Estando prestes a passar 50 anos sobre a morte do Almirante Ramos Pereira, entendeu a Câmara Municipal de Caminha e a Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora, prestar homenagem a este brioso militar, lutador antifascista e filantropo. Em hora boa issso acontece, pois nunca é demais recordar e exaltar a memória dos Grandes Ancorenses.
O Almirante Ramos Pereira foi um dos filhos mais ilustres do Concelho de Caminha. Nascido em Vila Praia de Âncora, casou a 11 de maio de 1939 com Maria da Graça Lopes de Mendonça, neta do poeta Henrique Lopes de Mendonça, autor do Hino Nacional. Não tiveram descendentes.
A identificação da família Ramos Pereira com Vila Praia de Âncora é bem patente na toponímia, chegando a criar alguma confusão devido à atribuição do seu nome a várias artérias desta vila (Rua Contra Almirante Ramos Pereira, Avenida Dr. Ramos Pereira e Parque Dr. Ramos Pereira).
Filho do médico Luís Inocêncio Ramos Pereira, nasceu em Vila Praia de Âncora, concelho de Caminha, a 6 de abril de 1901. O seu avô paterno era o Comendador José Bento Ramos Pereira, a quem se deve a construção da primeira escola de Riba d’ Âncora.
Frequentou o Colégio Militar e após dois anos de serviço no Exército, ingressou na Escola Naval, onde concluiu o curso de Marinha como primeiro classificado.
Promovido a Guarda-Marinha em fevereiro de 1924, efetuou vários embarques como oficial subalterno, dos quais se destaca uma comissão no Extremo Oriente, entre 1930 e 1932, a bordo do cruzador "Adamastor". Nessa comissão começou a revelar um grande interesse pelas radiocomunicações, tendo sido louvado pela sua ação técnica na direção da instalação elétrica e dos equipamentos rádio do navio.
Foi colocado na Direção do Serviço de Eletricidade e Comunicações em outubro de 1932. Ali viria a permanecer cerca de 21 anos, apenas interrompidos por duas comissões de embarque como Imediato dos contratorpedeiros "Lima" e "Douro", entre 1935 e 1936. Durante esse longo período, desenvolveu um significativo trabalho na progressão das comunicações rádio, dirigindo a construção e experimentação de novos equipamentos (atividade em que se valeu da sua experiência de radioamador) e organizando cursos para oficiais, sargentos artífices e praças. Entre as várias publicações técnicas que elaborou, destaca-se um compêndio de radioeletricidade editado em 1952, que serviu de base de apoio a vários cursos. Foi também responsável pela reorganização e modernização, em equipamento e instalações, da rede de estações radionavais da Marinha.
Passando, sucessivamente, pelos cargos de Secretário, Subdiretor e Diretor, deixaria a Direção do Serviço de Eletricidade e Comunicações em fevereiro de 1954, já como Capitão-de-Fragata, para exercer o comando do aviso de 2ª classe "João de Lisboa", enviado em missão de soberania à Índia portuguesa, por ocasião das graves perturbações ali ocorridas naquele ano.
Regressado à Metrópole em 1956, ano em que foi promovido a Capitão-de-Mar-e-Guerra, passou pelo Estado-Maior Naval, antes de ser enviado a frequentar o Naval Command Course no United States Naval College.
Em junho de 1958, foi nomeado Subdiretor do Instituto Superior Naval de Guerra, ascendendo a Diretor, já no posto de Comodoro, no início de 1960. Empreende, então, profundas alterações na organização daquele Instituto, tendo sido responsável pela sua mudança para as instalações definitivas, na Rua da Junqueira. Promovido a Contra-Almirante em julho de 1960, viria a pedir a sua demissão na sequência de um discurso do Ministro da Marinha, aquando da abertura solene do ano letivo 1961-62, que considerou atentatório do seu brio profissional.
Passa à Reserva em abril de 1966, tendo, ainda, exercido as funções de Diretor do Museu da Marinha, entre 1968 e 1971. Em outubro de 1969 candidata-se a deputado pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo na lista da Oposição Democrática. Em 1973 fez parte da comissão nacional do III Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro.
Nos últimos anos da sua vida desenvolveu uma intensa atividade intelectual, quer na vertente técnico-científica quer, principalmente, na vertente cultural. Foi Presidente da Assembleia Ancorense e da Fundação Vila Praia de Âncora que auxiliava jovens a prosseguir estudos e foi um dos dez fundadores do Centro de Estudos de História Marítima, mais tarde designado por Centro de Estudos de Marinha, que daria, em 1978, origem à Academia de Marinha.
Entre os vários trabalhos que publicou, maioritariamente de cariz técnico, avulta, no campo da História, um estudo sobre a vida de Gago Coutinho, que publica em 1973. Também se debruçou sobre a figura de Fontoura da Costa, sendo ainda de mencionar o seu interesse pelo património arquitetónico da Marinha.
Faleceu em Lisboa, no Hospital da Marinha, na sequência de um carcinoma estomacal, no dia 16 de março de 1974. Doou à Junta de Freguesia de Vila Praia de Âncora as suas fardas de gala, insignias, condecorações e espada.
Entre as diversas condecorações com que foi distinguido, destaque para a Ordem Militar de Avis (Oficial - 1941, Comendador - 1943 e Grande Oficial - 1960) e, a título póstumo, pelo presidente da República Ramalho Eanes, com o grau de Comendador da Ordem da Liberdade. Em 1982 foi descerrado um busto do Almirante na sua terra natal, Vila Praia de Âncora.
A sua memória foi ainda homenageada com a atribuição do seu nome à estação radionaval da Apúlia, hoje desativada.
Fontes: Blogue do Minho e "Almirante Jorge Ramos Pereira" de Glória Maria Marreiros