Ambiente, história, património, opinião, contos, pesca e humor

30
Jul 08

Designação

Capela de Nossa Senhora de Lurdes
 
Localização
Viana do Castelo, Caminha, Vila Praia de Âncora, Monte do Calvário
  
Protecção
Não definido
 
Enquadramento
Rural, isolado, no periferia de Vila Praia de Âncora, integração harmónica nas proximidades da Capela do Calvário, implantado num morro destacado na paisagem, sobranceiro ao aglomerado e à foz do rio Âncora, com miradouro, em posição subjacente, defronte da fachada principal.
A capela possui acesso frontal por ampla escadaria em cantaria, de dois lanços de doze degraus, que se subdivide e a envolve, sendo delimitada por guarda de granito, rebocada e caiada e com capeamento em cantaria, possuindo pináculos nos cunhais e sobre as ombreiras da entrada do escadório.
Este é enquadrado por plataformas ajardinadas, com relva e arbustos de pequeno porte.
 
Descrição
Planta longitudinal, de corpo único rectangular, com fachada posterior sumicircular. Massa simples com cobertura pétrea em abóbada. Fachadas em alvenaria irregular de granito aparente.
Fachada principal, virada a Sul, terminada em empena coroada por sineira e cruz sobre acrotério, com portal, em cantaria, de verga recta, moldurado, inserto em falso gablete de arco quebrado, moldurado, sobre colunas toscanas, ostentando, no tímpano, cartela inscrita, e, coroando a projecção das colunas e o vértice do arco, pináculos relevados. Fachada lateral Oeste rasgada por janela rectangular e a Este por portal de verga recta; fachada posterior cega.
Interior em alvenaria irregular de granito aparente e rebocado, com pavimento em lajes de granito e cobertura pétrea, em falsa abóbada de quarto de esfera, tendo, sob a janela, pequeno nicho rectangular, para incineração de velas.
Mesa de altar destacada, em blocos de granito, e, na parede testeira, descentrado sobre o lado da Epístola, mísula em granito, sobrelevada, com acesso por pequena escadaria de dois lanços de três degraus, em blocos de granito e em cantaria, albergando imagem de Nossa Senhora de Lurdes.
 
Descrição Complementar
O tímpano do portal possui cartela circular, interiormente rebaixada em motico quadrilobado, com a inscrição: "OFERTA / GRUTA / ESCADARIA / A / NOSSA SENHORA DE LOURDES / EM 1926 / ANICETO RODRIGO PONTES / CONSTRU/CTOR CIVIL / EM / LISBOA".
 
Utilização Inicial
Cultual e devocional: Capela
 
Utilização Actual
Cultual e devocional: Capela
 
Propriedade
Privada: Igreja Católica
 
Época Construção
Século XX
 
Arquitecto | Construtor | Autor
Desconhecido.
 
Cronologia
1926 - Construção da Capela de Nossa Senhora de Lurdes e escadório, por acção do benemérito Aniceto Rodrigues Pontes, construtor civil em Lisboa.
 
Tipologia
Arquitectura religiosa, vernácula e revivalista. Capela tipo gruta de planta longitudinal simples, de fachada posterior semicircular. Fachada principal terminada em empena coroada por sineira e cruz, com portal, em cantaria, revivalista, de verga recta, moldurado, inserto em falso gablete, moldurado, sobre colunas toscanas, ostentando, no tímpano, cartela inscrita. Fachada lateral esquerda rasgada por janela e lateral direita por portal de verga recta. No interior, cobertura em falsa abóbada de quarto de esfera, ostentando mesa de altar em granito, vernacular.
 
Características Particulares
Pequena capela com exterior e interior pretendendo recriar a ambiência de uma gruta, em alusão à gruta onde teria aparecido Nossa Senhora, sendo as reentrâncias dos blocos dos paramentos da parede testeira aproveitadas pelos fiéis para depositarem ex-votos, em cera. Não possuindo retábulo, é uma simples mísula, colocada descentradamente, que suporta a imagem do orago. Junto à parede posterior, corre fio de água, em pequeno canal pétreo, do qual os fiéis bebem como rito de purificação. O portal é um exemplar revivalista neogótico com gablete integrando colunas neorenascentistas.
 
Dados Técnicos
Estrutura autoportante.
 
Materiais
Estrutura em granito, com paramentos de alvenaria irregular de granito à vista e rebocado; vãos e cunhais em cantaria; sineira e cobertura pétrea; altar em granito; imagem em pedra; portas de madeira; pavimentos em lajes graníticas; janela gradeada; cartela de calcário.
 
Observações
*1 - O altar e a sineira são construídos com blocos de granito provenientes da beira-mar.
 
publicado por Brito Ribeiro às 15:21

29
Jul 08

O relatório da Polícia Judiciária que levou ao arquivamento do processo de desaparecimento de Madeleine McCann e o livro de Gonçalo Amaral: «Maddie: A verdade da mentira» têm diferenças, mas também são coincidentes na maior parte dos pontos analisados.

 

 

Hora dos factos

 

 

 

 

Relatório PJ: O alerta do desaparecimento de Madeleine McCann, momento em que Kate McCann anuncia que Maddie foi raptada, foi, segundo os dados recolhidos pela PJ, entre as 22h e as 22h10 da noite de três de Maio. No entanto, o mesmo relatório refere que «os factos», segundo testemunhos, ocorreram entre as 21h05 e as 22h00.

 

 

Livro: No livro do ex-inspector da Polícia Judiciária, que coordenou a investigação durante seis meses, é referido que: «A discussão no seio da equipa de investigação, incluindo os colegas ingleses, foi objectiva e permitiu uma importante conclusão: o alarme do desaparecimento não pode ter sido dado às 22h00. Terá ocorrido antes dessa hora». Segundo Amaral, para a investigação, a hora dos factos situa-se «entre as 21h30 e as 22h00, com base nos testemunhos de empregados do restaurante «Tapas».

 

A janela

 

 

Relatório PJ: O relatório da Polícia Judiciária refere que «somente» foram detectadas impressões digitais da mãe de Madeleine na janela do quarto de onde, alegadamente, a menor desapareceu. O documento indica que os «vestígios dactilares» foram detectados no caixilho da janela.

 

 

Livro: No livro do ex-PJ, a questão da janela e dos depoimentos sobre a mesma surge como fulcral. Segundo conta no livro, «na janela, não existiam sinais de arrombamento ou de luvas, tendo a mesma sido limpa no dia anterior, pela empregada que procedeu à limpeza do apartamento. As únicas impressões digitais que ali foram encontradas são as de Kate Healy. O sentido e posição dos dedos impressos na janela são de molde a abri-la para a esquerda».

 

 

Livro: Para Gonçalo Amaral, as contradições nos depoimentos do grupo de amigos em relação a este ponto revelam sempre que alguém está a mentir: «Como alguém haveria de dizer, parte da solução da investigação está naquela janela. A verdade sobre a janela desmentirá sempre alguém do grupo».

 

 

Relatório PJ: No entanto, é de realçar que as dúvidas sobre a janela são partilhadas pela Polícia Judiciária. O relatório refere que a reconstituição dos factos permitiria «esclarecer importantíssimos detalhes, entre outros»: «A situação relativa à janela do quarto onde Madeleine dormia, juntamente com os gémeos, a qual estava aberta, segundo Kate. Afigurava-se então necessário esclarecer se existia alguma corrente de ar, já que se menciona movimento de cortinas e pressão sobre a porta de entrada no quarto, o que seria, eventualmente descortinável através da reconstituição».

 

 

Relatório PJ: Um desses relatos é de Jane Tanner que foi já amplamente divulgado. Outro, menos mediático, é o da família Smith. No relatório da PJ é dito: «Veio à liça o testemunho de M. Smith relatando o avistamento de um indivíduo com uma criança ao colo, numa das artérias que acede à praia. Foi dito que essa criança poderia ser Madeleine McCann, ainda que nunca tenha sido afirmado peremptoriamente. Algum tempo depois, esta testemunha alegou, que pelo jeito [a forma como segurava num dos gémeos], o indivíduo com a criança ao colo poderia ser Gerald McCann, concluindo neste sentido quando o viu a descer as escadas de uma aeronave. Apurou-se, porém, que à hora mencionada, Gerald se encontraria sentado à mesa, no restaurante Tapas». No entanto, o documento não refere a fonte da informação, se o grupo dos amigos, se os funcionários do «Tapas».

 

 

Livro: Segundo Gonçalo Amaral, esta família veio a Portugal, a 26 de Maio, numa operação secreta, que trouxe o patriarca e dois filhos adultos à PJ de Portimão. Todos confirmaram ver um homem com uma criança ao colo e o local exacto em que se cruzaram, pelas 22h. O patriarca afirmou não se tratar de Murat, uma vez que o conhecia, não identificando alguém em particular. Uma situação que se altera com a chegada dos McCann a Inglaterra.

 

 

Livro: «No final de Setembro, ficamos a saber daquele reconhecimento por parte da família Smith». (...) «Tomámos uma decisão, desencadear uma operação logística para trazer de novo as testemunhas da família a Portugal». (...) «Mas os Smith não vieram. A polícia portuguesa, após a minha saída, muda de ideias e opta por pedir a sua inquirição fazendo uso de um mecanismo de cooperação internacional». Note-se que Amaral não faz referência ao apurado pela PJ, isto é, de que naquela hora o pai de Maddie estava no «Tapas».

 

Relatórios periciais

 

 

 

 

 

Relatório PJ: Relativamente às análises enviadas pela Inglaterra, com vestígios detectados pelos cães, no apartamento e no veículo alugado, o relatório da PJ afirma que os «resultados finais não vieram corroborar as marcações caninas, ou seja, foi recolhido material celular, que, todavia, não foi identificado como pertencente a alguém em concreto, não tendo sequer sido possível apurar a qualidade desse material», ou seja, «se poderia ser sangue ou outro tipo de fluido corporal».

 

 

Relatório PJ: Porém, o relatório reconhece, que «numa primeira abordagem científica afigurou-se a possibilidade de compatibilização do perfil de ADN da Madeleine com alguns dos vestígios recolhidos (dos quais avultavam os existentes na viatura Renault Scenic alugada pelos McCann)».

 

 

Livro: O relatório da PJ nada mais diz sobre os exames. Gonçalo Amaral questiona os resultados das análises, mas no fim reconhece que não são prova, mas apenas indícios: «A cadela assinalou a presença de sangue humano em locais onde o cão marcou odor a cadáver. (...) Esses fluidos corporais, segundo o FSS [laboratório inglês], continham componentes do perfil de ADN de Madeleine». «De momento, aqueles resultados não constituem prova material, mas meros indícios, os quais se deveriam acrescentar aos indícios já apurados».

 

 

Livro: Menos claras, serão as análises sobre os cabelos encontrados na bagageira. Os exames a estes não terão chegado ao mesmo tempo que os restantes. Até à data de saída de Amaral não havia resultados. As amostras de cabelo foram solicitadas ao laboratório, mas este «não quis abrir mão» das provas.

 

 

Fonte: Portugal Diário

publicado por Brito Ribeiro às 16:28
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28
Jul 08

 

 

Mais uma foto de rara beleza, captada por Raul Videira. Levada do Hilário, Rio Âncora.

 

Visite o meu outro blog:

 

http://rioancora.blogspot.com/

 

 

publicado por Brito Ribeiro às 17:01

25
Jul 08

Muito se tem especulado sobre o desaparecimento de Maddie, se foi rapto, se a menina está morta, quem são os culpados, etc..

Grandes convulsões se deram entretanto, com a Polícia Judiciária no meio de uma teia de interesses, influências e talvez até algumas invejas e vaidades mal disfarçadas.

Com o recente levantamento do segredo de justiça e o arquivamento do processo, foi publicado um livro que promete alguma polemica, da autoria do ex-inspector Gonçalo Amaral, encarregado do caso durante os primeiros meses e afastado pela Direcção Nacional da PJ de forma pouco clara, no mínimo.

 

Para aceder ao relatório final da Polícia Judiciária basta clicar no seguinte endereço :

 

http://downloads.officeshare.pt/expressoonline/pdf/MaddieMcCann_PJ.pdf

 

publicado por Brito Ribeiro às 14:46
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23
Jul 08

A Esturranha é um lugar no Rio Âncora do qual tenho belas recordações.

Quando era jovem muitas vezes tomei banho nessas águas, onde o Rio Âncora se alarga para formar uma pequena bacia de declive pouco acentuado e toda forrada a seixos.

Talvez por isso a Esturranha também é conhecida pela designação de “Rompe Solas” entre o povo mais antigo da região.

 
Apesar do declive pouco acentuado que permite crianças brincarem na água com a máxima segurança, a maior profundidade ultrapassa os quatro metros e é habitual ver-se o fundo tal a limpidez das águas.
 
Foi também nestas margens que, em conjunto com outros colegas, tirei o meu “curso” de campismo selvagem, chegando a Esturranha a ser a minha segunda casa em tempo de férias. Possui óptimos espaços para estender a toalha e apanhar um simples banho de sol ou para o piquenique mais elaborado.
 
A Esturranha localiza-se na Freguesia de Freixieiro de Soutelo, junto à EN-305, perto do nó de acesso à nova A-28, mas não está sinalizada o que é lamentável.
publicado por Brito Ribeiro às 19:07

21
Jul 08

 

A chora de bacalhau era um prato usado a bordo dos barcos que pescavam bacalhau nos mares do norte.
Esta sopa era servida aos pescadores portugueses, a bordo dos lugres, depois do trabalho árduo de pescar, escalar e salgar o bacalhau recolhido diariamente.
Devido à falta de alimentos frescos, nomeadamente vegetais, a chora era geralmente feita apenas com arroz e caras de bacalhau. Uma vez por outra, adicionavam um pouco de toucinho ou um pedacinho de chouriço.
A receita que a seguir transcrevo é uma versão “burguesa” da tradicional e pobre chora dos pescadores.
 
Ingredientes
4 a 5 l de água; 2 cebolas grandes picadas; 2 dentes de alho; 2 folhas de louro; 1/2 colher de chá de pimenta; 100 g de calda de tomate; 1,5 dl de azeite; 1 colher de banha de porco; 1 naco de toucinho salgado; 2 caras de bacalhau fresco bem lavadas; 200g de arroz ; Salsa; Sal q.b.
 
Confecção
Numa panela grande, junta-se tudo menos o arroz, vai ao lume e, depois de estar a ferver durante 10 minutos, retiram-se as caras e coloca-se o arroz.
Quando o arroz estiver cozido, retira-se a panela do lume e colocam-se as caras dentro desossadas.
Serve-se acompanhada de quadradinhos de pão torrado e temperada com vinagre a gosto.
Para quem preferir, a chora pode-se fazer substituindo o arroz por massa tipo cotovelinho.
 
publicado por Brito Ribeiro às 15:26

19
Jul 08

“É anedótico” diz a Corema, cortar os eucaliptos centenários que bordejam a estrada velha do Camarido, junto à entrada de Cristelo.

 

A Junta de Freguesia e respectiva Assembleia também já se manifestaram frontalmente contra esta intenção da entidade gestora da Mata Nacional do Camarido.
 
Os eucaliptos em questão tem mais de 40 metros de altura e alguns deles tem cerca de 2,5 metros de diâmetro no tronco, sendo um agradável cartão-de-visita desta simpática aldeia, "um património natural indissociável da paisagem da veiga de Cristelo".
 
É incompreensível como a Divisão do Núcleo Florestal do Alto e Baixo Mnho está preocupada com quinze árvores de grande porte e não ligue nenhuma importância aos milhares de infestantes (austrálias e silvas) que proliferam livremente no Camarido.
 
Nos últimos anos a acção desta entidade gestora tem sido nula, deixando este pulmão litoral no mais absoluto estado de degradação e abandono.
 
Será que por trás disto não andará qualquer “mãozinha” marota, que ainda não desistiu de construir uma mega discoteca nessa zona?
publicado por Brito Ribeiro às 20:31
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16
Jul 08

Texto conforme o original de Francisco Martins Sarmento, célebre arqueólogo do século XIX, responsavel por escavações no Dolmen da Barrosa e na Cividade Âncora-Afife entre outros .

 

 

© Sociedade Martins Sarmento | Casa de Sarmento 1
Observações acerca do Vale do Âncora
Francisco Martins Sarmento
O Pantheon, Porto, 1880 —Ano I,
 
O vale do Âncora tem o privilégio de possuir numa área de pouco mais duma légua uns tantos monumentos, cuja associação e exame, além de destruir pela base algumas opiniões erróneas que por aí correm mundo, esclarece, a meu ver, senão resolve, uma das mais graves questões da nossa arqueologia.
Nos cabeços dos montes, que enquadram o vale, encontramos numerosas ruínas de povoações pré-romanas1; em baixo, no vale, encontramos dólmenes e túmulos com as suas respectivas “mamoas”2, sendo quase certo que uma grande quantidade de monumentos da
mesma espécie tem sido destruída pela cultura.
Daqui se vê já que é inexacto dizer-se em absoluto que, entre nós, todos os dólmenes são descobertos, e que não se encontram túmulos na região onde aparecem dólmenes. No litoral do Minho, pelo menos, estas afirmativas hão-de ser invertidas:
1 São elas, na margem direita do rio: Picouto dos Mouros, Santo Amaro, Crasto; na margem esquerda: Castro dos Mouros, Cividade, Castra.
2 Os arqueólogos tomam a palavra tumulus em dois sentidos. Um, o único conforme à etimologia mais provável do nome, designa um cômoro de terra de forma mamilar.
Neste sentido empregaremos a palavra, entre nós popular, de “mamoa”, que lhe corresponde ponto por ponto. Tumulus designa, na sua segunda acepção, uma sepultura não dolménica, coberta por uma mamoa, e nesta acepção contrapõe-se muitas vezes a dólmen. É neste sentido que empregaremos sempre esta palavra, suposto a consideremos como uma moeda a todos os respeitos falsa, que devia ser posta fora da circulação e substituída por outra.
 
Casa de Sarmento 2
Não há dólmen sem mamoa;
Dólmenes e túmulos encontram-se quase a par (Âncora) e às vezes formando um grupo (Neiva).
Agora, os dólmenes e os túmulos são monumentos de épocas diferentes, embora não deva afirmar-se que pertençam a povos de diferente raça, como se sustenta ainda?
A ser assim, nos dólmenes e túmulos do Âncora teríamos memórias de duas populações distanciadas por séculos, e, afirmando-se — outra inexactidão — que nos nossos dólmenes só têm sido encontradas armas de pedra, a população que construiu os dólmenes deveria ser cronologicamente a primeira, e estes monumentos padrões dum povo desaparecido com os seus ritos funerários e substituído pelo povo dos túmulos.
Ora nenhuma destas asserções pode ser admitida, em vista dos factos observados na bacia do Âncora. A exploração dos seus dólmenes pode fornecer, e de facto já forneceu, armas de pedra, mas a par delas forneceu objectos de ferro (como os dólmenes do Neiva) e, o que é mais significativo, fragmentos de telha romana.
Sucede com os monumentos funerários do vale o mesmo que sucede com as povoações dos seus altos. Estas povoações são inquestionavelmente de origem pré-romana3, mas continuaram a florescer depois da conquista, como o provam muitos restos de indústria romana, entre eles fragmentos de telha, igual à encontrada nos dólmenes.
Do mesmo modo os dólmenes, de origem antiquíssima, como se não nega, continuaram em uso depois da conquista romana, pois que nos oferecem relíquias de indústria romana, ou imitada dos romanos.
Nesta época relativamente moderna, quem se utilizava dos 3 Provada pela identidade incontestável destas povoações e de Sabroso, onde não há vestígios de influencia romana. Numa portada da “Cividade” a ornamentação, também pré--romana, como se vê da sua comparação com outros ornatos de Sabroso, consiste num entrelaço muito semelhante aos que se encontram nos velhos manuscritos irlandeses, e que o sr. Unger na Revue Celtique (I, págs. 9-26), pretende demonstrar que eram de origem romana. Enganou-se o sábio antiquário.
 
Casa de Sarmento 3
dólmenes?
Já temos a população dos túmulos e a população dos dólmenes; não podemos porém pôr de parte a população das cidades.
A não admitirmos a coexistência de três populações, o que é muito, é demais, em tão estreito recinto, era nos dólmenes ou nos túmulos que os habitantes das cidades, sobranceiras ao vale,
sepultavam os seus mortos. Que fosse nos túmulos, há para isso boas razões de analogia. Perto de Sabroso, a 800 passos das suas muralhas, encontra-se um grupo de quatro túmulos4, que não podem ser atribuídos senão aos habitantes desta estação. Para nós nenhuma dúvida que os túmulos de Sabroso eram a última morada dos ocupantes desta povoação, como os túmulos do vale do Âncora o eram dos ocupantes das povoações circunvizinhas.
Mas que população era essa outra que ainda depois da conquista romana continuava a viver a par da população das cidades, e sepultava os seus mortos, não nos túmulos, mas nos dólmenes?
Esta questão torna-se verdadeiramente impertinente, cremos nós, sabidos os seguintes factos:
Já vimos que os dólmenes e os túmulos se encontram a par, e que nuns e noutros aparecem armas de pedra, e armas de pedra do mesmo tipo; O exame dos dólmenes e dos túmulos do Âncora mostra mais que os dólmenes é túmulos são sempre, ou foram, cobertos por uma
mamoa maior ou menor e conforme o tamanho da sepultura que escondia, mas composta sempre do mesmo modo, de terra e pedregulho; Que os dólmenes e os túmulos tem sempre a mesma orientação: viram para o nascente; - - Que a posição escolhida para os dólmenes e para os túmulos é sempre a mesma, ou uma chã, ou uma portela (garganta de monte); 4 Todos saqueados, segundo o costume. Um deles forneceu ainda assim uma machadinha de xisto, outro três pontas de flecha de sílice, duas delas tão semelhantes às outras, achadas num dólmen do Neiva, que, ninguém será capaz de as extremar, se por acaso as baralhar. Dentro das muralhas de Sabroso foram encontradas também armas de pedra.
 
 
Casa de Sarmento 4
Que nos suportes dos dólmenes, nas pedras que formam as suas galerias, bem como nas pedras, que formam a caixa dos túmulos, há sempre a mesma disposição característica: as pedras não quadram pelos topos, sobrepõem-se umas às outras; Que tanto nos dólmenes, como nos túmulos, se encontram às vezes as célebres covinhas (fossettes), as quais, segundo o sr. Desor, constituem, com os círculos concêntricos, espirais, etc., o distintivo duma raça, que ele, em virtude destes sinais, denomina “race écriveuse”; e aqui não podemos deixar de relembrar que todos estes sinais, não raros nos dólmenes do norte da Europa, são triviais nas
nossas cidades prá-romanas5.
Assim, depois do exame atento dos monumentos do Vale do Âncora, eu duvido muito que qualquer arqueólogo, por mais arraigados que sejam os seus preconceitos, perca tempo a discutir se por ali houve dois povos contemporâneos, um dos quais enterrava nos túmulos, outro nos dólmenes. Com a sua brutalidade habitual os factos demonstram que os túmulos e os dólmenes eram sepulturas dum e o mesmo povo, pelo menos nesta parte do Minho.
Sem dúvida, em relação ao túmulo, o dólmen é um monumento grandioso; mas em todos os tempos, mesmo perante a morte, houve grandes e pequenos; e, se da sumptuosidade das
sepulturas tirássemos argumento para uma distinção étnica, ou política, visto ser quase certo que os habitantes das cidades enterravam nos túmulos, seríamos obrigados a admitir que a
população, contraposta à das cidades, e portanto humilde, senão escrava, levantava mausoléus custosos, enquanto que os seus dominadores se contentavam com memórias singelas.
Menos inverosímil seria o contrário. A mesma grandiosidade relativa do dólmen obrigava-os a
adoptar uma forma diferente da do túmulo. Já vimos porém que na disposição das peças de ambos os monumentos se respeitava uma 5 É bom acrescentar que tenho encontrado círculos concêntricos, gravados em lajes, a pouca distancia dos túmulos, parecendo ter com eles uma relação tal ou qual.
 
 
Casa de Sarmento 5
mesma regra arquitectónica; e, se a diferença acidental de forma fosse bastante para constituir categorias diferentes, força era abri-las para os túmulos, pois que há mais variedade na forma destas sepulturas, do que muita gente supõe.
Eu creio mesmo que da afinidade de nomes, com que o nosso vocabulário designa os dólmenes e os túmulos, se pode inferir até certo ponto a sua identidade.
Todos sabem que entre nós o nome popular de mamoa corresponde, pela etimologia e pelo significado, ao tumulus dos arqueólogos na sua acepção primitiva e correcta.
Ao dólmen corresponde o nome popular — anta. Ao túmulus, no sentido de sepultura não dolménica, coberta por uma mamoa, corresponde, se não erramos, o nome de antela,
antinha6.
É pelo menos o que os factos seguintes me dão direito a crer. Entre a Citânia e Sabroso foi descoberta uma sepultura não dolménica, com túmulo, para continuar com a nomenclatura que tenho empregado até aqui. A tradição tinha perdido completamente a memória deste monumento sepulcral, mas o estreito terreno, onde ele ficava, conservou o nome de “Monte de Antela”.
Pode duvidar-se que antela seja o diminutivo de anta, e que o nome local de Antela deva a sua origem à sepultura em questão?7.
Em Pamplido repetem-se as mesmas coincidências. Há aí algumas sepulturas abertas em rocha, uma delas contígua a um campo, denominado o “Campo das Antinhas”. Que o nome de
“Antinhas” se referisse às sepulturas abertas em rocha, ainda 6 Não é inútil advertir que os nomes, dados pelos arqueólogos às mamoas, antas e antelas, são todos de composição erudita, e eu não conheço nenhum país, a não ser o nosso, que tenha nomes populares genéricos para estes monumentos. São eles verdadeiramente antigos e primitivos?
Aqui está uma questão, cuja solução seria preciosa.
7 Que o nome de Antela era aplicado exclusivamente ao local da sepultura, parece resultar da denominação mesma de “Monte de Antela”. O “Monte de Antela” fica numa pequena bacia, e debalde se procurará ali alguma coisa que faça lembrar um monte. Apenas na planície se ergue um relevo natural de poucos metros de altura. Aí justamente é que a sepultura se encontra.
 
 
Casa de Sarmento 6
existentes, se a outras mais antigas, não é fácil de averiguar; que se referisse a monumentos sepulcrais é para mim da última evidência8. Estou certo que o estudo minucioso da topografia do nosso país multiplicaria exemplos destes, causando verdadeiras surpresas e obrigando estes nomes, a bem dizer fossilizados, a fazer revoluções curiosas. O desaparecimento de tais nomes da circulação da língua não tem nada que admire. Neste terreno há singularidades de toda a espécie. As vezes os monumentos subsistem numa localidade, mas parte dos nomes, com que eram designados, desapareceu. Exemplo: em Vila Chá (margem esquerda do Neiva), são vulgares as antas e antelas no centro das competentes mamoas. Nenhum habitante de Vila
Chá ignora o que é uma mamoa, a que chamará de preferência mamunha. Escusado porém será perguntar-lhe por uma antela. Ficou só o nome do continente, da mamunha; todos os mais esqueceram.
Outras vezes o monumento subsiste; o nome também, mas o nome perdeu a sua significação do modo mais desastrado. Exemplo: defronte de Vila Chá encontrámos a freguesia de S. Paio de Antas.
Aqui o nome achou um meio engenhoso de se perpetuar. O nome sim, o significado não; e vamos conhecer um dos processos, pelo qual uma palavra pode ser expropriada da sua significação originária. Se perguntais a um sujeito de S. Paio, lido nas antiguidades da sua
freguesia, a razão por que ela se denomina d’Antas, ele responde-vos que é porque S. Paio era dantes Velinho. Esmiuçada a resposta, à primeira vista sibilina, fica-se sabendo que a denominação da freguesia passou pelas seguintes fases:
1.ª S. Paio d’ antes Velinho;
2.ª S Paio d’ antes, abreviatura de — S. Paio d’ antes Velinho
3.ª S. Paio d’ Antas, corrupção de — S. Paio d antes, scilicet,
Velinho.
8 As sepulturas em rocha são triviais no Minho. Nenhum achado dentro delas deu porém, que eu saiba, subsídio algum para lhes assinar uma data, mesmo aproximada.
Não é impossível que algumas delas estivessem cobertas por mamoas. Eu dei como existentes ainda as sepulturas de Pamplido. Mas devo declarar que as vi, há dois anos, e que os montantes não andavam longe delas.
 
 
Casa de Sarmento 7
No vale do Âncora e seus arredores não faltam antas, antelas e mamoas, mas nenhum destes nomes é conhecido. E possível que os nomes especiais, dados aqui a cada monumento, pusessem em desuso os nomes genéricos. A ideia que determina as vezes a denominação
nova é a antítese completa da ideia antiga e explica a sua perda irremediável. Tal mamoa chama-se hoje “Cova da Moura”, tal outra “Poço da Chás”. Nada mais disparatado em aparência do que os nomes de “cova” e “poço”, dados a montículos de terra. Se reparamos porém que estes montículos estão saqueados e de há séculos, apresentando no centro uma depressão, uma cova, produzida pela extracção das pedras das sepulturas no intuito de lhes aproveitar os materiais, ou pelas escavações dos sonhadores de tesouros, compreende-se que a palavra, exprimindo a forma mamilar que dava a conhecer o monumento, desaparecesse, para originar outra que designasse a sua parte essencial — essencial, por misteriosa, ou mesmo pelo seu primitivo destino: na opinião dum camponês de Azevedo estas “covas”nada mais eram que pontos estratégicos, onde os mouros se escondiam, para “fazer fogo” ao inimigo.
A explicação, aceite em Azevedo, pode não concordar com a de qualquer outra localidade; o que eu não encontrei em parte alguma foi uma explicação que se aproximasse da verdadeira; é mesmo notável a repugnância que mostra o homem do povo em acreditar que as mamoas eram sepulturas.
O que ele sabe é que tudo aquilo pertenceu aos mouros. E em algumas nem isso; sobre as mamoas e as suas sepulturas, mais ou menos destruídas, pesa um completo esquecimento.
 
Guimarães, 4—11—1880.
publicado por Brito Ribeiro às 11:44
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15
Jul 08

 

publicado por Brito Ribeiro às 15:31
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10
Jul 08

A Fonte da Retorta está incrustada no monte, na parte alta da vila, no lugar da Retorta e foi construída em 1868 por benfeitores, como se pode ainda hoje ler na inscrição em pedra, por cima da bica. Em tempos era um lugar isolado, mas hoje o casario estende-se até à sua bica.

Desde sempre me habituei a ouvir falar das qualidades terapêuticas dessa água, nomeadamente em relação aos olhos. A presença desta fonte nas primeiras colecções de postais de Gontinhães (1903) atesta a importância que a Retorta tinha no início do século XX, época em que não havia água canalizada e a ciência era coisa rara, havendo lugar a todas as crenças.
 
Certo é que nunca foi provado cientificamente a qualidade nem as propriedades terapêuticas das suas águas, embora fosse isso atestado pela crença popular, passando esta ideia de pais para filhos, assim chegando até aos nossos dias.
Principalmente de verão, eram longas as filas de pessoas que enchiam todo o tipo de recipientes para levar e gastar em casa. Eu próprio fui muitas vezes à Retorta encher garrafões plásticos que depois distribuía pelos familiares e vizinhos.
Na década de oitenta, mais ou menos há vinte e cinco anos foram conhecidas as primeiras análises bioquímicas e com espanto, tomamos conhecimento que a qualidade não era assim tão boa quanto se julgava.
A partir daí, com recolha de amostras mais ou menos regulares, várias vezes as águas foram consideradas impróprias para consumo. Essas análises devem ainda estar arquivadas na Câmara Municipal de Caminha e eventualmente no Centro de Saúde de Caminha, se entretanto não levaram sumiço.
 
Em 1998 ou 1999 estalou uma polémica sobre a construção do ramal de aceso ao IC-1 que tinha duas alternativas; ou construía-se na vertente sul do Vale do Ancora passando pelas freguesias de Freixieiro de Soutelo e Âncora ou construía-se na vertente norte atravessando os montes de Riba d`Âncora, Vile e Vila Praia de Âncora, passando esta estrada próximo da Fonte da Retorta.
Independentemente dos prós e dos contras, a estrada acabou por ser rasgada na vertente norte, passando realmente perto da Fonte e as medidas minimizadoras de impacto foram poucas ou nenhumas por parte do construtor, situação a que já estamos habituados, de abuso e prepotência dos grandes consórcios construtores, perante a passividade, negligencia e até conluio das autoridades do Estado.
 
O certo é que se começou a verificar um aumento dos teores de alumínio na água, acima dos valores máximos permitidos e não houve outro remédio senão interditar o consumo. Não faltou quem associasse este problema, que continua a aparecer esporadicamente, à abertura da estrada, com recurso a explosivos e máquinas potentes.
Porém, não se pode escamotear que na freguesia de Âncora, a vários quilómetros de distância, a Fonte do Castro também tem idêntico problema, assim como outra fonte em Venade, ainda mais distante do ramal do IC-1, problemas detectados na mesma altura.
Terá alguma relação de causa e efeito? Não me parece, mas também é certo que a construção da estrada não beneficiou em nada a Fonte da Retorta.
 
Depois do primeiro choque, da revolta e da incredibilidade gerada, hoje a Fonte da Retorta perdeu muito prestígio e muitos consumidores das suas águas, mantendo-se mesmo assim alguns indefectíveis, que asseguram que a água nunca esteve melhor.
Estive um destes dias na Fonte da Retorta e reparei que o relatório da análise da água, que está afixado em quadro próprio, é de Março passado e o único parâmetro anormal é o PH muito baixo. Todos os outros parâmetros analisados, nomeadamente o teor de alumínio, estão perfeitamente normais.
Termino lembrando que ao longo dos tempos houve gente que tentou fazer o aproveitamento económico das águas que brotam da terra durante todo o ano, um dos quais o meu avô materno, Abel Nascimento Brito, o Abel da Chocalha do qual já aqui falei, que pretendia montar uma fábrica de pirolitos, sendo então impedido porque a Fonte está implantada em terrenos privados.
 
publicado por Brito Ribeiro às 22:47

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