Ambiente, história, património, opinião, contos, pesca e humor

20
Set 08

Conheço o Monte de Santa Trega desde sempre, via-o da janela da sala da casa de meus pais, via-o da praia, aprendi a observar as nuvens que passavam pelo cume, a admirar o bosque cerrado que subia pela encosta.

Teria quinze ou dezasseis anos quando subi pela primeira vez ao seu ponto mais alto. Desde logo fiquei apaixonado pela paisagem que se desfruta, quer para o mar, quer para o estuário do Minho e povoações ribeirinhas, como Caminha e Seixas.

Outro dos motivos de admiração por aquele monte foram os vestígios da povoação castreja e o pequeno museu de arqueologia, onde estão expostos muitos artefactos recuperados durante as escavações de investigação, que nos dão uma ideia da vida naqueles tempos pré-históricos.

Embora não seja património do Vale do Âncora, o Castro de Santa Trega é um marco na cultura e na história do noroeste peninsular, da região Minho Galaica, por isso não há fronteiras que nos impeçam de ter afinidades e percursos comuns.

 

 

O povoado castrejo de Santa Trega (em Castelhano, Santa Tecla) localiza-se no monte do mesmo nome e ocupa uma extensão que tem um eixo maior de 700 metros e um eixo menos de 300 metros. A sua localização perto da povoação Galega de A Guarda, no cimo de um monte com grande visibilidade à sua volta, parece responder a uma função de controlo do tráfico marítimo e de acesso ao interior pelo rio.

Quando este povoado foi habitado, o Rio Minho teria um canal mais estreito e profundo que o actual e conforme os escritos de Estrabão, um geógrafo desse tempo, na desembocadura do rio haveria uma ilha com dois portos, ainda que até hoje não foram localizados restos da sua existência.
Com a abertura da estrada de acesso ao cume do monte em 1913 descobriram-se as primeiras estruturas. Desde então realizaram-se numerosas campanhas de escavação, a ultima em 1988. Não obstante, só se escavou uma parte muito pequena do povoado. E o restaurado e consolidado é só uma parte do investigado.
 
O castro define-se a partir de um recinto com uma cintura de muralha de pedra ligada com barro. Nela conhecem-se dois acessos, a porta norte e a porta sul. Dentro das muralhas aparecem numerosas construções, na sua maioria de planta circular e também rectangular com cantos arredondados. Nem todas as construções são habitações, há também armazéns, oficinas, pátios e celeiros. As habitações distinguem-se por serem maiores ou por terem uma lareira no seu interior, contarem com um alpendre ou vestíbulo de entrada onde haveria um forno ou até por apresentar uma edificação mais cuidada.
A aparição de restos de revestimento vermelho, azul e branco, mostra que estariam pintadas. Na entrada uma lousa com buracos indica a existência de portas. As ombreiras e padieiras de algumas portas estão ricamente decoradas com gravuras geométricas. Também aparecem gravados ou entalhados blocos cilíndricos que provavelmente eram encaixados nos muros e peanhas. Esta decoração habitual nos castros minhotos e no Trega é particularmente abundante, reproduz modelos do mundo castrejo que aparecem também em outros elementos como a cerâmica e objectos de adorno. A cobertura das casas seria de materiais vegetais.
 
Ainda que à primeira vista pareçam situadas ao acaso e desordenadas - tudo isto agravado pela adaptação à orografia do terreno – realmente tem uma lógica de ordenamento. Se repararmos com atenção verificamos que as construções organizam-se em grupo de várias habitações e armazéns que partilham um pequeno pátio comum, empedrado. Tais conjuntos denominados “unidades familiares”, poderiam acolher uma família extensa (pais, filhos, netos…). Estas unidades contam com caleiras condutoras das águas da chuva e depósitos para a recolher.
Os dados recolhidos indicam que foi construído na Idade do Ferro e o seu maior desenvolvimento é a partir dos séculos II e I antes de Cristo, sobretudo com a chegada dos romanos. O povoado perde relevância quando a construção de vias de transporte terrestre reduz a importância do tráfico marítimo e as reformas da administração romana promoveram a ocupação de zonas mais baixas.
 
Como ocorre em todos os castros, o modo de subsistência teria sido bastante autónomo. Teria havido uma agricultura variada (trigo, cevada, aveia, milho miúdo ou fava) e criação de gado (vaca, ovelha, cabra ou porco).
A caça, pesca ou apanha de marisco, teriam sido actividades complementares, mas igualmente importantes. A elaboração de cerâmicas, tecidos e instrumentos metálicos ou o comércio foram outras actividades que teriam ocupado os seus habitantes.
publicado por Brito Ribeiro às 11:11

Setembro 2008
Dom
Seg
Ter
Qua
Qui
Sex
Sab

1
2
3
4
5
6

7
8
9
10
11
12
13

14
16
17
18
19

21
22
23
24
25
26

28
29
30


subscrever feeds
mais sobre mim
pesquisar
 
blogs SAPO