda do Rio Minho.
Construída em madeira, integra-se perfeitamente no ambiente ribeirinho e na mancha verde da orla da Mata Nacional do Camarido. Está equipada com pontos de água, caixotes de lixo, bancos de descanso e iluminação adequada.
Discordo da utilização de ripas de madeira emendadas e da utilização de pregos vulgares para as fixar, não sendo atendido o facto da ecopista estar implantada a meia dúzia de metros do rio, um ambiente húmido e corrosivo, que em poucos anos destrói tudo o que seja ferroso.
Tem havido algumas queixas acerca da falta de ordenamento dos locais de estacionamento e da supressão da raquete de inversão de marcha no final do ramal do Camarido, mas o resultado da intervenção parece-me globalmente positivo.
Ecopista entre Moledo e V. P. de Âncora – Construída na valeta poente da antiga EN-13, piso em betuminoso e lancil de separação da estrada em cimento.
Este troço a que chamaram “Caminho dos Sargaceiros” poderia ser melhorado pois na forma actual não passa de um passeio largo, pintado com uma cor garrida e despropositada. Não possui iluminação, nem pontos de água, nem sítios para descanso.
Em minha opinião poderia ter sido executado em material poroso, com uma cor semelhante ao saibro e ser dotado dos equipamentos de apoio em falta que já referi. Alem disso, podia dispor ao longo do percurso alguns equipamentos ou serviços de apoio como WC, lugares de estacionamento ou parque infantil.
Ecopista entre o Bairro dos Pescadores e a Cruz Velha – Baptizada como “Caminho das Camboas” tem revelado graves deficiências de concepção, visto que está a ser executada sem projecto. De uma obra prometedora, transformou-se gradualmente numa mancha betonada, quase da largura da estrada adjacente.
Começou por ter uma via dupla com um separador central, próprio para o desenvolvimento de uma sebe vegetal, que foi posteriormente (e inexplicavelmente) betonado.
Foram criadas duas enormes lombas na estrada com o intuito provável de diminuir a velocidade de circulação e servirem também de passadeiras para peões. Mais tarde foi acrescentada outra lomba, sendo que as duas primeiras estão demasiado perto de curvas, logo, muito perigosas. Aparentemente a razão que norteou a sua construção foi a segurança, mas conseguiu-se exactamente o contrário, criando-se uma zona com dois possíveis pontos de despiste e acidente. Se havia vontade de colocar lombas para se diminuir a velocidade, há no mercado materiais pré fabricados em produtos sintéticos, de fácil aplicação e com a vantagem de serem amovíveis.
Quando se pensava que a ecopista estaria na sua versão definitiva, começaram a construir uns canteiros triangulares na baia de estacionamento, para plantação de árvores. Mais outra solução errada, que limita os lugares de estacionamento em cerca de 30%. Por outro lado, as árvores irão projectar a sombra sobre a estrada (o sol roda pelo sul) quando seria desejável que a sombra atingisse a ecopista.
Tal como a ecopista entre VPA e Moledo, o piso é betuminoso, impermeável e colorido, não se integrando na paisagem de orla marítima, criando um forte e desajustado impacto visual.
Foi construído um talude em terra para remate do lado do mar, não tendo sido levado em conta o escoamento das águas pluviais da ecopista, ocasionando a abertura de regos e o desaparecimento da terra do talude em muitos pontos.
Também não foram previstos acessos aos diversos pesqueiros da zona, excepto à praia das Camboas, executado em madeira e com um aspecto bastante agradável.
O início da ecopista, junto do Bairro dos Pescadores está servido por parque de estacionamento, mas no outro extremo termina abruptamente numa curva. Deveria ser executada uma ligação à ecopista de Moledo que passa a menos de cinquenta metros de distancia no outro lado da linha do caminho de ferro, havendo um local apropriado para executarem a ligação das duas ecopistas através de uma passagem inferior à via ferroviária.
É incompreensível como não foi prevista esta ligação, assim como é incompreensível este desnorte numa obra simples, que nem requer grandes conhecimentos técnicos. Tal como a anterior, esta ecopista não está dotada de pontos de água, nem caixotes de lixo, tem apenas um local de descanso bastente agradável e há cerca de dois meses que não dispõe de iluminação.
Sobre esta problemática das ecopistas, penso que o primeiro passo deveria ter sido o estudo de viabilidade de ligar a Freguesia de Âncora, a sul, com a Freguesia de Lanhelas, a norte, percorrendo o litoral marítimo, a zona dunar, o pinhal, o sapal e as margens fluviais, dando a conhecer alguns dos ecosistemas do Concelho de Caminha.
Depois, faseadamente, deveriam ser criadas as condições de executar os diversos troços, mas de forma articulada. Não podemos é continuar a fazer ecopistas “à vontade do freguês”, sob pena de estar a gastar-se dinheiro em soluções erradas, que tarde ou cedo terão de ser rectificadas.
E já que falamos de ecopistas não posso deixar de referir a implantação de um corredor encarnado no passeio da Avenida Dr. Ramos Pereira, que alem de ser esteticamente desadequado, induz em confusão os utentes.
Pior, só a faixa de betuminoso aplicada junto ao Parque Ramos Pereira em substituição do passeio e da sebe de protecção, obra inacabada há dois anos e que mais uma vez revela falta de planeamento e de projecto.
A par das ecopistas, já poderiam estar a ser estudados um conjunto de trilhos de natureza, património onde o Concelho de Caminha tem um capital impar.
Em conclusão, considero que a construção das ecopistas foi um passo positivo, embora com defeitos de concepção e execução perfeitamente desnecessários. Com um pouco de bom senso entendo que parte desses erros ainda põem ser corrigidos e o resultado final ser bastante mais positivo.