Ambiente, história, património, opinião, contos, pesca e humor

29
Abr 08

 

 

 

 

Panorámica de VPÂncora obtida do Monte Calvário. Do casario destaca-se a Escola do Rego. Ao fundo a Junqueira, o Rio Âncora, o Pinhal da Gelfa, a praia e o mar. O mar sempre presente.

 

Portinho no verão com mar "chão". As gamelas esperam, umas varadas em terra, outras já prontas para a faina da sardinha.

 

Os "truques" fundeados no Sabugo. Ao fundo o Porto Novo.

 

Outro angulo do Portinho e Av. Ramos Pereira

 

Forte da Lagarteira e barcos tipo "Poveiro" em 1915

 

O sol a cair, mas o trabalho continua.

 

Uma maresia de inverno com o mar a passar sobre os molhes.

 

 

publicado por Brito Ribeiro às 11:44

25
Abr 08
O Alípio e o Tone da Águas estiveram presos duas semanas em Melgaço, depois da guarnição da guarda-fiscal ter passado pela aldeia e revirado tudo sem nada encontrar que incriminasse quem quer que fosse. Estes dois foram levados como podiam ter sido outros, que todos sabiam contrabandistas, se contrabandista se pode chamar aos passadores de mercadorias para lá e para cá e que apenas ganhavam a jorna. Os verdadeiros contrabandistas eram outros que, tal como hoje, não davam a cara e raramente se aproximavam da raia.
Pelo meio, viviam os guardas, quase todos recebiam uma parte dos ganhos para fazerem vista grossa e para os avisarem quando havia perigo.
De vez em quando aparecia um ou outro guarda que combatia ferozmente o estado das coisas, mas que invariavelmente acabava por ser “amaciado”. No caso de ser um graduado era mais difícil, geralmente tinham de esperar que fosse transferido para outro lado.
O país estava em efervescência, as eleições presidenciais tinham sido disputadas pelo Humberto Delgado e a vitória do novo delfim de Salazar, o Almirante Américo Thomaz, tinha o gosto e o cheiro acre da fraude eleitoral. A repressão policial não se fez esperar e os oposicionistas foram implacavelmente perseguidos.
Na cadeia, o Alípio levou algumas bastonadas mas aguentou firme, repetiu sempre a mesma cantiga, “trabalho no campo de sol a sol, não tenho tempo para contrabandos”, “isso é nas outras aldeias, na minha aldeia não há disso”, “não sei de nada, de noite estou a dormir”. O tenente quando viu que nada lhes conseguia tirar e que apenas tinha entre mãos peixe miúdo, libertou-os com a ameaça dos maiores castigos e tormentos, se lhes pusesse outra vez a vista em cima.
 
Ao chegarem à aldeia um profundo silencio os acolheu. Estavam todos reunidos em frente à igreja e o Alípio depois de abraçar a mulher, os filhos e a irmã, foi sucessivamente abraçado por todos os presentes.
A certa altura interrogou-se “será que o Judas também me veio beijar”, mas afastou esse pensamento, pois agora estava quase convencido que apenas tivera muito azar, pois o mais certo era terem tropeçado neles quando procuravam outros contrabandistas mais importantes.
Durante meses a rede de passadores da aldeia esteve inactiva, o tenente volta e meia reaparecia e redobrava as ameaças, na expectativa de obter informações. Soube-se que tinham matado dois homens para os lados de Castro Laboreiro e os carabineiros espanhóis tinham feito uma rusga na qual prenderam mais de uma dúzia de mulas carregadas com ovos, café em grão e barras de sabão.
Dizia-se que tinha sido o tenente que tinha forçado os espanhóis a agir. Seria verdade? Era o que constava e o Alípio que tinha ido a Lamas de Mouro comprar semente para a próxima primavera, ouvira esta versão na venda do Grémio.
O tempo passava devagar e a tensão subia lentamente.
Nunca a pressão da Guarda tinha sido tão intensa, nem a incerteza no futuro tinha sido tão grande. Falava-se agora em ir trabalhar para França, já tinham ido alguns, sem papéis e sem haveres, ao Deus dará. Parte deles tinham sido apanhados e devolvidos pelos espanhóis, um grupo já estava a passar os Pirenéus, que diziam ser maiores que o Gerês, maiores que a Serra da Estrela.
 
Todos matutavam na forma de apartar o tenente do caminho e vingar as humilhações sofridas ao longo dos últimos meses. Um dia o Alípio foi a Melgaço e no posto da Guarda-fiscal pediu para falar com o tenente, mas informaram-no que não estava, tinha ido em serviço a Monção, só devia voltar passados dois ou três dias. Montou o cavalo e regressou a tempo de ajudar a Olímpia a lavrar o”Beirado de Baixo”, o terreno onde, ano após ano, semeavam batatas e que eram das melhores das redondezas.
Na semana seguinte voltou a procurar o comandante do posto e, depois de esperar mais de duas horas, fizeram-no entrar no gabinete onde o tenente o esperava.
- Então, que queres?
- Lembra-se de mim, senhor tenente?
- Achas que me ia esquecer de um malandro como tu? Diz o que queres, que não tenho a tua vida.
- O senhor não quer informações sobre os contrabandistas?
- Hum… E tu o que é que sabes? Bem me parecia que sabias mais do que dizias! Fala!
- Eu não sei nada, venho apenas dar-lhe um recado.
- Um recado? De quem?
- Sei lá, não o conheço.
- O quê? Estás a gozar comigo?
- Deus me livre, senhor tenente. Eu explico, na semana passada apareceu um homem em Lamas de Mouro, lá na venda e propôs-me vir aqui dar-lhe um recado. Pediu-me para lhe dizer que os contrabandistas que você persegue o tinham expulsado sem motivo e ele queria vingar-se. Por isso está disposto a falar, a dizer-lhe tudo o que sabe.
- Ai sim? E quem é esse tipo?
- Já lhe disse que não sei, mas ouvi dizer na venda que era de Caminha ou Seixas, não sei bem.
- Então diz lá a esse tipo que pode vir aqui.
- Não!
- Não? – Admira-se o tenente.
- Se ele quisesse vir aqui não me tinha dado cem mil reis pelo frete.
- Então que raio quer ele? Não sabe que eu é que sou o comandante…
- Sabe sim, senhor tenente, mas é que ele tem medo dos seus companheiros, quer dizer dos seus antigos companheiros. Ele disse-me que espera por si no próximo domingo na aldeia da Gave ao pé do cruzeiro, às dez da noite. Se aparecer só e me prometer que não lhe faz mal e o deixa ir em paz, ele lá estará à sua espera. De contrário não há acordo.
- Então o patife ainda dá ordens?
- Isso não sei, não é nada comigo. Então que lhe digo?
- Diz-lhe que estarei lá, mas à mínima suspeita, abato-o logo com um tiro.
- Esteja tranquilo senhor tenente, ele não me pareceu homem de violências.
 
publicado por Brito Ribeiro às 19:47
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23
Abr 08
Com a publicação deste post terminam os textos sobre o percurso de Portugal e dos Portugueses desde 1910 até 1975. Trinta e quatro anos depois do 25 de Abril de 1974 há muitos factos históricos e muitas personalidades que cairam no esquecimento, tantas vezes involuntário, tantas outras intencionais, com a colaboração de agentes do Estado que deveriam zelar pelo conhecimento e esclarecimento da nossa história contemporânea.
Junta de Salvação Nacional
 
Órgão de governo provisório instituído em Abril de 1974 pelo Movimento das Forças Armadas no momento da vitória. Constituíam-no sete oficiais superiores e generais dos três ramos das Forças Armadas: António de Spínola, Francisco da Costa Gomes e Silvério Marques, do Exército; Pinheiro de Azevedo e Rosa Coutinho, da Armada; Galvão de Melo e Diogo Neto, da Força Aérea.
A sua missão seria a de implementar o Programa do MFA, que naquela mesma data era publicamente anunciado, e que se poderia sintetizar na conquista de três Ds: Desenvolvimento, Democratização e Descolonização.

Assim, coube à Junta de Salvação Nacional a efectivação de diversas medidas destinadas a modificar as condições da vida económica, social e política nacional: dar os primeiros passos no sentido da construção de uma política económica e social ao serviço das classes trabalhadoras (fixação do salário mínimo nacional); assegurar as condições mínimas para o exercício das liberdades políticas, o que se traduz na autorização do regresso de exilados (Mário Soares, Álvaro Cunhal e muitos outros), na formação livre de partidos políticos (formar-se-ão dezenas de partidos das mais diversas orientações, ao mesmo tempo que emergem à luz do dia os clandestinos), na garantia da liberdade de acção sindical, no reconhecimento do direito à greve e na realização de eleições para uma Assembleia Constituinte que dotasse o país de uma nova Constituição; reconhecer o direito dos povos das colónias à independência e encetar os contactos diplomáticos e negociações necessários para se atingir esse objectivo.
O primeiro presidente da Junta de Salvação Nacional foi o General António de Spínola, que seria nomeado Presidente da República em 15 de Maio de 1974, precisamente no dia em que é nomeado o I Governo Provisório, que toma posse no dia seguinte.
A inflexão da política interna portuguesa para a esquerda virá, no entanto, a provocar desassossego entre camadas mais conservadoras receosas das tendências para o controle operário e a colectivização e nacionalização da economia.

O receio perante a forte influência das forças de esquerda dá origem a dois acontecimentos graves, em que a figura de António de Spínola se apresenta como factor de união de tendências díspares: a manifestação da "maioria silenciosa" de 28 de Setembro de 1974, neutralizada nas ruas, que leva à demissão de Spínola e à sua substituição por Costa Gomes; e o golpe militar de 11 de Março de 1975, rapidamente anulado por um contragolpe militar com participação de elementos civis, que força Spínola ao exílio.
É nesta última data que a Junta de Salvação Nacional é extinta, sendo substituída pelo Conselho da Revolução, que assume todas as funções e poderes do órgão extinto mas tem uma composição política diferente.
 
 
Zeca Afonso
 
José Manuel Cerqueira Afonso dos Santos, nascido a 23 de Fevereiro de 1929 em Aveiro e falecido em 1987, foi estudante na Faculdade de Letras de Coimbra, tornando-se notado pelas suas interpretações do fado típico daquela cidade, não apenas pela qualidade da sua voz mas desde logo pela originalidade que emprestava às suas interpretações.

Essa mesma originalidade se manifestará ao longo da sua fértil obra, em que se podem encontrar canções populares de diversas regiões do País, sempre recriadas de modo inventivo, com recurso frequente a instrumentos tradicionais ou até a instrumentos e ritmos exóticos, e ainda originais criados com a finalidade de intervir na vida social e política nacional.
Ficaram célebres canções como "Os Vampiros", forte e subtil ataque à rapacidade dos detentores do poder, ou "Menino do Bairro Negro", poética denúncia da pobreza e da exclusão social, ou ainda "Grândola Vila Morena", profissão de fé na democracia, que viria a celebrizar-se como hino não oficial da Revolução de 25 de Abril de 1974.
Noutras composições, o objectivo político era claramente marcado pela forma de intervenção do autor-cantor, que as interpretava em realizações culturais ou políticas de declarada oposição ao regime (na greve estudantil de Coimbra, em 1969, por exemplo).

Apesar de galardoado por três vezes consecutivas (1969, 1970 e 1971) com um prémio oficial, a sua produção viria a ser banida dos meios de comunicação, dado o seu conteúdo indesejável para o regime; por essa mesma ordem de razões (talvez mais do que pela inovação musical), a sua popularidade viria a crescer após a reimplantação da democracia.
 
publicado por Brito Ribeiro às 13:43
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21
Abr 08
O capitão de um navio espanhol em manobras perto da costa norte de Portugal avistou uma luz distante e resolveu enviar uma mensagem via rádio.

Essa mensagem foi captada e gravada por um radio-amador português:
" Aqui é o almirante J. Alonso. O curso do seu navio está em rota directa com o nosso. É favor alterar o seu curso 15 graus para norte.
Câmbio".

O português respondeu:
"Vocês é que estão em rota de colisão connosco. Alterem o vosso curso 15 graus para sul".

O almirante espanhol ficou irritado e respondeu:
"Nós é que exigimos que vocês alterem o vosso curso 15 graus para norte".

O português insistiu.
"Alterem o vosso curso 15 graus para sul".

O almirante (nuestro hermano) ficou irritadíssimo e disse:
"AQUI É DO REAL IBER ESP. O MAIOR PORTA AVIÕES DE GUERRA DA PENÍNSULA,DA REAL MARINHA ESPANHOLA E ESTAMOS EM MANOBRAS COM MAIS 2 FRAGATAS, 2 DESTROYERS E NUMEROSOS NAVIOS DE APOIO. NÓS EXIGIMOS QUE IMEDIATAMENTE MUDEM DE CURSO 15 GRAUS PARA NORTE. ESTAMOS PREPARADOS PARA TOMAR TODAS AS CONTRA - MEDIDAS QUE FOREM NECESSÁRIAS PARA GARANTIR A SEGURANÇA DOS NOSSOS HOMENS E DOS NOSSOS NAVIOS.
CÂMBIO".

E o português respondeu.
"Aqui é do Farol de Montedor. Façam o que entenderem.
Câmbio".
publicado por Brito Ribeiro às 17:47
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18
Abr 08
 
Um dos assuntos que está na ordem do dia é o denominado acordo ortográfico e a sua implementação. Confesso que até fico admirado, pois este país está cada vez mais hipotecado às novelas, às parvoíces do João Jardim e às broncas do futebol.
Mesmo assim, o acordo ortográfico ganhou algum espaço de debate pois ainda há quem se interesse por estas coisas da Língua, a mesma que Camões cantou há quinhentos anos.
 
Por princípio não tenho qualquer rebuço em aceitar uma evolução linguística, um esforço de uniformização se este for imprescindível, mesmo reconhecendo que a Língua Portuguesa tem hoje várias faces, tantas quantos os países que a tem por língua oficial.
É impensável legislar no sentido de pôr um Angolano ou um Brasileiro a falar ou a escrever da mesma forma que um Português. Nem é possível e, mesmo que fosse, considero uma rematada asneira quebrar um vínculo cultural, cortar uma raiz à árvore da sua história.
 
Assim, não vejo qualquer interesse na assinatura deste acordo ortográfico e é curioso, que mesmo os seus defensores têm sérias dificuldades em encontrar argumentos científicos na sua implementação, exceptuando o argumento velho e caduco do “interesse político” de cooperação e aproximação entre os diversos países.
A estes interesses subjectivos, muita gente opõe o rigor linguístico e o bom senso que parece desaparecido, nesta cedência neo-colonial aos interesses brasileiros.
 
Interesses de índole comercial onde as grandes editoras desse país se preparam para “assaltar” o mercado Africano e Português, que terão em breve de renovar tudo quanto é compêndio escolar, dicionário, gramática, enciclopédia, documento oficial e formulário institucional. Mas o governo português está disposto a ceder sem ter escutado os linguistas, os estudiosos, todos aqueles que bom uso dão à Língua Lusa, o que se revela um péssimo contributo para a defesa do património cultural de Portugal.
 
Por mim, que não sou linguista, mas que trabalho a palavra, não estou disponível para aceitar uma nova forma de falar ou de escrever, apenas por decreto de interesse político.
Qualquer alteração à Língua terá de ser sempre gradual e parte da rua, do cidadão para a regra e não o contrário, como nos querem impor.
publicado por Brito Ribeiro às 22:17
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17
Abr 08
Localização
Viana do Castelo, Caminha, Moledo
  
Protecção
Não definido
 
Enquadramento
Urbano, isolado, no centro de Moledo, implantação harmónica, situado num largo constituído pela encruzilhada de três arruamentos do aglomerado.
 
Descrição
Cruzeiro com soco constituído por dois degraus de planta quadrangular com pinos cantonais formando um círculo, sobre o qual assenta um pedestal paralelepipédico, composto por plinto, dado moldurado, monolítico, e cornija igualmente moldurada.
O dado apresenta, dentro de cartela em losango, a inscrição, em três regras: "O S DOS N / C G(?) C F I(?) A / DO".
O fuste, alto, monolítico, de secção circular, colocado sobre uma base, apresenta no seu terço inferior um motivo entrelaçado, composto por losangos, sendo o restante com caneluras, conservando a meia altura um relógio de Sol.

Está encimado por um capitel toscano sobre o qual assenta um plinto rematado por uma esfera com caneluras, cruz latina de secção quadrangular com chanfro, com o remate das hastes em forma de botão.
A cruz apresenta na face frontal a representação escultórica do Senhor na Cruz, de pés sobrepostos, sobrepujado por cartela. Na face oposta, sobre o capitel, está uma imagem da Nossa Senhora da Conceição, assente sobre querubins.
 
Utilização Inicial
Devocional. Cruzeiro
 
Utilização Actual
Devocional. Cruzeiro
 
Propriedade
Pública: municipal
 
Época Construção
Século XVIII
 
Arquitecto | Construtor | Autor
Não definido
 
Cronologia
1778 - data inscrita no pedestal.
 
Tipologia
Arquitectura religiosa, barroca. Cruzeiro de encruzilhada barroco com pedestal paralelepipédico monolítico, fuste circular, monolítico, capitel toscano e cruz latina de secção quadrangular, apresentando representação escultórica em ambas as faces.
 

Características Particulares
Relógio de sol no fuste; representação do Senhor na Cruz na face principal da cruz e de Nossa Senhora da Conceição na posterior. Este cruzeiro tem grandes semelhanças formais com o Cruzeiro do Senhor do Amparo, em Vila Praia de Âncora.
 
Dados Técnicos
Estrutura autoportante.
 
Materiais
Estrutura em granito.
 
 
publicado por Brito Ribeiro às 15:41

14
Abr 08
De semana em semana, as novidades sucedem-se na Liga Portuguesa de Futebol. A maledicência, as desculpas esfarrapadas face ao insucesso desportivo, as suspeitas veladas ou descaradas, a mediocridade e a má gestão de alguns clubes, andam de mão dada com casos que a investigação não esclarece e a justiça não julga.
 
Parece (e é) mais importante manter ad eternum a suspeita, que resolver o problema. E assim proliferam os “apitos”, as escutas sem valor judicial, as declarações bombásticas que nada dizem, uma verdadeira pescadinha de rabo na boca, onde tudo regressa sempre ao início.
 
Depois da mais recente derrota do Benfica na Luz frente à Académica de Coimbra com quem perdeu por uns expressivos 0-3 e baixar para quarto lugar na classificação da campeonato, parece ser mesmo necessário chamar a polícia, dando assim razão ao presidente encarnado, que uns dias antes, após o jogo com o Boavista, declarou que a Polícia Judiciária tinha de entrar no futebol.
 
E eu concordo! Em primeiro lugar para averiguar que raio beberam ou fumaram os jogadores do Benfica antes do jogo. Em segundo lugar para procurarem o presidente que após ter chamado pela polícia, ainda no Bessa, desapareceu para não mais ser visto. Em terceiro lugar porque os espectadores pagaram para ver futebol e assistiram a dois meios tempos de circo e teatro, configurando um crime de burla, esta palhaçada frente à Académica.
 
Poderá a Judiciária iniciar as investigações inquirindo o habitual e costumeiro suspeito do Norte, uma forma de desviar as atenções, enquanto os incompetentes (do costume) olham para o umbigo e fanfarronam mais uma vez o estafado slogan, “para o ano é que é”.
publicado por Brito Ribeiro às 19:26
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11
Abr 08
A acção passa-se na Serra do Soajo, Concelho de Melgaço em 1958. Devido à extensão do conto, dividi-o em várias partes, que irão ser publicadas semanalmente.
Bebeu o vinho que restava na tigela, resmungou uma despedida para o Félix, o dono da taberna e encaminhou-se para a saída. Parou junto à mesa onde se jogava à sueca, enrolou um cigarro, apreciou algumas vazas, trocou um olhar com o Carlos, um olhar que pretendia ser casual.
O estabelecimento era grande, de um lado a taberna, os pipos alinhados na parede do fundo, o balcão forrado a zinco onde os clientes se encostavam Destacava-se o pequeno armário envidraçado onde habitualmente tomavam lugar os pratos com as iscas, as pataniscas ou postas de peixe frito.
Do outro lado ficava a mercearia, com as tulhas em madeira, os fardos e as seiras, o medidor do azeite, a balança, os livros do fiado por baixo da gaveta do dinheiro. Do lado da taberna duas grandes mesas com bancos corridos, pouso dos jogadores de cartas e dominó. Eram quase sempre os mesmos, a aldeia era pequena e os afazeres do campo não deixavam muito tempo livre. Nas épocas de maior labor como nas lavradas, na poda da vinha ou nas colheitas, só mesmo ao domingo é que se juntava mais gente, vindo até das aldeias em redor provar a pinga e os petiscos do Félix.
 
Saiu para o caminho, piscou os olhos por causa do sol, puxou o boné para baixo, encaminhou-se para casa, já fora da aldeia. Na última volta do caminho, onde o velho castanheiro do Tio Rapão espalhava sombra, sentou-se sobre o estrado de um carro de bois ali desatrelado. Com a navalha entreteve-se a aparar um pauzinho, fazendo tempo para o encontro que se adivinhava.
O Carlos chegou afogueado, tirou o velho chapéu de feltro, limpou o suor da testa à manga da camisa.
- Vamos ali para trás – diz-lhe o Alípio – Espero que não tenhas dado nas vistas…
- Pensas que nasci ontem?
Passaram a cancela de madeira tosca e foram-se abrigar debaixo da vinha frondosa, onde já despontavam pequenos cachos de uvas.
- Então? – Questiona o Carlos.
- Então, esse filho da puta do tenente não ia adivinhar sozinho por que banda íamos passar. Se soubesse quem foi o malandro que o avisou, já lhe tinha dado um tiro.
- Ó homem, assim ainda te desgraças…
- Pelo menos ficavam todos a saber que não admito traidores. Sim, traidores, porque isto foi obra de um dos nossos.
- Podia não ser, podiam ser os de Cochos que falaram. Sabes que eu não me fio desses galegos! Até podiam ter sido os de Fiães. Sei lá!
- Não acredito, isto é obra de alguém cá da terra. Se Deus quiser hei-de encontrar o bandido e logo ficará sem vontade de ir bufar à Guarda. Malditos! – Vocifera o Alípio – Fizeram-nos perder toda a carga e ainda perdemos a mula do Zé Albino que caiu à mina. Vais a Fiães e deixa-te ficar por lá até ao fim da tarde. Conversa como se nada tivesse acontecido. Encontramo-nos aqui, à noite, quando se puser a lua, mais o Tone das Águas e o Barbeitas. Já sabes, nem uma palavra a ninguém sobre a desgraça da noite passada.
 
Como em muitas aldeias da raia galega, o contrabando era a forma de aliviar a miséria da vida dependente da agricultura. As terras eram pobres, o clima agreste, de verão uma torreira de sol, no inverno tudo branco de neve ou queimado pela geada traiçoeira. Os mais novos tinham abalado para Lisboa e alguns até para o Brasil, mas aqueles que tinham mulher e filhos, por aqui se aguentavam, tirando a custo o pouco sustento que a terra consentia dar.
Montes de agrestes pendentes, salpicadas de áspero granito, onde as cabras se empoleiram, onde os lobos espreitam, os garranos pastam em manadas ariscas, onde o milhafre e a águia vigiam das alturas, assim era aquela terra.
Pequenos pastos de erva amarelada mostravam que a seca ia prolongada, bom para o vinho, mal para o milho que tardava a engrossar a espiga.
 
Foi direito à loja onde guardavam as ferramentas, pegou na enxada, pô-la ao ombro e juntou-se à Olímpia e à Maria Rita, respectivamente sua mulher e sua irmã, que com eles vivia. Ambas manejavam a enxada entre as fileiras de milho, desalojando com golpes certeiros o gramão, a junça, os saramagos e outras ervas bravas.
 
Em casa os candeeiros já tinham sido apagados há muito, todos descansavam menos o Alípio, que fumava um cigarro sob a luz baça da lua, filtrada pela latada de vinha que cobria as escadas de pedra. Pacientemente esperava; esperava que a lua desaparecesse, esperava por novidades que os seus homens lhe haviam de trazer, esperava por saber quem era o malandro que os tramara. Podia desconfiar de todos, mas daí a ter certezas ía um passo muito grande. Não lhe saía da cabeça que quem os atraiçoara uma vez, podia muito bem voltar a atraiçoá-los outra e outra vez.
O sino da igreja badalou duas vezes, eram dez e meia, a lua já se aninhava por detrás dos montes do Soajo. No ponto de encontro aguardava o Barbeitas, um homenzarrão com físico de gladiador romano, que adornava a feia carantonha com uma barba espessa.
- Ainda não chegaram os outros? – Pergunta o Alípio, só para fazer conversa.
- Devem estar a chegar… Parece que oiço barulho…
- Também eu, devem ser eles.
Chegaram, sentaram-se no chão e o Carlos começou a contar as novidades.
- Não se falava noutra coisa em Fiães. Todos comentavam a apreensão que o novo tenente da Guarda de Melgaço fizera a noite passada. Mas eles pensam que a carga vinha por conta dos Cunhas, a mim até me perguntaram se tinha visto algum deles por aqui.
- Por aqui?
- Sim, parece que andam fugidos. Logo de manhã foram às casas deles, revistaram tudo e não os encontraram. Segundo dizem, foi esse tenente que comandou a rusga e chegou a dar umas chicotadas ao filho de um deles, um miúdo, para ver se o rapaz falava. Ainda troquei umas palavras às escondidas com o Mendes, disse-me que este tipo veio da Régua e é dos que não come, nem deixa comer. Um animal da pior espécie!
- Mas afinal soubeste como eles deram connosco? Quem é que bufou?
- Não pude falar à vontade, mas o Mendes garantiu-me que ficaram surpreendidos ao darem connosco. O tenente tinha-lhes dito que iam apanhar uma carga de café que ia para lá. Ah… ele disse-me para te avisar, que temos de estar quietos umas semanas até isto sossegar e que não tardarão a fazer uma ronda por aqui.
- Então é melhor tirarmos do teu palheiro o que sobrou e mudar para outro lado, fora da aldeia, senão ainda nos encontram a mercadoria.
 
publicado por Brito Ribeiro às 14:31
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09
Abr 08
 
Vinte e Cinco de Abril de 1974
 
A Ditadura Militar instituída em 28 de Maio de 1926 deu origem, volvidos meia dúzia de anos, ao Estado Novo, idealizado e gerido por Salazar.
Afastado este do poder, por doença incapacitante, a chefia do governo é entregue a Marcello Caetano, que, entre outros problemas por resolver, herda uma guerra colonial em três frentes, sem solução militar à vista nem vontade política de optar por uma solução política negociada.
Cansados da guerra, os militares profissionais encetam movimentações de carácter corporativo que rapidamente se transformam em reivindicações políticas, acabando por encarar como única saída o derrube do regime pela força.

Será o Movimento das Forças Armadas (MFA) que irá desencadear uma revolta militar em grande escala, conseguindo derrubar o regime sem o emprego da força e sem causar vítimas. Depois de uma tentativa frustrada, protagonizada pelo Regimento de Infantaria das Caldas da Rainha, em 16 de Março de 1974, o processo revolucionário acelera.
Na noite de 24 para 25 de Abril, duas estações de radiodifusão lançam para o ar duas canções que irão adquirir um simbolismo particular (E Depois do Adeus, interpretada por Paulo de Carvalho, que soa como uma despedida do governo marcelista, e Grândola, Vila Morena, interpretada pelo poeta banido José Afonso, um conhecido opositor do regime, canção esta que transporta uma mensagem de conteúdo democrático ao evocar a vilazinha de Grândola, onde "o povo é quem mais ordena"), desencadeando as operações militares, superiormente coordenadas pelo major Otelo Saraiva de Carvalho.

Em perfeita coordenação, elementos envolvidos na conspiração tomam conta das respectivas unidades, formam colunas de voluntários, convergem para os grandes centros e ocupam todos os pontos estratégicos do país, colocando as forças fiéis ao governo em posição de desvantagem e na defensiva. Sem disparar um tiro, cobrem praticamente todo o país.
Dois momentos de tensão apenas se registam naquela primeira fase, ambos em Lisboa, ambos protagonizados por um jovem capitão de Cavalaria, Salgueiro Maia - um encontro com um destacamento de blindados obediente ao Governo, que por pouco não redunda em acção de fogo, mas que se resolve quando as tropas envolvidas se colocam às ordens de Salgueiro Maia; outro, horas mais tarde, quando o mesmo oficial manda abrir fogo sobre a parede exterior do quartel da GNR no Carmo, como forma de "persuadir" Marcello Caetano, lá refugiado, a render-se. O chefe do Governo acaba por se render ao General António de Spínola, com medo de que o poder "caísse na rua", e a tensão desce.
Só um incidente irá manchar os acontecimentos: agentes da DGS, barricados na sua sede, abrem fogo sobre manifestantes, causando alguns mortos e feridos. Apesar da sua brutalidade, não passa de um acto de desespero, não sendo sequer um acto de defesa do regime. Tal como a Monarquia em 5 de Outubro de 1910 e a República em 28 de Maio de 1926, um regime cai por não ter já quem o defenda e queira dar a vida por ele.

Algumas horas após a transmissão de poderes de Marcello Caetano para as mãos de Spínola, constitui-se um órgão governativo provisório, com representação de todos os ramos das Forças Armadas (a Junta de Salvação Nacional; os militares subalternos que acabavam de fazer triunfar a revolução do "Movimento dos Capitães", em nome do respeito pelas hierarquias, entregavam o poder nas mãos de oficiais generais.
Nos meses que se irão seguir, o país assiste a uma movimentação febril sem precedentes: constituem-se partidos das mais diversas orientações, fazem-se e desfazem-se alianças, manifesta-se a força das organizações sindicais, floresce uma variadíssima imprensa livre, a vida social sofre transformações de um extremo e inesperado radicalismo; estabelecem-se relações diplomáticas com todos os países do globo; procede-se à descolonização por via negocial) mas também se vive o perigo dos golpes militares de orientações diversas, surge o terrorismo como método político e o país chega a sentir-se ameaçado pela guerra civil, até que, nos finais de 1975, se alcança uma situação que permite caminhar para a estabilização de um sistema político democrático.
Nestes meses de vida política e social agitada, alguns acontecimentos marcantes assinalam as viragens sucessivas da evolução política: a manifestação pró-spinolista da "maioria silenciosa" de 28 de Setembro de 1974, que conduz à renúncia de Spínola; o golpe militar spinolista de 11 de Março de 1975, travado por um contragolpe, que dá início a uma fase de grande tensão (o "Verão quente" ou PREC), e por fim o golpe militar lançado por forças esquerdistas em 25 de Novembro de 1975, prontamente anulado por um contra-golpe que instala no poder forças políticas que irão proporcionar a consolidação da democracia parlamentar.
 
 
 
publicado por Brito Ribeiro às 10:08
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05
Abr 08
Localização
Viana do Castelo, Caminha, Âncora, Lugar de Laboradas
 
Protecção
Não definido
 
Enquadramento
Rural, isolado, encosta de pendor suave sobranceira à orla marítima, confrontando com o Pinhal da Gelfa, junto ao entroncamento da EN 13 com um caminho velho que conduz a Afife (em frente ao Complexo Turístico Sereia da Gelfa).
 
Descrição
Cruzeiro com soco, formado por um degrau de forma irregular, constituído pelo afeiçoamento do afloramento granítico, sobre o qual assenta um bloco paralelepipédico, com peça autónoma, de contorno frontal, saliente, de formato subcircular, com orifício quadrangular para encaixe da caixa de esmolas, já inexistente.
Este soco suporta um pedestal paralelepipédico, composto por plinto, dado monolítico, e cornija decorada. O fuste, alto, monolítico, pseudosalomónico, colocado sobre uma base, está encimado por um capitel compósito, sustentando uma cruz latina de secção quadrangular, tendo na face frontal a representação escultórica do Senhor na Cruz, de pés sobrepostos, sobrepujado por cartela com a inscrição: INRI.
 

Utilização Inicial
Devocional. Cruzeiro
 
Utilização Actual
Devocional. Cruzeiro
 
Propriedade
Pública: municipal
 
Época Construção
Século XVIII (conjectural)
 
Arquitecto | Construtor | Autor
Não definido
 
Tipologia
Arquitectura religiosa, setecentista. Cruzeiro de encruzilhada setecentista com pedestal paralelepipédico monolítico, fuste salomónico, monolítico, capitel compósito e cruz latina de secção quadrangular, apresentando a representação escultórica do Senhor na Cruz.
 
Características Particulares
Degrau afeiçoado no afloramento; peça pétrea autónoma para sustentação da caixa de esmolas; fuste salomónico.
 
Dados Técnicos
Estrutura autoportante.
 
Materiais
Estrutura em granito.
 
 
 
 
publicado por Brito Ribeiro às 19:30

Abril 2008
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